terça-feira, 31 de março de 2009

GRAN TORINO

Não gosto de assistir a filmes que todo mundo está amando, crítica e público. Chego com muita expectativa e (quase) sempre me decepciono. Aconteceu de novo. Todos os cadernos de cultura de todos os jornais e revistas dão cotação máxima, enchem de estrelas o novo filme do grande Clint Eastwood. Todos os meus amigos e amigas que foram adoraram - alguns o elevaram à categoria de obra prima. Mas não é nada disso. Gran Torino é ruim. Muito ruim. A começar pelo roteiro, um equívoco sem tamanho. As situações ora são clichês, ora inverossímeis. As soluções das cenas são óbvias, esperadas. Não há nada que surpreenda no filme. A atuação de Clint é um desastre. Onde está aquela sutileza de Menina de Ouro? O veterano de guerra Walt Kowalski é um personagem interessante, um homem perturbado, que Clint não consegue realizar. Exagera no tom racista no começo do filme, e sua "conversão" a partir da última metade também não convence. Não foi desta vez, Clint.

sexta-feira, 27 de março de 2009

ELIANA TRANCHESI

Estou no meio de um interessante debate no Facebook. Tudo começou quando uma amiga minha postou: “Free Eliana Tranchesi”. Fiquei surpreso não só com o post, mas também (e principalmente) pela reação imediata. Umas 15 pessoas “curtiram isso” – termo usado no Facebook para demonstrar concordância. Mais umas 10 comentaram, achando um absurdo a prisão. Continuei estranhando e resolvi postar: “Free? Por que?” A partir daí começou o debate (de ideias, em alto nível, pelo menos até agora). Quero reproduzir aqui o que já foi escrito lá. Vou omitir os nomes dos debatedores. Chamarei apenas de “Debatedor 1”, “Debatedor 2” e assim por diante.
Debatedor 1 – “Free sim! Por que (sic) essa prisão é encenação de fundo político, assim como as dos diretores da Camargo Correa. É tudo uma disputa interna da Justiça. E dessa vez, são os empresários os bodes expiatórios. Esse é um caso jurídico que pode muito bem ser resolvido com multas e reparações. A prisão visa atrair holofotes e turvar a opinião pública. Caso clássico (e triste) de manipulação do povo. Não caia nessa.”
Eu – "São casos diferentes. A prisão dos diretores da Camargo Correa é preventiva, porque ainda não houve julgamento. Eles ainda estão sendo investigados. Tiveram a prisão decretada para evitar que fujam – o que é comum nesses casos. Basta os advogados entregarem seus passaportes que eles serão soltos na hora. O caso da Eliana é outro. Ela foi julgada e condenada em primeira instância. A única discussão jurídica possível aqui é se ela deve ou não esperar o julgamento do seu recurso em liberdade. Já há uma enxurrada de habeas corpus pedindo sua liberação. Concordo que esse tipo de crime – que é patrimonial e não envolve violência – não deve ser tratado com cadeia. Até porque ela não resolve. Deveria haver um meio de a Justiça invadir o patrimônio do condenado e devolver aos cofres públicos exatamente o valor que foi surrupiado. Isso num mundo ideal. No Brasil atual, a pena para sonegação fiscal (um dos crimes praticados por Eliana) é cadeia. Não cumpri-la é eternizar a sensação de impunidade que toma conta do país."
Debatedor 2 – “com cancer ha q ter misericordia. tem muita coisa pior, mais dificil, eu sei. mas a vida eh como eh. e nesse caso isso eh fato. nao eh facil. qq um seria mandado p um hospital. ja viveu isso? uma metastase eh fim de vida. pense nisso... carandiru dois dias apos quimio eh muito. para qq ser humano. de qq parte da piramide. juro q acho.” (sic geral)
Eu – "A lei prevê que, em caso de doença grave, é possível aguardar o julgamento cumprindo pena domiciliar, em casa. É provável que isso aconteça com a Eliana. Eu até acho justo. Engraçado, quando penso em misericórdia, me vem à cabeça a imagem de uma legião de gente presa, amontoada, num esgoto (que chamam de cadeia). Gente pobre, feia, malcheirosa, doente (Aids, sífilis, tuberculose), sem dinheiro para pagar advogado. Gente esquecida. Por todos. Eliana e os caras da Camargo Correa – assim como Maluf, Naji Nahas, Collor, anões do Orçamento, etc. etc. – são um tipo de bandido que seduz. São bem vestidos, perfumados, comem bem e bebem os melhores vinhos. Estão sempre na alta roda. Seu estilo de vida atrai. Mas são escória. Gente da pior espécie. Eliana e sua gangue sonegaram 1 bilhão de reais em impostos. Dinheiro que poderia financiar escolas e hospitais. Dinheiro que poderia salvar vidas de gente, olha só, com câncer – mas que morre em hospitais públicos. Dessa gente eu tenho misericórdia."
Por enquanto, está nesse pé.

