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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

PRONTO!

Ótimas resoluções de ano novo! Deletei minhas contas do Orkut, Facebook e Twitter. Em 2010 não perderei nem um minuto do meu precioso tempo com essas bobagens. Vou viver integralmente no mundo real. Meu único contato com o virtual será este blog.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

ATÉ O ANO QUE VEM


Este blog volta a ser atualizado na primeira semana de janeiro. Parto amanhã para a praia, na companhia de bons amigos, uma ou duas boas leituras, banhos de mar para lavar a alma, sombra e cerveja gelada. Que a foto acima sirva de inspiração. Boa virada de ano para todos nós.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

TUDOAOMESMOTEMPOAGORA

Frila da Casa Cor, para a Casa Claudia. Rebarba do frila da Choque Cultural, para a Casa Claudia Luxo. Frila dos Beatles, para o "Na História" da Veja Online. Véspera de estreia de "Destinos", na Vila Maria Zélia, com falas e novas marcações ainda a serem estudadas. A uma semana de outra estreia, de "Os Gigantes da Montanha", no Club Noir - a montagem começou a engatar de verdade agora, faz uns dois ensaios. Continua a pesquisa para a cena de "Antígona" - agora é a hora da gênese (parte importantíssima da construção) do meu personagem, o Corifeu. Preparar duas cenas, uma contemporânea, outra clássica, para o teste do CPT, na próxima terça de manhã. Vou de Nelson Rodrigues + Tragédia Grega. Ensaios diários até o dia do teste. Preparativos para inscrição de "Sudatorium", a minha peça da sauna, na Fringe do Festival de Curitiba. Falta discutir alguns assuntos com o diretor, o meu amigo Edu Brisa, e fechar o elenco. Ah, é claro, sessões diárias de fisioterapia. Meu pé começa a se comportar como antes. Cabe tudo isso em 24 horas diárias?

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

ANIVERSÁRIO + SAUNA


Meus queridos e minhas queridas, hoje é meu aniversário. Nos e-mails que disparei pra galera, escrevi que completo 24 primeveras. Não colou. Fui alvo de chacota. Devia ter arriscado uns 33, 34. Agora, estou dizendo que foi erro de digitação: inverti os dois números. Mas o fato é que tenho um duplo convite para fazer a todos vocês, caríssimos. Hoje à noite, vou receber os amigos e as amigas no Finnegan's Pub (Rua Cristiano Vianna, 358, Pinheiros - esquina com a Rua Artur de Azevedo), a partir das 22h. O bar estará em clima de Halloween, com música ao vivo (pop, rock, indie, glam), gente de preto, etc. Reservei uma mesa grande, no andar de cima, onde é mais tranquilo e dá pra conversar. Portanto, é para gregos e troianos: agito embaixo, chill out em cima. Não paga nada pra entrar, mas paga pra sair. (He he, desculpem, não resisti.) Homem $13; mulher $10. Gostaria muito de ver quem não vejo faz tempo e rever quem está comigo no dia-a-dia. Segundo, minha peça "Sudatorium", a da sauna, foi selecionada para as Satyrianas 2009. Será apresentada no Teatro do Ator (Praça Roosevelt, 172, Centro), no dia 02/11, à 0h30 (virada do domingo para a segunda, feriado). Estão todos convidados. No último post, disse que era de graça. Desculpem, errei. Ou quase: na verdade custa $2 (dois reais). É o valor mínimo. Quem quiser paga mais. É o sistema adotado nas Satyrianas deste ano. O flyer de "Sudatorium" está, mais uma vez, aí em cima. Gosto muito desta foto. Ela é soturna, como é o clima da peça. Espero que seja o começo de uma bela carreira para essa sauna.

Três amigos de muito tempo estão relaxando, suando em bicas e jogando conversa fora. Papo vem, papo vai, e a temperatura começa a subir. Em todos os sentidos. Antigas rusgas reaparecem em meio ao calor. Pequenas frustrações emergem do suadouro. Quarentões, percebem que chegaram à metade de suas vidas. E, de uma hora para outra, querem passar tudo isso a limpo. No meio de uma sauna.

"Sudatorium", de Paulo Cunha
Direção: Edu Brisa
Com Adriano Merlini, Carlos Sobrinho e Edson Aranha
Segunda 02/11, 0h30, virada do domingo para segunda - Nas Satyrianas 2009
Teatro do Ator - Praça Roosevelt, 172, Centro.
R$ 2,00 (valor mínimo). Quem quiser, paga mais.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

SOBRE BORTOLOTTO, IPODS, CAMINHADAS, CAIO FERNANDO E UM POUCO DE SOLIDÃO

Costumo ler o blog do Mario Bortolotto (http://atirenodramaturgo.zip.net/). Não o conheço pessoalmente, não sou seu amigo, nunca tomamos umas juntos. Já assisti a umas dez peças dele e devo ter lido umas outras dez. Quando eu estudava teatro no Senac, na turma da noite, a gente costumava matar a aula da sexta-feira para assistir a alguma peça. Fomos a umas três ou quatro do Bortolotto. Lembro que minhas amigas, e minha namorada na época, detestavam. Achavam o texto machista, as atuações fracas, a direção ruim e por aí vai. Concordo em parte. Sempre enxerguei alguma poesia na obra do Bortolotto, em alguns textos mais, em outros menos. E havia ali, pelo menos, uma grande atriz: Fernanda D'Umbra. Mas não era bem disso que eu queria falar. Dizia eu que leio o blog do Bortolotto quase sempre. Tem umas coisas que ele escreve, não tudo, de que eu gosto pra caralho. Talvez porque me identifique com elas. Há algum tempo ele vem escrevendo, quase em todo post, que um de seus prazeres é sentar numa mesa de fundo de bar, e ficar ouvindo um blues no seu mp3. Só ele, a música e uma dose de uísque. Mais ninguém. Pouca gente sabe, acho, mas sou um pouco assim. Sou uma pessoa bastante sociável, mas gosto também de curtir uns momentos sozinhos. Tinha uma época, há uns 20 anos, que eu e minha turma de amigos viajávamos para o Nordeste todo verão. Era sempre lá pelo meio de janeiro, início de fevereiro. Eu sempre dava um jeito de sair uma semana antes, sozinho, e me encontrava com eles depois. Gostava de passar um tempo sozinho. Nessas horas, minhas duas únicas companhias eram o rock e a cerveja. Adorava caminhar pelas praias, com uma latinha na mão e o walkman no bolso do calção. Andava quilômetros. Antes de sair de São Paulo, passava no supermercado e comprava um monte de pilhas alcalinas, que custavam bem mais que as comuns, mas valiam o investimento. Meu walkman era aquele tijolo amarelo, da Sony, que podia entrar na água - era o que diziam, eu nunca testei. Anos depois, numa viagem à praia, na casa do meu grande brother Calabró, o xarope do Cesinha voltou totalmente bêbado da balada e vomitou em cima do walkman. Foi o fim dele. E, por coincidência, era o início da era do CD. Tanto que, semanas depois, comprei meu primeiro diskman, também da Sony. Isso foi por volta de 1991, 92. Dois anos depois, entrei na faculdade de jornalismo, na Cásper Líbero, e esse diskman se tornou o meu companheiro de andarilhagem. Era comum, nesta época, a gente ficar tomando umas na "prainha" da Paulista até fechar o último bar. Era bacana: os bares iam fechando e a gente ia pulando para o do lado, que ainda estava aberto. Meu amigo Paulo Sales, que costuma ler esta bagaça e que tem um puta blog legal (http://paradiseduluoz.blogspot.com/), era um dos que, invariavelmente, se fazia presente. Quando a gente decidia, finalmente, ir embora já não tinha mais ônibus, nem metrô. Eu adorava: sacava meu diskman e saia andando rumo a Pinheiros, onde ainda moro. Às vezes, voltava conversando com a minha amiga Mari, que morava perto de mim, e o diskman não era necessário. Mas era raro. O normal era voltar embalado pelo rock. Aquela época ouvia muito britpop, madchester. Era Oasis, blur, Radiohead, James, Inspiral Carpets, Charlatans, Stone Roses, Happy Mondays, Ride, vai por aí. Passei os quatro anos da faculdade assim. Isso se repetiu quando virei correspondente em Paris e, depois, nos dois anos que passei em Tóquio. Minha rotina era andar, andar pelas ruas desconhecidas, muitas vezes escuras e desertas, raramente perigosas (embora misteriosas), com uma cerveja na mão e sons furiosos saindo dos fones de ouvido. De uma certa forma, a música que eu ouvia refletia o que eu sentia - Oasis ou blur na euforia, Radiohead ou Verve nas horas tristes. Aí, na virada do século surgiu o MP3. Quando comprei meu iPod, demorei a compreender a possibilidade de andar com toda (toda mesmo) minha discografia a tiracolo. Demorei uns dois meses para baixar todos os meus quase 2 mil CDs para aquela caixinha branca que cabia no meu bolso. Eram dias e dias de música concentrados num único dispositivo, à minha inteira disposição.
Desculpem, eu devia ter avisado antes: este é um daqueles posts enormes, que blogueiros costumam escrever quando não têm sono, como é o meu caso agora. Continuando, o MP3 resolveu um grande problema que havia antes de sua existência, que era escolher o cassete ou o CD a colocar antes de sair de casa. Não havia mais o quê escolher - era toda uma parede de CDs para ouvir quando eu quisesse. Mas eu falava de solidão e agora me veio na cabeça um conto do Caio Fernando Abreu, o mais lindo de todos os que eu já li dele. Chama-se "Além do Ponto" e é do livro "Morangos Mofados". Fala de andar bêbado por ruas desertas, sob a chuva, à procura de algo que já se sabe que não vai encontrar. É com um trecho desse conto que eu acrescento alguma beleza neste post sem pé nem cabeça.

"Chovia sempre e eu custei para conseguir me levantar daquela poça de lama, chegava num ponto, eu voltava ao ponto, em que era necessário um esforço muito grande, era preciso um esforço tão terrível que precisei sorrir mais sozinho e inventar mais um pouco, aquecendo meu segredo, e dei alguns passos, mas como se faz? me perguntei, como se faz isso de colocar um pé após o outro, equilibrando a cabeça sobre os ombros, mantendo ereta a coluna vertebral, desaprendia, não era quase nada, eu, mantido apenas por aquele fio invisível ligado à minha cabeça, agora tão próximo que se quisesse eu poderia imaginar alguma coisa como um zumbido eletrônico saindo da cabeça dele até chegar na minha, mas como se faz? eu reaprendia e inventava sempre, sempre em direção a ele, para chegar inteiro, os pedaços de mim todos misturados que ele disporia sem pressa, como quem brinca com um quebra-cabeça para formar que castelo, que bosque, que verme ou deus, eu não sabia, mas ia indo pela chuva porque esse era meu único sentido, meu único destino: bater naquela porta escura onde eu batia agora. E bati, e bati outra vez, e tornei a bater, e continuei batendo sem me importar que as pessoas na rua parassem para olhar, eu quis chamá-lo, mas tinha esquecido seu nome, se é que alguma vez o soube, se é que ele teve um dia, talvez eu tivesse febre, tudo ficara muito confuso, idéias misturadas, tremores, água de chuva e lama e conhaque no meu corpo sujo gasto exausto batendo feito louco naquela porta que não abria, era tudo um engano, eu continuava batendo e continuava chovendo sem parar, mas eu não ia mais indo por dentro da chuva, pelo meio da cidade, eu só estava parado naquela porta fazia muito tempo, depois do ponto, tão escuro agora que eu não conseguiria nunca mais encontrar o caminho de volta, nem tentar outra coisa, outra ação, outro gesto além de continuar batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo nesta porta que não abre nunca."

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

COM DEUS NÃO SE BRINCA?

Hoje à tarde recebi um e-mail de um ex-colega de teatro do Senac, que trazia um link para o You Tube em que ele mostrava - não só para mim, mas para um monte de gente - uma locução que acabara de realizar. Esse meu ex-colega faz uns bicos de locutor. Gostei do trabalho dele e respondi, parabenizando-o. Mas, prestando atenção no texto, que ele me disse depois não ser de sua autoria, não consegui deixar passar. E critiquei violentamente o que se pretendia dizer com aquilo. Era um texto com cunho religioso, bem do tipo que padres e pastores (estes, principalmente) adoram discursar do alto de seus púlpitos dourados. O texto chamava-se "Com Deus Não Se Brinca". É o tipo de ameaça que as religiões cristãs adoram fazer, e que eu detesto e abomino. Essa idiotice de "temer a deus". Ora, se eu fosse religioso, eu procuraria amar deus e não temê-lo. Embora eu ache mais importante o amor entre os homens do que o amor a deus. Mas, como disse, não sou religioso. Em tom ora ameaçador, ora professoral, o texto associava as mortes de John Lennon, Tancredo Neves, Cazuza, Marilyn Monroe, e vários outros famosos, a frases que eles disseram em algum momento de suas vidas em tom de blasfêmia ou meramente jocoso. Como se uma coisa levasse à outra. É muita ingenuidade pensar assim, eu disse ao meu colega. Ora, morrer faz parte da vida. Tancredo Neves, por exemplo, morreu porque era velho e estava muito doente. As pessoas morrem, principalmente se forem velhas e estiverem doentes. É assim que funciona. Em 1966, John Lennon disse que os Beatles eram mais populares que Jesus Cristo. E, naquele momento, no auge da beatlemania, eram mesmo. Aí, no texto, meu colega diz que ele levou cinco tiros de um fã, logo depois. Como assim? Ele foi assassinado por um maníaco (não um fã) em 1980 - portanto, quase 15 anos depois! Fui dizendo ao meu colega, se a gente levar a sério esse jeito de pensar as fatalidades da vida, como se explicaria a morte de Ayrton Senna, por exemplo? Quem lembra dele, sabe que ele era um sujeito religioso, católico, que usava a palavra "deus" o tempo todo, fazia caridade, era querido por todos, etc. Ora, ele morreu num trágico acidente, "logo depois", como todos nós sabemos. De novo: as pessoas morrem, sejam elas boas ou más. Que nós possamos nos amar e respeitar um pouco mais, em vez de perder nosso tempo "temendo a deus" ou seguindo lógicas equivocadas como a desse texto que meu colega narrou.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

UMA ROTINA DIFERENTE

Esses dias de molho têm me imposto uma rotina bem diferente da que eu levava antes do acidente. Nas duas primeiras semanas, tinha que ficar deitado com o pé para cima, sobre um almofadão. Só fiz ler e ver TV. De uma certa forma, foi produtivo, porque finalmente dei cabo de alguns livros que se acumulavam na estante, pedindo a vez, e assisti a uns dez ou doze bons filmes. Sou sócio de uma locadora em que a dona é cinéfila. Ela tem um belo acervo de clássicos e filmes de arte, todos muito bem catalogados e com fichinhas que ela própria confecciona e acrescenta ao encarte do DVD. Meus dias - e, principalmente, noites - de ócio foram preenchidos com as obras monumentais de Bergman, Antonioni, Visconti, Kurosawa e Eastwood. Depois, veio uma semana de trabalho intenso, ainda na cama, mas sentado, com o notebook no colo. Nem preciso dizer que passou voando. Agora, entro na minha quarta semana de recuperação. As novidades são a fisioterapia e a volta aos ensaios - sentado ou de muletas. As duas peças que estou fazendo já têm estreia marcada: uma em novembro, outra em dezembro. Falarei delas mais para frente. Agora digo apenas que estou feliz por estar de volta a uma atividade de que gosto muito e da qual senti uma falta imensa nesses dias em que fiquei parado. O pé está melhorando a cada dia. Com os exercícios da fisioterapia, os movimentos estão voltando, ainda que com alguma dor (o que é normal). Só saio de casa para ir a três lugares: ensaios, hospital (para os retornos) e fisioterapia. Essa reclusão forçada me fez pensar em como não damos muito valor a certas coisas que, de tão naturais, são quase desprezadas. Refiro-me ao ato de andar. O que há um mês era algo em que eu não pensava, agora é o que eu mais desejo. Simplesmente por os pés (os dois, vejam bem) no chão e sair por aí. Sempre gostei de andar. Passei a gostar ainda mais quando morei no Japão. Foi um hábito que não perdi na volta ao Brasil - já disse, num post antigo, que eu aprendi a contemplar no Japão, mas isso infelizmente ficou por lá. Sei que ainda tenho algumas semanas pela frente nesta situação. Até que está passando rápido, para falar a verdade. Mas tem horas que a vontade é simplesmente pular da cama e sair andando.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

MINHA BOTA ROBOCOP

Hoje à tarde, tirei os pontos e o gesso. Estou usando aquela bota que parece o pé do Robocop. O médico disse que a fratura colou bem e os dois cortes fecharam. Tudo perfeito. Portanto, o pior passou. Essas duas primeiras semanas não foram bolinho. A primeira, por causa da dor. A última, mais pela limitação do movimento, pelo fato de estar em casa o tempo todo, sem poder por o nariz pra fora. Agora, com um pouco de paciência, tudo vai voltando ao normal. Mas já deu para tirar algumas lições disso tudo. A primeira é sobre o tempo, como se relacionar com ele. Já falei sobre isso num post passado. Uma outra é sobre como entrar em cena. Quebrei o pé num ensaio. Foi um dia confuso, com atividades importantes nos três períodos, de manhã, de tarde e à noite. Praticamente sem intervalos entre elas. Cheguei atrasado ao ensaio da tarde e, numa vã tentativa de compensar isso, já fui entrando em cena, sem me aquecer, sem me concentrar, sem abandonar a energia "da rua" e trocar pela energia da cena, do teatro. Foi a primeira e a última vez que agi assim. Nunca mais faço isso. É claro que não foi especificamente isso que me fez quebrar o pé, mas com certeza contou. Estou certo disso. Foi uma lição. Estamos sempre aprendendo, não importa a idade. Hoje à noite, voltei ao ensaio de "Os Gigantes da Montanha", após duas semanas. Já dá pra enxergar uma peça ali. Agora preciso correr atrás. Com a bota Robocop, minha nova companheira.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

SOBRE O TEMPO

Continuo aqui, direto do quarto (opa!), de molho, com o pé pra cima. Na segunda, completam duas semanas da fratura. Está bem melhor, desinchou, dói menos. Os pinos, metidos, às vezes insistem em se fazer notar. E eu sinto na pele - ou embaixo dela. Agora, o que pega mesmo é essa limitação de movimento. Coisas banais, como comer ou tomar banho, merecem toda uma logística. E o dobro do tempo. Engraçada, essa coisa do tempo. Faz alguns anos que eu venho tirando o pé do acelerador. Planejando menos, fazendo menos coisas num mesmo espaço de tempo, reduzindo metas, eliminando outras. Quando se tem 20 anos, a ideia é fazer, fazer, cada vez mais. Acho que, depois, na virada dos 40, importa menos a quantidade, e mais a qualidade do que se faz. Menos é mais. Lembro de um filme que assisti, em que o personagem vivido pelo extraordinário Micheal Caine, um velho escritor, ganhador do Pulitzer, acometido de um câncer terminal, dizia para o filho de meia-idade (Nicholas Cage), que vivia a vida no estilo "tudoaomesmotempoagora", que a uma certa altura da vida o negócio é começar a tirar projetos da frente, desistir de algumas coisas, priorizar outras. O filme não tem nada de mais, mas esta cena nunca mais saiu da minha cabeça, pai e filho conversando dentro do carro, e uma tempestade caindo do lado de fora. Concordo totalmente. Desde meus 17, 18 anos, venho listando coisas para fazer, dos mais variados gêneros. Realizei, de fato, uma boa parte delas. Mas uma outra (boa) parte da lista restou intocada. E essas coisas não realizadas ficavam na minha cabeça, gerando algum desconforto, algo como "ei, estou aqui, tá?". Mais ou menos na época do filme, já pensava: "por que ainda tenho que fazer isso? Não tenho que fazer isso porra nenhuma, oras". E fui desistindo de um monte de coisas, que hoje não me fazem nenhuma falta. Tenho uma certa pena de gente já idosa que ainda corre atrás do tempo. Tá certo que é difícil ter uma velhice tranquila num país de merda como o Brasil, em que a aposentadoria pública é uma piada. Quem não tem um plano complementar, privado, raramente consegue se aposentar sem ter que continuar trabalhando, mesmo que seja (e normalmente é) no mercado informal. Quando morei no Japão vi o que é uma velhice suave, leve. Não é à toa que lá se chega fácil aos 100 anos. Na época, eu brincava (?) com meus amigos que iria morrer no Japão. Quando chegasse a uns 70 anos me mudaria para uma cidade como Kyoto e passaria lá os meus derradeiros momentos de vida. É que lá essa coisa do tempo é ainda mais maluca. Você está no centro de Tóquio e a imagem futurista é aquela loucura que todo mundo conhece, milhares de pessoas correndo de um lado para outro feito formigas (para onde vão?), luzes por todos os lados, etc. etc. Aí você pega o trem ou o metrô, anda duas ou três estações e cai num bairro como o que eu morava, que parece uma cidade do interior. Eu, na verdade, até destoava dos moradores de lá, na maioria jovens casais com filhos pequenos, sempre no carrinho, ou soltos pela rua, brincando nos inúmeros parques, ou velhinhos e velhinhas passeando, nunca de mãos dadas (é Japão), ou então, costas curvadas, cuidando do jardim. Para eles, o tempo é outro. Não corre. Não passa. E, por isso, eles vivem (não apenas sobrevivem). E duram.

domingo, 6 de setembro de 2009

A HORA DA PACIÊNCIA

Estou de molho, na cama, com o meu recém-adquirido notebook no colo, digitando este post depois de alguns dias sem dar as caras por aqui. Há uma semana, mais exatamente na segunda 31/08, quebrei o pé. Foi de um jeito bobo, como costumam ser esses acidentes. Estava ensaiando a peça "Destinos", na antiga Escola das Meninas, uma casa abandonada, em ruínas, na Vila Maria Zélia. Pisei em falso, escorreguei, meu corpo todo foi para um lado e o pé ficou. Resultado: três fraturas. Ganhei de presente nove pinos e uma placa de aço, que fazem questão de serem sentidos a cada minuto. Nos primeiros dias, as dores eram atrozes. Agora diminuíram um pouco. Os meus amigos do Grupo XIX, com quem ensaio a peça, foram de um carinho e preocupação absurdos. Ficaram comigo no hospital, ligaram, mandaram e-mails. O Victor disse que eu levei muito a sério aquela história de "quebre uma perna", que se costuma dizer antes de entrar em cena. E o Fabião mandou uma mensagem que me emocionou. Um texto do Rilke, que diz que o tempo do artista é outro, que não pode ser visto como mera unidade de medida. Nas próximas semanas ou meses, a noção de tempo vai mudar para mim. Tudo agora é feito lentamente. Meu pé, por enquanto, não pode encostar no chão. Atos banais, como tomar banho ou escovar os dentes, merecem agora toda uma logística. Tenho muito trabalho pela frente e uma série de compromissos a cumprir. Vou cumpri-los, mas talvez de um jeito diferente do que estava previsto. As duas peças que estou ensaiando, "Destinos" e "Os Gigantes da Montanha", têm estreia marcada para novembro. Até lá espero estar totalmente recuperado, pisando direitinho. A palavra agora é uma só: "paciência".