terça-feira, 20 de abril de 2010

FUCK YOU, YOKO (II)

Hoje passei o dia todo trabalhando e ouvindo música. Lembrei de um texto que escrevi no ano passado e que postei neste blog. Decidi postar de novo. É com ele que reabro este espaço em 2010.

A tarde de hoje foi inteiramente dedicada a uma matéria que eu precisava terminar. Quando é assim, dependendo do que tenho que escrever ou editar, gosto de trabalhar ouvindo música. Deu vontade de ouvir John Lennon, fase pós-Beatles. Adotei o estilo do meu amigo Mário, de Floripa, que costuma ouvir seus discos em ordem cronológica de lançamento. No caso dele, parece que é TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo), já que ele só consegue apreciar desse jeito as centenas de CDs de sua bela discografia de rock nacional. No meu, acho que não, foi frescura mesmo. Ao contrário do Paul McCartney, a carreira-solo do John é curta, por conta de sua morte prematura, aos 40 anos. Tirando as inúmeras coletâneas, os discos ao vivo e os três trabalhos experimentais, absolutamente xaropes, chatérrimos, que ele fez ainda durante os tempos de Beatles, sua discografia de estúdio é assim: "Plastic Ono Band" (1970), "Imagine" (1971), "Some Time in New York City" (1972), "Mind Games" (1973), "Walls and Bridges" (1974), "Rock’n’Roll" (1975), "Double Fantasy" (1980) e "Milk and Honey", lançado postumamente, em 1984. Foi ouvindo os discos assim, em sequência, que pude perceber duas coisas: apesar de curta, é uma carreira brilhante, com duas obras-primas, os dois primeiros, e mais um punhado de grandes canções, espalhadas por todos os outros álbuns. Não há como resistir ao encanto de "Mother", "Working Class Hero", "Love", "God" (para mim, a grande canção de John Lennon, a maior de todas), "Imagine", "Crippled Inside", "Jealous Guy", "Gimme Some Truth", "How?". Tudo isso aí é só dos dois primeiros. E, dos outros, tem ainda: "John Sinclair", "Mind Games", "Whatever Gets You Thru The Night", "#9 Dream", "Nobody Loves You (When You're Down And Out)", "Stand By Me", "(Just Like) Starting Over","Beautiful Boy", "Watching The Wheels", "Woman", "I'm Stepping Out", "Nobody Told Me" e "Borrowed Time".
A outra coisa que notei é que, a partir de 1972, os discos deixaram de ser espetaculares. Continuam tendo bons, ótimos momentos, mas no todo são irregulares. A razão disso tem nome: Yoko Ono. Devo dizer que este nome é impronunciável para muitos beatlemaníacos. O mestre Beto Iannicelli nunca fala o nome dela. Diz que faz mal à saúde. Não sei, mas posso garantir que ouvir a voz de Yoko, o seu "canto", isso sim, faz muito mal à saúde. A acidez no estômago começa já nas suas primeiras intervenções e chega ao ápice quando ela grita, berra, se esgoela, naquela idiotice que os anos 70 conheceram como "grito primal" (primal scream). Yoko consegue destruir pelo menos 1/3 da carreira-solo do John. As canções interpretadas por ela, ou cuja autoria é creditada a ela (pessoalmente, eu duvido que ela tenha composto qualquer coisa; o John compunha e dava para ela cagar em cima), dividem-se em três grupos: ruins, muito ruins ou medonhas. Simplesmente não consigo ouvir a voz dessa mulher. No DVD "Gimme Some Truth", espécie de bastidores das gravações do "Imagine", John está no estúdio com um monte de craques, incluindo George Harrison, e a Yoko lá, metendo o bedelho, falando merda. Dá vontade de vomitar. Considero Yoko Ono, artisticamente, nula, um nada, uma fraude construída sobre a imagem do marido. E o mundo inteiro engoliu. Dia desses, conversando com o meu amigo e bandmate André Santana, ele me lembrou que no livro "Lembranças de Lennon", uma longa entrevista que o John deu para a revista Rolling Stone, a Yoko não parava de dar pitacos - sem noção, como sempre -na conversa dele com o jornalista. Até que, numa certa hora, John não resistiu e mandou um sonoro "fuck you, Yoko". Acho que naquele momento ele falou por muitos de seus admiradores. Por mim, com certeza.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

PRONTO!

Ótimas resoluções de ano novo! Deletei minhas contas do Orkut, Facebook e Twitter. Em 2010 não perderei nem um minuto do meu precioso tempo com essas bobagens. Vou viver integralmente no mundo real. Meu único contato com o virtual será este blog.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

ATÉ O ANO QUE VEM


Este blog volta a ser atualizado na primeira semana de janeiro. Parto amanhã para a praia, na companhia de bons amigos, uma ou duas boas leituras, banhos de mar para lavar a alma, sombra e cerveja gelada. Que a foto acima sirva de inspiração. Boa virada de ano para todos nós.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

TOP 10

Nunca fui tanto ao teatro como em 2009. Foram 54 peças no total - mais de uma por semana, em média. Poderia até ter sido mais, se eu não tivesse passado o mês de setembro inteiro de molho, sem sair de casa, por causa do pé quebrado. Chega agora o fim do ano e surgem as listas de melhor isso, melhor aquilo. Então resolvi elencar abaixo, em ordem de preferência, as dez peças de que mais gostei em 2009.

1 - Hamelin
2 - Troianas – Vozes da Guerra
3 - A Casa
4 - Comunicação a Uma Academia
5 - A Falecida Vapt Vupt
6 - O Fingidor
7 - Foi Carmen
8 - Memória da Cana
9 - Rainha(s)
10 - Zoológico de Vidro

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A ÚLTIMA DO ANO



Amanhã tem "Os Gigantes da Montanha", de Pirandello, no Club Noir. Começa pontualmente às 21h. Recomenda-se chegar pelo menos uma hora antes, porque são poucos lugares e costuma lotar. É a última apresentação do ano. A peça volta em 16 de janeiro e fica até o fim de fevereiro.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

É CERTO QUE VOLTAREMOS


Domingo foi a última apresentação de "Destinos" em 2009. A boa notícia é que voltaremos ao cartaz em março. Fizemos uma reunião ontem na casa do nosso diretor Luiz Fernando Marques (o Lubi) e definimos algumas metas para 2010. Os ensaios recomeçam em fevereiro para que possamos fazer as novas apresentações a partir do mês seguinte. Fiquei contente com a presença da minha família e de bons amigos na platéia. A chuva quase adiou a peça, mas fomos em frente - em alguns momentos, sob uma leve garoa. Agora, nosso grupo está de férias. Na foto acima, em cena com meu brother Adriano Merlini.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

BETO BEATLE*


Beto tinha seis anos de idade quando conheceu os Beatles, no ano passado. Logo de cara, o menino ficou fascinado pela música que descobriu, sem querer, ao percorrer as estações do rádio de seu pai. Passeando pelo dial, um dia Beto sintonizou a BBC de Londres, em ondas curtas, e ouviu algo que nunca acreditara ouvir – e que, provavelmente, irá mudar sua vida. Morador do bairro Paulicéia, próximo à Santana, na zona norte de São Paulo, Beto e seus vizinhos não conseguem mais brincar de outra coisa: são agora os "Beatles do Brasil". Na rua onde mora com a família, bem em frente à sua casa, vivem dois amigos, Claudio e Antonio Carlos. Claudio tem a mesma idade de Beto, e Antonio Carlos tem doze anos – o mesmo que Aily, irmã de Beto.
Todas as tardes, as quatro crianças se reúnem na casa de Claudio e Antonio Carlos. E, então, começa a mágica, uma brincadeira lúdica, possível apenas no mundo dos pequenos. A cena é a seguinte: Antonio Carlos é Ringo Starr. Sua "bateria" é composta de um pufe, algumas caixas de papelão, uma lata de biscoitos Piraquê e algumas tampas de panela – que fazem as vezes de pratos. Claudio é John Lennon. Aily, Paul McCartney. E Beto, George Harrison. Os três – John, Paul e George – empunham suas "guitarras", que são, na verdade, cabos de vassouras com barbantes amarrados às pontas, imitando as correias. Ficam prontos, atentos, apenas esperando que a BBC toque a próxima música dos Beatles. Não é preciso dizer que, nesses tempos em que a beatlemania tomou conta do país, é uma música atrás da outra. E então começa a performance das crianças. Imitam os Beatles? "Nós somos os Beatles!", gritam, em uníssono. Beto, como George, é o solista da banda. Quando chega o momento do solo, só ele – e mais ninguém – pode fazer movimentos na "guitarra". Se algum outro fizer, a apresentação termina imediatamente, seguida do choro escandaloso do "solista". Como é o caçula do grupo, todos aceitam e mantêm-se nas "funções" preestabelecidas.
Beto estuda no Lar Escola Santana, que fica no fim da rua onde mora. Sua rotina é ir à aula de manhã, voltar na hora do almoço, e preparar-se ansiosamente para as "apresentações" da banda, que acontecem sempre à tarde. É assim todos os dias da semana. Há poucos meses, começou a aprender violão. Era inevitável. A família apóia - principalmente sua mãe, que agora pode contar novamente com as vassouras cumprindo suas funções normais de limpeza da casa. Beto já começa a praticar no instrumento, ouvindo e tentando tirar as duas músicas do único single dos Beatles lançado no Brasil até agora, "Please Please Me" e "From Me To You".
As ondas curtas da BBC atraem também os mais velhos. Os pais e tios de Beto costumam passar um bom tempo na frente do rádio, tentando traduzir alguma coisa do que ouvem. Não é muito fácil, pois não são muito familiarizados com o inglês e, além disso, os locutores britânicos falam rápido demais. Juntamente com as revistas sobre os Beatles que começam a pipocar nas bancas nos últimos meses, é a única forma de saber das notícias sobre a banda.
Embora pertençam a uma família de classe média baixa, os pais do pequeno Beto procuram atender como podem todas as "reivindicações beatlemaníacas" do filho. "Reivindicações que se transformam em 'esperneações' sem fim, caso não sejam atendidas", conta a mãe de Beto, com ar brincalhão. E ela se emociona ao lembrar do primeiro corte de cabelo beatle do filho ("com aquela franjinha na altura das sobrancelhas"), de seu lindo sorriso de menino quando ganhou no Natal passado sua beatle-botinha com salto "carrapeta", da vitrolinha portátil tocando Beatles sem parar, do álbum de figurinhas, e, principalmente, do amor que Beto começou a nutrir por esses quatro rapazes de Liverpool. Um amor que deverá permanecer, incondicionalmente.

*O texto acima é uma singela homenagem ao meu amigo e mestre Beto Iannicelli que, desde 2004, vem me ensinando a me relacionar com a música de um jeito diferente - a ouvi-la de uma forma vertical. Sua cartilha é a obra dos Beatles, que Beto conhece como poucos no mundo. Beto é de 1957, dez anos mais velho que eu. Quando a beatlemania chegou ao Brasil, em 1964, ele tinha sete anos. O texto acima é uma matéria fictícia, imaginária, publicada naquela época em qualquer jornal paulistano, e mostra como um menino descobriu tão cedo a magia de se apaixonar por uma banda de rock - no caso, a maior de todas, em todos os tempos e lugares. Beto se formou em violão clássico ainda adolescente e, depois, tornou-se maestro. Como músico e arranjador, trabalhou com todos os bambas da MPB nas décadas de setenta e oitenta. Há dez anos, dedica-se a transmitir a imensidão do seu conhecimento musical a uma centena de alunos, que, como eu, são seus fiéis seguidores. E tudo começou solando num cabo de vassoura ao som de "Please Please Me", "From Me To You", "I Wanna Hold Your Hand"...

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

NESTE FIM DE SEMANA



Clique na imagem acima para ver a sinopse da peça. Já falei sobre ela no post anterior. Espero você lá.

"DESTINOS", de Paulo Emílio Sales Gomes

Direção: Luiz Fernando Marques
Assistente de Direção: Tatiana Rehder
Elenco: Adriano Merlini, Andre Castelani, Carlos Sobrinho, Flavio Drummond, Hélio Tozato, Iury Lupaudi, Luiz Calvo, Paulo Cunha, Renato Nonato, Uanderson Melo, Victor Lucena.

Local: Grupo XIX de Teatro (Vila Maria Zélia)
Sábado e domingo, às 16h. Grátis.
Temporada: 28 de novembro a 13 de dezembro.

Como chegar? www.grupoxixdeteatro.ato.br

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

DESTINOS


Amanhã estreia a nova peça que estou fazendo, "Destinos". Realizamos duas apresentações fechadas, no sábado e domingo passados, para um grupo de estudantes de teatro. Foi mais um ensaio aberto, no qual pudemos perceber o que funcionou bem e o que precisava ser corrigido. A partir de agora é para valer, aberto ao público e com divulgação na mídia. A montagem é o resultado de uma oficina do Grupo XIX de Teatro -responsável pelas premiadas "Hysteria", "Hygiene" e "Arrufos". Estamos juntos desde março. Foi quase um ano de um processo muito interessante, conduzido pelo diretor Luiz Fernando Marques, o Lubi. Convivi com uma gente maravilhosa, com quem aprendi bastante. Ainda vou falar mais sobre essa turma, em outro post, mais para frente. Hoje vou contar um pouco sobre a peça, ainda que resumidamente. "Destinos" é um texto escrito por Paulo Emílio Sales Gomes na década de 30. O Brasil vivia um período turbulento, os primeiros anos da ditadura de Getúlio Vargas. Não era fácil ser paulista naquela época - ainda não é, mas isso é outra história. A revolução de 32 havia sido sufocada e os jovens estudantes e operários eram os principais opositores do regime. Pipocavam greves e protestos, que eram rechaçados com violência pela polícia. Intelectuais eram presos e torturados. Paulo Emílio foi um deles. Escreveu e montou a peça na cadeia. Numa cela da prisão especial para presos políticos, localizada onde hoje é a fábrica da Goodyear, na Vila Maria Zélia, zona leste de São Paulo. Trata-se de uma vila operária, fundada em 1917, por Jorge Street, dono da Fábrica de Tecidos de Juta. Ela ficava no entorno da fábrica, uma forma de manter os operários bem próximos aos olhos do patrão. A vila hoje é um oásis de paz e calmaria bem no meio da cidade. As casinhas, apesar de restauradas, mantêm a arquitetura da época. Os moradores são, na maioria, filhos e netos dos operários originais. Há alguns prédios "públicos", como a igreja (que fica em frente à pracinha, logo na entrada da vila), o armazém e o boticário anexo, ambos desativados e que hoje servem de sede do Grupo XIX, e a escola de meninas, local escolhido para ser o cenário da nossa peça. O local é fantástico para uma montagem. Os personagens interagem com as ruínas da velha escola e tudo vira mágica. Somos transportados - atores e público - para aqueles tais dias turbulentos de nosso passado histórico. Em agosto, num ensaio, quebrei o pé exatamente num canto dessa escola. Sempre que passo pelo local, olho bem e penso: "Foi aqui". Mas disse que ia falar sobre a peça. Carlos e Álvaro são dois jovens estudantes, da classe alta paulista, filhos de um fazendeiro do café. Carlos (meu personagem) é um idealista, revolucionário, que se põe na luta ao lado do povo. Álvaro gasta sua mocidade e o dinheiro do pai na farra, ao lado de gente com pouca credibilidade, como se dizia na época. São esses dois destinos, absolutamente opostos, o mote da peça, ao qual se agregam outros personagens interessantes como um cafetão, um operário amigo com sotaque da Moóca, outros revolucionários, um agiota, etc. Um história de luta, contada de uma forma diferente (méritos para o nosso diretor, o Lubi), e que reserva algumas surpresas. Aguardo vocês.

"DESTINOS", de Paulo Emílio Sales Gomes

Direção: Luiz Fernando Marques
Assistente de Direção: Tatiana Rehder
Elenco: Adriano Merlini, Andre Castelani, Carlos Sobrinho, Flavio Drummond, Hélio Tozato, Iury Lupaudi, Luiz Calvo, Paulo Cunha, Renato Nonato, Uanderson Melo, Victor Lucena.

Local: Grupo XIX de Teatro (Vila Maria Zélia)
Sábado e domingo, às 16h. Grátis.
Temporada: 28 de novembro a 13 de dezembro.

Como chegar? www.grupoxixdeteatro.ato.br

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

TUDOAOMESMOTEMPOAGORA

Frila da Casa Cor, para a Casa Claudia. Rebarba do frila da Choque Cultural, para a Casa Claudia Luxo. Frila dos Beatles, para o "Na História" da Veja Online. Véspera de estreia de "Destinos", na Vila Maria Zélia, com falas e novas marcações ainda a serem estudadas. A uma semana de outra estreia, de "Os Gigantes da Montanha", no Club Noir - a montagem começou a engatar de verdade agora, faz uns dois ensaios. Continua a pesquisa para a cena de "Antígona" - agora é a hora da gênese (parte importantíssima da construção) do meu personagem, o Corifeu. Preparar duas cenas, uma contemporânea, outra clássica, para o teste do CPT, na próxima terça de manhã. Vou de Nelson Rodrigues + Tragédia Grega. Ensaios diários até o dia do teste. Preparativos para inscrição de "Sudatorium", a minha peça da sauna, na Fringe do Festival de Curitiba. Falta discutir alguns assuntos com o diretor, o meu amigo Edu Brisa, e fechar o elenco. Ah, é claro, sessões diárias de fisioterapia. Meu pé começa a se comportar como antes. Cabe tudo isso em 24 horas diárias?