terça-feira, 24 de março de 2009

MÁRIO VIANA

Nossa eternidade tem a duração da memória de quem nos ama.

segunda-feira, 16 de março de 2009

CRIME POR OMISSÃO

Kaká é o principal garoto-propaganda de uma poderosíssima organização criminosa. Se um dia, a Igreja Renascer for condenada por seus crimes, Kaká terá de ser responsabilizado por sua parcela de culpa. Como homem livre que é, Kaká pode fazer o que bem entender com o seu dinheiro e com os prêmios que ganha – o que inclui doá-los para a bandidagem. Porém, como pessoa pública que também é, seus atos têm uma dimensão diferente da do homem comum. Eles influenciam outras pessoas. Os abutres da Renascer sabem disso, tanto é que divulgam as declarações do astro entre os fiéis – como estão fazendo com a tal entrevista – e lucram com isso. Não acredito que Kaká ganhe um tostão nessa história. Mas crimes são praticados por ação e também por omissão. Ao fechar os olhos para uma realidade que a cada dia é mais e mais comprovada – a estreita relação entre a Renascer e o crime –, ele acaba fazendo parte da quadrilha.

domingo, 15 de março de 2009

CHACAL, POETA

Todos os livros são de autoajuda para quem os escreve.

domingo, 8 de março de 2009

BECKETT

Tenta. Fracassa. Não importa. Tenta outra vez. Fracassa de novo. Fracassa melhor.

quarta-feira, 4 de março de 2009

SOCO NA CARA


Na próxima terça, dia 10/03, vou participar da leitura do texto 'Carícias', do dramaturgo espanhol Sergi Belbel. O encontro faz parte do projeto 'Leituras Encenadas de Dramaturgia Contemporânea', da companhia teatral Club Noir - da atriz Juliana Galdino e do diretor e dramaturgo Roberto Alvim. É uma boa oportunidade de conhecer um texto instigante, poderoso, de um dos mais importantes dramaturgos da atualidade. Texto que estamos ensaiando desde fevereiro para montar em fins de maio, no palco do Club Noir, com direção do Roberto e com a Juliana na preparação dos atores.

Preciso falar alguma coisa sobre esse Sergi Belbel. Há mais de um mês estou envolvido com esse texto, 'Carícias'. Lendo, relendo, ensaiando. É um soco na cara. Bem no meio. Por meio de cenas aparentemente sem nexo, o autor trata da precariedade das nossas relações. Marido e mulher, mãe e filha, filho e pai, velho e amante, e por aí vai. Os personagens não têm nome. Não precisam. Podemos dar os nomes que quisermos. Podemos dar nossos próprios nomes - porque esses personagens somos nós. É da precariedade das NOSSAS relações que o texto trata. Por mais que isso incomode. E, podem apostar, incomoda. Os diálogos são excepcionais (trata-se de um mestre), de uma aparente banalidade. Só que há uma estranheza no ar, por trás de cada frase, cada intenção. De uma certa forma, os diálogos são dois monólogos, porque raramente se ouve o que o outro está falando. O que importa é que falemos. Os personagens querem falar, querem ser ouvidos - e não ouvir. Alguma semelhança com nossa realidade, na família, no trabalho, entre amigos? Mas não vou ficar contando a peça. Melhor é assistir. Mas vão preparados, com estômago. Aviso de amigo.

O flyer com a programação completa está aí em cima, abrindo o post. Há outras leituras também, de outros textos, sempre às terças e quintas. O Club Noir fica na Rua Augusta, 331, quase esquina com a Rua Caio Prado. É no chamado "Baixo Augusta", onde as coisas acontecem ultimamente.

domingo, 1 de março de 2009

CAIO FERNANDO ABREU

É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado.