quinta-feira, 25 de junho de 2009

O TRISTE FIM DO REI DO POP


O mundo está atônito com a morte de Michael Jackson. As pessoas parecem ainda não acreditar. Mas o fato é que desapareceu hoje o rei do pop. Vejam bem: do pop, não do rock. Não há como colocá-lo no mesmo time dos Beatles e de Elvis, só para citar os dois maiores gênios do rock. Um ataque cardíaco fulminante, aos 50 anos. As notícias chegam aos poucos, nem sempre precisas. Isso mesmo em tempos de internet, em que a mídia quase antecede ao próprio fato. É que, como tudo na vida de Michael, há megalomania até na hora da morte. O hospital em que o levaram foi isolado. Lá dentro só alguns médicos e os familiares do astro. Que se danem os outros pacientes e seus parentes. Jacko fecha o local. Assim como fechou os hotéis onde passou, mesmo se unicamente para exibir ao mundo, em rede, cenas deploráveis como aquela em que pendurou seu filho pela janela. Hoje as tevês reapresentaram, com algum deleite, a imagem do bebê balançando as perninhas, no alto de um hotel em Berlim.

Assim foram os últimos anos de Michael Jackson. Sua decadência artística andou junto, em paralelo, com a física. Sua carreira-solo se resume em dez álbuns de estúdio, lançados a partir de 1972. Dois são obras-primas: "Off The Wall", de 1979, e o mítico "Thriller, de 1982, o disco mais vendido da história da música, com 109 milhões de cópias. Eu fico imaginando quantos milhões a mais venderá a partir de hoje. Não sou um big fan de Michael Jackson. Conheço sua obra, tenho vários de seus discos, já li sobre sua biografia. Mas reconheço-o como o rei do pop - Madonna é a rainha. Tenho a impressão de que foi também uma das pessoas mais infelizes que já passaram por este mundo.

Micheal nasceu numa família de classe média, o mais novo entre vários irmãos e irmãs talentosos. Aos cinco anos, tornou-se a principal voz do Jackson Five, a banda da família. Surgia um astro infantil de um talento extraordinário e um carisma poucas vezes visto. Tanto que era o nome principal do grupo. Uma criança que já experimentava, em tenra idade, o estrelato que mata implacavelmente muita gente adulta. Em casa, no entanto, era pior. O pai o escravizava. Ele tinha que ensaiar até cair de sono, dia após dia. Caso contrário, a cinta entrava em ação. Michael era surrado pelo pai, o que não é novidade para ninguém. Li recentemente, numa dessas pesquisas sobre abuso infantil, que crianças que sofrem esse tipo de violência na infância tendem a desenvolver complicações na parte sexual. Saltemos, então, alguns anos na vida do astro morto para chegar ao momento em que sofreu a primeira acusação de abuso sexual contra uma criança que ele, Michael, havia convidado para ir à sua casa. O caso foi encerrado com um acordo do tipo "cala-boca". Ou seja, em nenhum momento foi provada a inocência do astro. E nem foi o único caso. Não é difícil imaginar o que acontecia por trás dos muros da Terra do Nunca, a estranhíssima propriedade do astro morto.

Depois de "Thriller", MJ não fez mais nada realmente interessante. Um ou outro momento isolado em "Bad" e a canção "Black or White", do álbum "Dangerous". MJ alcançou o megaestrelato aos 24 anos - ou seja, no meio de sua vida. Daí para a frente, só desceu a ladeira. A cada lançamento, mais frustração. Vendas medíocres para alguém do seu tamanho. E a cabeça do astro ia cada dia pior. Primeiro, a fixação quanto à cor da pele. A vontade de ser branco. E tudo que ele tinha de bom, o suingue, o ritmo, o requebrado, eram características marcantes da raça negra, da qual ele deveria se orgulhar, não renegar. Seguiram-se cirurgias plásticas, que faziam dele cada vez mais uma aberração. Há muito Michael já não exibia forma humana. Era uma máscara.

Michael Jackson morreu sozinho, que é como todos nós morreremos, ainda que cercados pela família e pelos amigos, no nosso leito de morte. Não há hora mais solitária que a da morte, já dizia Nelson Rodrigues. Eu acredito piamente nisso. Mas quanto a isso não há alternativa. O que é realmente triste é a solidão em vida. E, ao meu ver, Michael esteve só a vida toda. Esteve só na infância, na adolescência e na vida "adulta", se é possível dizer que teve uma. Quando tornou-se um astro passou a ser idolatrado pelos fãs. Mas acredito que nunca tenha sido amado. Refiro-me ao amor cotidiano, entre dois mortais. Entre mãe e filho, filho e pai, entre irmãos, amigos, marido e mulher. Um amor comum, cotidiano, de andar de mãos dadas, de assistir tevê junto numa tarde de domingo comendo pipoca, de fazer planos, de viajar. Insisto: amor entre mortais. O que um fã tem pelo ídolo nunca pode ser amor. É idolatria. A um passo da doença, da insanidade.

13 comentários:

Paulo Sales disse...

Belo texto, meu caro.
Você andava devendo um desses há algum tempo (mas sei também que os compromissos teatrais não estavam deixando).
Grande abraço

Paulo Cunha disse...

Obrigado, meu caro. Você tem razão: ultimamente o blog estava mais com cara de diário. Rs. Abração!

Unknown disse...

EXCELENTE TEXTO!!

Paulo Cunha disse...

Obrigado!

Clara Averbuck disse...

pode crer. sem amor não dá nem pra atravessar a rua, como diria o joão antônio. imagina ser o rei moonwalker.

Paulo Cunha disse...

É isso aí.

Mário Viana disse...

"louco... pelas ruas ele andava... o coitado chorava... transformou-se até num vagabundo... Para ele a vida não valia nada..."
A tristeza do astro dá samba...

Vem cá... Na Veja tem foto da mãe do MJ... mas e o pai? Já morreu o carrasco?

bons texto, Paulo!!!!!
abçs

Mário Viana disse...

Duas coisas sobre MJ:

numa peça do José Eduardo Agualusa, um personagem diz: "Meus filhos não acreditam que eu conheci o Michael Jackson quando ele era preto!"


diz que MJ já chegou no céu e a primeira coisa que fez foi pedir pra ver o Menino Jesus.

Adelita Ahmad disse...

muito bom Paulo,
adorei seu texto.

Heitor Nunes disse...

Quero entender que qdo vc diz "amor entre mortais" vc esteja se referindo ao amor fraternal entre as pessoas, independente de romance, tal. Sendo assim, pode ser polianismo da minha parte, mas acredito sim, que toda criatura é sim, em algum momento amada por alguém. E por mais estranho que a nós isso possa parecer, acredito que com ele tb era assim. Alguém amava genuinamente este cara. Amém.

Paulo Cunha disse...

Lalita e Mário, obrigado pela visita.

Heitor, insisto em que o MJ nunca foi amado. Idolatrado, sim. Por milhões de pessoas. Amado, nunca. Obrigado pelo comentário.

André L. Santana. disse...

E agora, somente depois de uma carreira que atingiu seu auge muito cedo e passou o restante dela tentando recuperá-la, este homem que tentou viver a vida além de um padrão humano comum é idolatrado.

De repente, fãs e saudosistas ressurgem. Discos do cantor que se tornou rei são novamente vendidos. Se ele realmente morreu, é uma pena que não pôde ver os seus acólitos (novos e velhos) fazendo o que ele foi criado para ver.

Apego e afeição? Sim.
Amor de verdade?
Longe disso...

Bem colocado, PC.

Paulo Cunha disse...

Você também tocou no ponto, meu caro. Abraço!