sexta-feira, 27 de novembro de 2009

DESTINOS


Amanhã estreia a nova peça que estou fazendo, "Destinos". Realizamos duas apresentações fechadas, no sábado e domingo passados, para um grupo de estudantes de teatro. Foi mais um ensaio aberto, no qual pudemos perceber o que funcionou bem e o que precisava ser corrigido. A partir de agora é para valer, aberto ao público e com divulgação na mídia. A montagem é o resultado de uma oficina do Grupo XIX de Teatro -responsável pelas premiadas "Hysteria", "Hygiene" e "Arrufos". Estamos juntos desde março. Foi quase um ano de um processo muito interessante, conduzido pelo diretor Luiz Fernando Marques, o Lubi. Convivi com uma gente maravilhosa, com quem aprendi bastante. Ainda vou falar mais sobre essa turma, em outro post, mais para frente. Hoje vou contar um pouco sobre a peça, ainda que resumidamente. "Destinos" é um texto escrito por Paulo Emílio Sales Gomes na década de 30. O Brasil vivia um período turbulento, os primeiros anos da ditadura de Getúlio Vargas. Não era fácil ser paulista naquela época - ainda não é, mas isso é outra história. A revolução de 32 havia sido sufocada e os jovens estudantes e operários eram os principais opositores do regime. Pipocavam greves e protestos, que eram rechaçados com violência pela polícia. Intelectuais eram presos e torturados. Paulo Emílio foi um deles. Escreveu e montou a peça na cadeia. Numa cela da prisão especial para presos políticos, localizada onde hoje é a fábrica da Goodyear, na Vila Maria Zélia, zona leste de São Paulo. Trata-se de uma vila operária, fundada em 1917, por Jorge Street, dono da Fábrica de Tecidos de Juta. Ela ficava no entorno da fábrica, uma forma de manter os operários bem próximos aos olhos do patrão. A vila hoje é um oásis de paz e calmaria bem no meio da cidade. As casinhas, apesar de restauradas, mantêm a arquitetura da época. Os moradores são, na maioria, filhos e netos dos operários originais. Há alguns prédios "públicos", como a igreja (que fica em frente à pracinha, logo na entrada da vila), o armazém e o boticário anexo, ambos desativados e que hoje servem de sede do Grupo XIX, e a escola de meninas, local escolhido para ser o cenário da nossa peça. O local é fantástico para uma montagem. Os personagens interagem com as ruínas da velha escola e tudo vira mágica. Somos transportados - atores e público - para aqueles tais dias turbulentos de nosso passado histórico. Em agosto, num ensaio, quebrei o pé exatamente num canto dessa escola. Sempre que passo pelo local, olho bem e penso: "Foi aqui". Mas disse que ia falar sobre a peça. Carlos e Álvaro são dois jovens estudantes, da classe alta paulista, filhos de um fazendeiro do café. Carlos (meu personagem) é um idealista, revolucionário, que se põe na luta ao lado do povo. Álvaro gasta sua mocidade e o dinheiro do pai na farra, ao lado de gente com pouca credibilidade, como se dizia na época. São esses dois destinos, absolutamente opostos, o mote da peça, ao qual se agregam outros personagens interessantes como um cafetão, um operário amigo com sotaque da Moóca, outros revolucionários, um agiota, etc. Um história de luta, contada de uma forma diferente (méritos para o nosso diretor, o Lubi), e que reserva algumas surpresas. Aguardo vocês.

"DESTINOS", de Paulo Emílio Sales Gomes

Direção: Luiz Fernando Marques
Assistente de Direção: Tatiana Rehder
Elenco: Adriano Merlini, Andre Castelani, Carlos Sobrinho, Flavio Drummond, Hélio Tozato, Iury Lupaudi, Luiz Calvo, Paulo Cunha, Renato Nonato, Uanderson Melo, Victor Lucena.

Local: Grupo XIX de Teatro (Vila Maria Zélia)
Sábado e domingo, às 16h. Grátis.
Temporada: 28 de novembro a 13 de dezembro.

Como chegar? www.grupoxixdeteatro.ato.br

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

TUDOAOMESMOTEMPOAGORA

Frila da Casa Cor, para a Casa Claudia. Rebarba do frila da Choque Cultural, para a Casa Claudia Luxo. Frila dos Beatles, para o "Na História" da Veja Online. Véspera de estreia de "Destinos", na Vila Maria Zélia, com falas e novas marcações ainda a serem estudadas. A uma semana de outra estreia, de "Os Gigantes da Montanha", no Club Noir - a montagem começou a engatar de verdade agora, faz uns dois ensaios. Continua a pesquisa para a cena de "Antígona" - agora é a hora da gênese (parte importantíssima da construção) do meu personagem, o Corifeu. Preparar duas cenas, uma contemporânea, outra clássica, para o teste do CPT, na próxima terça de manhã. Vou de Nelson Rodrigues + Tragédia Grega. Ensaios diários até o dia do teste. Preparativos para inscrição de "Sudatorium", a minha peça da sauna, na Fringe do Festival de Curitiba. Falta discutir alguns assuntos com o diretor, o meu amigo Edu Brisa, e fechar o elenco. Ah, é claro, sessões diárias de fisioterapia. Meu pé começa a se comportar como antes. Cabe tudo isso em 24 horas diárias?

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

SÓFOCLES SABE TUDO

Um pouco mais de "Antígona". As dez melhores pérolas do primoroso texto de Sófocles, na tradução esperta do Millor Fernandes.

1. "Devo respeitar mais os mortos que os vivos, pois é com eles que vou morar mais tempo." (Antígona)

2. "Quero vos prometer (...) jamais colocar o maior interesse do melhor amigo e do mais íntimo parente acima da mais mesquinha necessidade do povo e da pátria." (Creonte)

3. "Quem jamais saberá de que ousadias é capaz a ambição humana?" (Creonte)

4. "Ninguém ama um portador de más notícias." (Guarda)

5. "Os homens não inventaram nada mais nefasto do que o dinheiro." (Creonte)

6. "Dizem que a justiça é lenta, mas não existe nada mais veloz que a injustiça". (Guarda)

7. "Na criação que o cerca [o homem], só dois mistérios terríveis, dois limites. Um, a morte, da qual em vão tenta escapar. Outro, seu próprio irmão e semelhante, o qual não vê e não entende." (Coro)

8. "O povo fala. Por mais que os tiranos apreciem um povo mudo, o povo fala. Aos sussurros, com medo, na semi-escuridão, mas fala." (Antígona)

9. "Uma geração não redime outra geração, e a raça continua olhando no infinito sem avistar jamais o fim de suas desditas." (Coro)

E, por último, a melhor de todas, he he:

10. "Não existe só um prado fértil. Não existe só uma mulher no mundo." (Creonte)

sábado, 7 de novembro de 2009

EFEITO SAUNA


Mais um pouco de "Sudatorium", a minha peça da sauna. A foto aí de cima foi tirada pelo meu amigo Sugis um pouco antes da apresentação do domingo passado, nas Satyrianas. E eu que achava que só ator fica nervoso antes de entrar em cena - eu, quando atuo, quero que o mundo acabe naqueles cinco minutos anteriores ao início da peça. Percebi que o autor, o dramaturgo, também fica, embora seja uma sensação diferente. Eu estava sentado na escadinha que dá acesso ao palco, vendo o público entrar e só pensava numa coisa: será que eles vão gostar? E não podia fazer mais nada, porque a bola já estava com os atores, agora era com eles. No final, deu tudo certo. Claro, foi uma primeira apresentação. Há muito o que fazer, mexer, criar, corrigir. Mas ficamos, todos, satisfeitos com o resultado. O público, ao que parece, também gostou. Muita gente veio falar comigo depois, dizer o que achou. Outros preferiram escrever. Abaixo, dois comentários interessantes de amigos, que chegaram à minha caixa postal.

"Parabéns pela peça. Levanta questões sobre masculinidade de modo sutil e divertido. Todo mundo elogiou. Abraço!" (Rodrigo Brasil, jornalista e poeta)

"Parabéns pela peça, querido. Adorei! Ela é leve, engraçada, nos faz refletir sobre a responsabilidade pelas nossas escolhas e, de um jeito bem articulado, mostra os aspectos luminosos e sombrios sempre presentes nas relações de amizade. Eu adorei poder adentrar uma sauna cheia de homens (oba! rsrs.) e descobrir que o universo masculino, às vezes tão grotesco na aparência, é também repleto de delicadeza e afetividade. Parabéns! Continue escrevendo. Mande um abraço e os parabéns para o Edu, também. Adorei reencontrar vocês. Beijos." (Majori Claro, escritora)

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

UMA DICA PRA QUEM GOSTA DE ESCREVER



Minha grande amiga Adriana Calabró criou uma oficina para quem gosta de escrever e deseja aprimorar sua técnica, ficar mais familiarizado com os vários recursos estilísticos e, ainda, desenvolver sua criatividade. Eu acho que vai ser legal. Conheço a Dri há mais de duas décadas. Sei da sua competência e do seu talento como escritora. É uma das pessoas mais criativas que eu conheço. E, ao contrário do que muita gente pensa, criatividade também se aprende. Claro, a pessoa pode nascer com alguma aptidão para isso. Mas é preciso desenvolvê-la, há técnicas para isso. A Dri domina essa técnicas e vai mostrar isso na sua oficina: como escrever um texto estruturado, a partir das técnicas disponíveis, mas de forma criativa, não amarrada. Mas estou falando muito. Vou deixar que ela mesmo conte um pouco sobre a oficina. Diz aí, Dri:

Seja para aqueles que usam a escrita como instrumento de trabalho, como redatores e jornalistas, seja para os que querem dar vazão ao seu talento literário, a proposta dessa Oficina é oferecer ferramentas para o desenvolvimento de um texto ao mesmo tempo estruturado e criativo. Em dois encontros, os participantes poderão entender o processo e as etapas da escrita e treinar suas capacidades por meio de exercícios práticos. A Oficina de Escrita Criativa Palavra Criada, é ministrada pela escritora, redatora e articulista Adriana Calabró Orabona e tem se mostrado um espaço propício à reflexão e ao debate de idéias. Na literatura, Adriana já lançou 3 livros: Dezamores (Antologia – Sesc/Escrituras), Autobiópsia (mini-contos – Edição de Autor) e Dois Polos (Romance – Escrituras – vencedor da bolsa de literatura do PAC – atual ProAC). Também ganhou prêmios nacionais e internacionais como redatora, dentre eles o Best of Bates International e o Anuário de Criação de São Paulo. Atualmente, é editora-chefe das revistas SJP e Evol Arts e sócia da Expanding Comunicação. Cursou Comunicação na ECA-USP e fez cursos de extensão em Relações Públicas e Marketing na New York University.

Datas: 7 e 14/11 das 10h às 14h
Informações com Camila Rossi – camilarossi@gmail.com ou palavracriada@gmail.com

terça-feira, 3 de novembro de 2009

"TAMO JUNTO"


Minha peça "Sudatorium" - "a da sauna", como já vem sendo chamada - estreou na virada do domingo para a segunda, feriado, nas Satyrianas. Foi um momento mágico para mim. O Teatro do Ator, na Praça Roosevelt, estava totalmente lotado, com mais de100 espectadores - havia até cadeiras extras, que tiveram de ser colocadas para tentar acomodar todo mundo. E, mesmo assim, não deu. Vi gente dando meia volta na fila, quando disseram que os ingressos haviam se esgotado. Amigos ligaram se desculpando por não terem conseguido entrar. Ainda estou digerindo tudo isso. Estou pensando bastante e tenho muita coisa a dizer sobre o que aconteceu e o futuro da peça - mas não será agora. Nesse momento, eu quero apenas agradecer a quatro pessoas fundamentais nessa história: Edu Brisa, Adriano Merlini, Carlos Sobrinho e Edson Aranha. O Edu já é meu parceiro de algum tempo. Fizemos algumas coisas juntos e admiro muito seu trabalho como ator, diretor e dramaturgo. Foi ele quem dirigiu essa montagem de "Sudatorium". O tempo, apertadíssimo, não foi obstáculo para eles. O Edu conseguiu dar forma à peça e, com competência e a habitual generosidade, extraiu o que pôde dos atores. Ah, os atores... Adri, Carlão e Edson - que estão na foto acima, clicada pelo meu amigo Sugis - foram verdadeiros guerreiros. Decoraram o texto em pouco tempo e deram vida aos três personagens - que agora são mais deles do que meus. Tiraram aquelas palavras do papel e as atiraram no palco. Para mim, como dramaturgo, é incrível a sensação de ver/ ouvir aquelas falas que eu escrevi há algum tempo, e que fazem todo sentido para mim, sendo ditas por eles, fazendo sentido para eles também e, finalmente, indo parar nos ouvidos, mentes e corações da plateia - e fazendo sentido para ela também. Ouvi comentários muito bacanas de várias pessoas que assistiram à peça. Agora é pensar para frente. Vamos levar "Sudatorium" para Curitiba, no grande festival de teatro que acontece lá, em março. Depois, vamos colocá-la em cartaz e tentar ficar o máximo de tempo nos palcos em 2010. O time é esse aí. E como o Edu costuma dizer: "Tamo junto!"