sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

ATÉ O ANO QUE VEM


Este blog volta a ser atualizado na primeira semana de janeiro. Parto amanhã para a praia, na companhia de bons amigos, uma ou duas boas leituras, banhos de mar para lavar a alma, sombra e cerveja gelada. Que a foto acima sirva de inspiração. Boa virada de ano para todos nós.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

TOP 10

Nunca fui tanto ao teatro como em 2009. Foram 54 peças no total - mais de uma por semana, em média. Poderia até ter sido mais, se eu não tivesse passado o mês de setembro inteiro de molho, sem sair de casa, por causa do pé quebrado. Chega agora o fim do ano e surgem as listas de melhor isso, melhor aquilo. Então resolvi elencar abaixo, em ordem de preferência, as dez peças de que mais gostei em 2009.

1 - Hamelin
2 - Troianas – Vozes da Guerra
3 - A Casa
4 - Comunicação a Uma Academia
5 - A Falecida Vapt Vupt
6 - O Fingidor
7 - Foi Carmen
8 - Memória da Cana
9 - Rainha(s)
10 - Zoológico de Vidro

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A ÚLTIMA DO ANO



Amanhã tem "Os Gigantes da Montanha", de Pirandello, no Club Noir. Começa pontualmente às 21h. Recomenda-se chegar pelo menos uma hora antes, porque são poucos lugares e costuma lotar. É a última apresentação do ano. A peça volta em 16 de janeiro e fica até o fim de fevereiro.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

É CERTO QUE VOLTAREMOS


Domingo foi a última apresentação de "Destinos" em 2009. A boa notícia é que voltaremos ao cartaz em março. Fizemos uma reunião ontem na casa do nosso diretor Luiz Fernando Marques (o Lubi) e definimos algumas metas para 2010. Os ensaios recomeçam em fevereiro para que possamos fazer as novas apresentações a partir do mês seguinte. Fiquei contente com a presença da minha família e de bons amigos na platéia. A chuva quase adiou a peça, mas fomos em frente - em alguns momentos, sob uma leve garoa. Agora, nosso grupo está de férias. Na foto acima, em cena com meu brother Adriano Merlini.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

BETO BEATLE*


Beto tinha seis anos de idade quando conheceu os Beatles, no ano passado. Logo de cara, o menino ficou fascinado pela música que descobriu, sem querer, ao percorrer as estações do rádio de seu pai. Passeando pelo dial, um dia Beto sintonizou a BBC de Londres, em ondas curtas, e ouviu algo que nunca acreditara ouvir – e que, provavelmente, irá mudar sua vida. Morador do bairro Paulicéia, próximo à Santana, na zona norte de São Paulo, Beto e seus vizinhos não conseguem mais brincar de outra coisa: são agora os "Beatles do Brasil". Na rua onde mora com a família, bem em frente à sua casa, vivem dois amigos, Claudio e Antonio Carlos. Claudio tem a mesma idade de Beto, e Antonio Carlos tem doze anos – o mesmo que Aily, irmã de Beto.
Todas as tardes, as quatro crianças se reúnem na casa de Claudio e Antonio Carlos. E, então, começa a mágica, uma brincadeira lúdica, possível apenas no mundo dos pequenos. A cena é a seguinte: Antonio Carlos é Ringo Starr. Sua "bateria" é composta de um pufe, algumas caixas de papelão, uma lata de biscoitos Piraquê e algumas tampas de panela – que fazem as vezes de pratos. Claudio é John Lennon. Aily, Paul McCartney. E Beto, George Harrison. Os três – John, Paul e George – empunham suas "guitarras", que são, na verdade, cabos de vassouras com barbantes amarrados às pontas, imitando as correias. Ficam prontos, atentos, apenas esperando que a BBC toque a próxima música dos Beatles. Não é preciso dizer que, nesses tempos em que a beatlemania tomou conta do país, é uma música atrás da outra. E então começa a performance das crianças. Imitam os Beatles? "Nós somos os Beatles!", gritam, em uníssono. Beto, como George, é o solista da banda. Quando chega o momento do solo, só ele – e mais ninguém – pode fazer movimentos na "guitarra". Se algum outro fizer, a apresentação termina imediatamente, seguida do choro escandaloso do "solista". Como é o caçula do grupo, todos aceitam e mantêm-se nas "funções" preestabelecidas.
Beto estuda no Lar Escola Santana, que fica no fim da rua onde mora. Sua rotina é ir à aula de manhã, voltar na hora do almoço, e preparar-se ansiosamente para as "apresentações" da banda, que acontecem sempre à tarde. É assim todos os dias da semana. Há poucos meses, começou a aprender violão. Era inevitável. A família apóia - principalmente sua mãe, que agora pode contar novamente com as vassouras cumprindo suas funções normais de limpeza da casa. Beto já começa a praticar no instrumento, ouvindo e tentando tirar as duas músicas do único single dos Beatles lançado no Brasil até agora, "Please Please Me" e "From Me To You".
As ondas curtas da BBC atraem também os mais velhos. Os pais e tios de Beto costumam passar um bom tempo na frente do rádio, tentando traduzir alguma coisa do que ouvem. Não é muito fácil, pois não são muito familiarizados com o inglês e, além disso, os locutores britânicos falam rápido demais. Juntamente com as revistas sobre os Beatles que começam a pipocar nas bancas nos últimos meses, é a única forma de saber das notícias sobre a banda.
Embora pertençam a uma família de classe média baixa, os pais do pequeno Beto procuram atender como podem todas as "reivindicações beatlemaníacas" do filho. "Reivindicações que se transformam em 'esperneações' sem fim, caso não sejam atendidas", conta a mãe de Beto, com ar brincalhão. E ela se emociona ao lembrar do primeiro corte de cabelo beatle do filho ("com aquela franjinha na altura das sobrancelhas"), de seu lindo sorriso de menino quando ganhou no Natal passado sua beatle-botinha com salto "carrapeta", da vitrolinha portátil tocando Beatles sem parar, do álbum de figurinhas, e, principalmente, do amor que Beto começou a nutrir por esses quatro rapazes de Liverpool. Um amor que deverá permanecer, incondicionalmente.

*O texto acima é uma singela homenagem ao meu amigo e mestre Beto Iannicelli que, desde 2004, vem me ensinando a me relacionar com a música de um jeito diferente - a ouvi-la de uma forma vertical. Sua cartilha é a obra dos Beatles, que Beto conhece como poucos no mundo. Beto é de 1957, dez anos mais velho que eu. Quando a beatlemania chegou ao Brasil, em 1964, ele tinha sete anos. O texto acima é uma matéria fictícia, imaginária, publicada naquela época em qualquer jornal paulistano, e mostra como um menino descobriu tão cedo a magia de se apaixonar por uma banda de rock - no caso, a maior de todas, em todos os tempos e lugares. Beto se formou em violão clássico ainda adolescente e, depois, tornou-se maestro. Como músico e arranjador, trabalhou com todos os bambas da MPB nas décadas de setenta e oitenta. Há dez anos, dedica-se a transmitir a imensidão do seu conhecimento musical a uma centena de alunos, que, como eu, são seus fiéis seguidores. E tudo começou solando num cabo de vassoura ao som de "Please Please Me", "From Me To You", "I Wanna Hold Your Hand"...

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

NESTE FIM DE SEMANA



Clique na imagem acima para ver a sinopse da peça. Já falei sobre ela no post anterior. Espero você lá.

"DESTINOS", de Paulo Emílio Sales Gomes

Direção: Luiz Fernando Marques
Assistente de Direção: Tatiana Rehder
Elenco: Adriano Merlini, Andre Castelani, Carlos Sobrinho, Flavio Drummond, Hélio Tozato, Iury Lupaudi, Luiz Calvo, Paulo Cunha, Renato Nonato, Uanderson Melo, Victor Lucena.

Local: Grupo XIX de Teatro (Vila Maria Zélia)
Sábado e domingo, às 16h. Grátis.
Temporada: 28 de novembro a 13 de dezembro.

Como chegar? www.grupoxixdeteatro.ato.br

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

DESTINOS


Amanhã estreia a nova peça que estou fazendo, "Destinos". Realizamos duas apresentações fechadas, no sábado e domingo passados, para um grupo de estudantes de teatro. Foi mais um ensaio aberto, no qual pudemos perceber o que funcionou bem e o que precisava ser corrigido. A partir de agora é para valer, aberto ao público e com divulgação na mídia. A montagem é o resultado de uma oficina do Grupo XIX de Teatro -responsável pelas premiadas "Hysteria", "Hygiene" e "Arrufos". Estamos juntos desde março. Foi quase um ano de um processo muito interessante, conduzido pelo diretor Luiz Fernando Marques, o Lubi. Convivi com uma gente maravilhosa, com quem aprendi bastante. Ainda vou falar mais sobre essa turma, em outro post, mais para frente. Hoje vou contar um pouco sobre a peça, ainda que resumidamente. "Destinos" é um texto escrito por Paulo Emílio Sales Gomes na década de 30. O Brasil vivia um período turbulento, os primeiros anos da ditadura de Getúlio Vargas. Não era fácil ser paulista naquela época - ainda não é, mas isso é outra história. A revolução de 32 havia sido sufocada e os jovens estudantes e operários eram os principais opositores do regime. Pipocavam greves e protestos, que eram rechaçados com violência pela polícia. Intelectuais eram presos e torturados. Paulo Emílio foi um deles. Escreveu e montou a peça na cadeia. Numa cela da prisão especial para presos políticos, localizada onde hoje é a fábrica da Goodyear, na Vila Maria Zélia, zona leste de São Paulo. Trata-se de uma vila operária, fundada em 1917, por Jorge Street, dono da Fábrica de Tecidos de Juta. Ela ficava no entorno da fábrica, uma forma de manter os operários bem próximos aos olhos do patrão. A vila hoje é um oásis de paz e calmaria bem no meio da cidade. As casinhas, apesar de restauradas, mantêm a arquitetura da época. Os moradores são, na maioria, filhos e netos dos operários originais. Há alguns prédios "públicos", como a igreja (que fica em frente à pracinha, logo na entrada da vila), o armazém e o boticário anexo, ambos desativados e que hoje servem de sede do Grupo XIX, e a escola de meninas, local escolhido para ser o cenário da nossa peça. O local é fantástico para uma montagem. Os personagens interagem com as ruínas da velha escola e tudo vira mágica. Somos transportados - atores e público - para aqueles tais dias turbulentos de nosso passado histórico. Em agosto, num ensaio, quebrei o pé exatamente num canto dessa escola. Sempre que passo pelo local, olho bem e penso: "Foi aqui". Mas disse que ia falar sobre a peça. Carlos e Álvaro são dois jovens estudantes, da classe alta paulista, filhos de um fazendeiro do café. Carlos (meu personagem) é um idealista, revolucionário, que se põe na luta ao lado do povo. Álvaro gasta sua mocidade e o dinheiro do pai na farra, ao lado de gente com pouca credibilidade, como se dizia na época. São esses dois destinos, absolutamente opostos, o mote da peça, ao qual se agregam outros personagens interessantes como um cafetão, um operário amigo com sotaque da Moóca, outros revolucionários, um agiota, etc. Um história de luta, contada de uma forma diferente (méritos para o nosso diretor, o Lubi), e que reserva algumas surpresas. Aguardo vocês.

"DESTINOS", de Paulo Emílio Sales Gomes

Direção: Luiz Fernando Marques
Assistente de Direção: Tatiana Rehder
Elenco: Adriano Merlini, Andre Castelani, Carlos Sobrinho, Flavio Drummond, Hélio Tozato, Iury Lupaudi, Luiz Calvo, Paulo Cunha, Renato Nonato, Uanderson Melo, Victor Lucena.

Local: Grupo XIX de Teatro (Vila Maria Zélia)
Sábado e domingo, às 16h. Grátis.
Temporada: 28 de novembro a 13 de dezembro.

Como chegar? www.grupoxixdeteatro.ato.br

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

TUDOAOMESMOTEMPOAGORA

Frila da Casa Cor, para a Casa Claudia. Rebarba do frila da Choque Cultural, para a Casa Claudia Luxo. Frila dos Beatles, para o "Na História" da Veja Online. Véspera de estreia de "Destinos", na Vila Maria Zélia, com falas e novas marcações ainda a serem estudadas. A uma semana de outra estreia, de "Os Gigantes da Montanha", no Club Noir - a montagem começou a engatar de verdade agora, faz uns dois ensaios. Continua a pesquisa para a cena de "Antígona" - agora é a hora da gênese (parte importantíssima da construção) do meu personagem, o Corifeu. Preparar duas cenas, uma contemporânea, outra clássica, para o teste do CPT, na próxima terça de manhã. Vou de Nelson Rodrigues + Tragédia Grega. Ensaios diários até o dia do teste. Preparativos para inscrição de "Sudatorium", a minha peça da sauna, na Fringe do Festival de Curitiba. Falta discutir alguns assuntos com o diretor, o meu amigo Edu Brisa, e fechar o elenco. Ah, é claro, sessões diárias de fisioterapia. Meu pé começa a se comportar como antes. Cabe tudo isso em 24 horas diárias?

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

SÓFOCLES SABE TUDO

Um pouco mais de "Antígona". As dez melhores pérolas do primoroso texto de Sófocles, na tradução esperta do Millor Fernandes.

1. "Devo respeitar mais os mortos que os vivos, pois é com eles que vou morar mais tempo." (Antígona)

2. "Quero vos prometer (...) jamais colocar o maior interesse do melhor amigo e do mais íntimo parente acima da mais mesquinha necessidade do povo e da pátria." (Creonte)

3. "Quem jamais saberá de que ousadias é capaz a ambição humana?" (Creonte)

4. "Ninguém ama um portador de más notícias." (Guarda)

5. "Os homens não inventaram nada mais nefasto do que o dinheiro." (Creonte)

6. "Dizem que a justiça é lenta, mas não existe nada mais veloz que a injustiça". (Guarda)

7. "Na criação que o cerca [o homem], só dois mistérios terríveis, dois limites. Um, a morte, da qual em vão tenta escapar. Outro, seu próprio irmão e semelhante, o qual não vê e não entende." (Coro)

8. "O povo fala. Por mais que os tiranos apreciem um povo mudo, o povo fala. Aos sussurros, com medo, na semi-escuridão, mas fala." (Antígona)

9. "Uma geração não redime outra geração, e a raça continua olhando no infinito sem avistar jamais o fim de suas desditas." (Coro)

E, por último, a melhor de todas, he he:

10. "Não existe só um prado fértil. Não existe só uma mulher no mundo." (Creonte)

sábado, 7 de novembro de 2009

EFEITO SAUNA


Mais um pouco de "Sudatorium", a minha peça da sauna. A foto aí de cima foi tirada pelo meu amigo Sugis um pouco antes da apresentação do domingo passado, nas Satyrianas. E eu que achava que só ator fica nervoso antes de entrar em cena - eu, quando atuo, quero que o mundo acabe naqueles cinco minutos anteriores ao início da peça. Percebi que o autor, o dramaturgo, também fica, embora seja uma sensação diferente. Eu estava sentado na escadinha que dá acesso ao palco, vendo o público entrar e só pensava numa coisa: será que eles vão gostar? E não podia fazer mais nada, porque a bola já estava com os atores, agora era com eles. No final, deu tudo certo. Claro, foi uma primeira apresentação. Há muito o que fazer, mexer, criar, corrigir. Mas ficamos, todos, satisfeitos com o resultado. O público, ao que parece, também gostou. Muita gente veio falar comigo depois, dizer o que achou. Outros preferiram escrever. Abaixo, dois comentários interessantes de amigos, que chegaram à minha caixa postal.

"Parabéns pela peça. Levanta questões sobre masculinidade de modo sutil e divertido. Todo mundo elogiou. Abraço!" (Rodrigo Brasil, jornalista e poeta)

"Parabéns pela peça, querido. Adorei! Ela é leve, engraçada, nos faz refletir sobre a responsabilidade pelas nossas escolhas e, de um jeito bem articulado, mostra os aspectos luminosos e sombrios sempre presentes nas relações de amizade. Eu adorei poder adentrar uma sauna cheia de homens (oba! rsrs.) e descobrir que o universo masculino, às vezes tão grotesco na aparência, é também repleto de delicadeza e afetividade. Parabéns! Continue escrevendo. Mande um abraço e os parabéns para o Edu, também. Adorei reencontrar vocês. Beijos." (Majori Claro, escritora)

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

UMA DICA PRA QUEM GOSTA DE ESCREVER



Minha grande amiga Adriana Calabró criou uma oficina para quem gosta de escrever e deseja aprimorar sua técnica, ficar mais familiarizado com os vários recursos estilísticos e, ainda, desenvolver sua criatividade. Eu acho que vai ser legal. Conheço a Dri há mais de duas décadas. Sei da sua competência e do seu talento como escritora. É uma das pessoas mais criativas que eu conheço. E, ao contrário do que muita gente pensa, criatividade também se aprende. Claro, a pessoa pode nascer com alguma aptidão para isso. Mas é preciso desenvolvê-la, há técnicas para isso. A Dri domina essa técnicas e vai mostrar isso na sua oficina: como escrever um texto estruturado, a partir das técnicas disponíveis, mas de forma criativa, não amarrada. Mas estou falando muito. Vou deixar que ela mesmo conte um pouco sobre a oficina. Diz aí, Dri:

Seja para aqueles que usam a escrita como instrumento de trabalho, como redatores e jornalistas, seja para os que querem dar vazão ao seu talento literário, a proposta dessa Oficina é oferecer ferramentas para o desenvolvimento de um texto ao mesmo tempo estruturado e criativo. Em dois encontros, os participantes poderão entender o processo e as etapas da escrita e treinar suas capacidades por meio de exercícios práticos. A Oficina de Escrita Criativa Palavra Criada, é ministrada pela escritora, redatora e articulista Adriana Calabró Orabona e tem se mostrado um espaço propício à reflexão e ao debate de idéias. Na literatura, Adriana já lançou 3 livros: Dezamores (Antologia – Sesc/Escrituras), Autobiópsia (mini-contos – Edição de Autor) e Dois Polos (Romance – Escrituras – vencedor da bolsa de literatura do PAC – atual ProAC). Também ganhou prêmios nacionais e internacionais como redatora, dentre eles o Best of Bates International e o Anuário de Criação de São Paulo. Atualmente, é editora-chefe das revistas SJP e Evol Arts e sócia da Expanding Comunicação. Cursou Comunicação na ECA-USP e fez cursos de extensão em Relações Públicas e Marketing na New York University.

Datas: 7 e 14/11 das 10h às 14h
Informações com Camila Rossi – camilarossi@gmail.com ou palavracriada@gmail.com

terça-feira, 3 de novembro de 2009

"TAMO JUNTO"


Minha peça "Sudatorium" - "a da sauna", como já vem sendo chamada - estreou na virada do domingo para a segunda, feriado, nas Satyrianas. Foi um momento mágico para mim. O Teatro do Ator, na Praça Roosevelt, estava totalmente lotado, com mais de100 espectadores - havia até cadeiras extras, que tiveram de ser colocadas para tentar acomodar todo mundo. E, mesmo assim, não deu. Vi gente dando meia volta na fila, quando disseram que os ingressos haviam se esgotado. Amigos ligaram se desculpando por não terem conseguido entrar. Ainda estou digerindo tudo isso. Estou pensando bastante e tenho muita coisa a dizer sobre o que aconteceu e o futuro da peça - mas não será agora. Nesse momento, eu quero apenas agradecer a quatro pessoas fundamentais nessa história: Edu Brisa, Adriano Merlini, Carlos Sobrinho e Edson Aranha. O Edu já é meu parceiro de algum tempo. Fizemos algumas coisas juntos e admiro muito seu trabalho como ator, diretor e dramaturgo. Foi ele quem dirigiu essa montagem de "Sudatorium". O tempo, apertadíssimo, não foi obstáculo para eles. O Edu conseguiu dar forma à peça e, com competência e a habitual generosidade, extraiu o que pôde dos atores. Ah, os atores... Adri, Carlão e Edson - que estão na foto acima, clicada pelo meu amigo Sugis - foram verdadeiros guerreiros. Decoraram o texto em pouco tempo e deram vida aos três personagens - que agora são mais deles do que meus. Tiraram aquelas palavras do papel e as atiraram no palco. Para mim, como dramaturgo, é incrível a sensação de ver/ ouvir aquelas falas que eu escrevi há algum tempo, e que fazem todo sentido para mim, sendo ditas por eles, fazendo sentido para eles também e, finalmente, indo parar nos ouvidos, mentes e corações da plateia - e fazendo sentido para ela também. Ouvi comentários muito bacanas de várias pessoas que assistiram à peça. Agora é pensar para frente. Vamos levar "Sudatorium" para Curitiba, no grande festival de teatro que acontece lá, em março. Depois, vamos colocá-la em cartaz e tentar ficar o máximo de tempo nos palcos em 2010. O time é esse aí. E como o Edu costuma dizer: "Tamo junto!"

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

ANIVERSÁRIO + SAUNA


Meus queridos e minhas queridas, hoje é meu aniversário. Nos e-mails que disparei pra galera, escrevi que completo 24 primeveras. Não colou. Fui alvo de chacota. Devia ter arriscado uns 33, 34. Agora, estou dizendo que foi erro de digitação: inverti os dois números. Mas o fato é que tenho um duplo convite para fazer a todos vocês, caríssimos. Hoje à noite, vou receber os amigos e as amigas no Finnegan's Pub (Rua Cristiano Vianna, 358, Pinheiros - esquina com a Rua Artur de Azevedo), a partir das 22h. O bar estará em clima de Halloween, com música ao vivo (pop, rock, indie, glam), gente de preto, etc. Reservei uma mesa grande, no andar de cima, onde é mais tranquilo e dá pra conversar. Portanto, é para gregos e troianos: agito embaixo, chill out em cima. Não paga nada pra entrar, mas paga pra sair. (He he, desculpem, não resisti.) Homem $13; mulher $10. Gostaria muito de ver quem não vejo faz tempo e rever quem está comigo no dia-a-dia. Segundo, minha peça "Sudatorium", a da sauna, foi selecionada para as Satyrianas 2009. Será apresentada no Teatro do Ator (Praça Roosevelt, 172, Centro), no dia 02/11, à 0h30 (virada do domingo para a segunda, feriado). Estão todos convidados. No último post, disse que era de graça. Desculpem, errei. Ou quase: na verdade custa $2 (dois reais). É o valor mínimo. Quem quiser paga mais. É o sistema adotado nas Satyrianas deste ano. O flyer de "Sudatorium" está, mais uma vez, aí em cima. Gosto muito desta foto. Ela é soturna, como é o clima da peça. Espero que seja o começo de uma bela carreira para essa sauna.

Três amigos de muito tempo estão relaxando, suando em bicas e jogando conversa fora. Papo vem, papo vai, e a temperatura começa a subir. Em todos os sentidos. Antigas rusgas reaparecem em meio ao calor. Pequenas frustrações emergem do suadouro. Quarentões, percebem que chegaram à metade de suas vidas. E, de uma hora para outra, querem passar tudo isso a limpo. No meio de uma sauna.

"Sudatorium", de Paulo Cunha
Direção: Edu Brisa
Com Adriano Merlini, Carlos Sobrinho e Edson Aranha
Segunda 02/11, 0h30, virada do domingo para segunda - Nas Satyrianas 2009
Teatro do Ator - Praça Roosevelt, 172, Centro.
R$ 2,00 (valor mínimo). Quem quiser, paga mais.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

SUDATORIUM NAS SATYRIANAS 2009


Três amigos de muito tempo estão relaxando, suando em bicas e jogando conversa fora. Papo vem, papo vai, e a temperatura começa a subir. Em todos os sentidos. Antigas rusgas reaparecem em meio ao calor. Pequenas frustrações emergem do suadouro. Quarentões, percebem que chegaram à metade de suas vidas. E, de uma hora para outra, querem passar tudo isso a limpo. No meio de uma sauna.

Sudatorium, de Paulo Cunha
Direção: Edu Brisa
Com Adriano Merlini, Carlos Sobrinho e Edson Aranha
Segunda 02/11, 0h30, virada do domingo para segunda - Nas Satyrianas 2009
Teatro do Ator - Praça Roosevelt, 172, Centro.
Grátis.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

SOBRE BORTOLOTTO, IPODS, CAMINHADAS, CAIO FERNANDO E UM POUCO DE SOLIDÃO

Costumo ler o blog do Mario Bortolotto (http://atirenodramaturgo.zip.net/). Não o conheço pessoalmente, não sou seu amigo, nunca tomamos umas juntos. Já assisti a umas dez peças dele e devo ter lido umas outras dez. Quando eu estudava teatro no Senac, na turma da noite, a gente costumava matar a aula da sexta-feira para assistir a alguma peça. Fomos a umas três ou quatro do Bortolotto. Lembro que minhas amigas, e minha namorada na época, detestavam. Achavam o texto machista, as atuações fracas, a direção ruim e por aí vai. Concordo em parte. Sempre enxerguei alguma poesia na obra do Bortolotto, em alguns textos mais, em outros menos. E havia ali, pelo menos, uma grande atriz: Fernanda D'Umbra. Mas não era bem disso que eu queria falar. Dizia eu que leio o blog do Bortolotto quase sempre. Tem umas coisas que ele escreve, não tudo, de que eu gosto pra caralho. Talvez porque me identifique com elas. Há algum tempo ele vem escrevendo, quase em todo post, que um de seus prazeres é sentar numa mesa de fundo de bar, e ficar ouvindo um blues no seu mp3. Só ele, a música e uma dose de uísque. Mais ninguém. Pouca gente sabe, acho, mas sou um pouco assim. Sou uma pessoa bastante sociável, mas gosto também de curtir uns momentos sozinhos. Tinha uma época, há uns 20 anos, que eu e minha turma de amigos viajávamos para o Nordeste todo verão. Era sempre lá pelo meio de janeiro, início de fevereiro. Eu sempre dava um jeito de sair uma semana antes, sozinho, e me encontrava com eles depois. Gostava de passar um tempo sozinho. Nessas horas, minhas duas únicas companhias eram o rock e a cerveja. Adorava caminhar pelas praias, com uma latinha na mão e o walkman no bolso do calção. Andava quilômetros. Antes de sair de São Paulo, passava no supermercado e comprava um monte de pilhas alcalinas, que custavam bem mais que as comuns, mas valiam o investimento. Meu walkman era aquele tijolo amarelo, da Sony, que podia entrar na água - era o que diziam, eu nunca testei. Anos depois, numa viagem à praia, na casa do meu grande brother Calabró, o xarope do Cesinha voltou totalmente bêbado da balada e vomitou em cima do walkman. Foi o fim dele. E, por coincidência, era o início da era do CD. Tanto que, semanas depois, comprei meu primeiro diskman, também da Sony. Isso foi por volta de 1991, 92. Dois anos depois, entrei na faculdade de jornalismo, na Cásper Líbero, e esse diskman se tornou o meu companheiro de andarilhagem. Era comum, nesta época, a gente ficar tomando umas na "prainha" da Paulista até fechar o último bar. Era bacana: os bares iam fechando e a gente ia pulando para o do lado, que ainda estava aberto. Meu amigo Paulo Sales, que costuma ler esta bagaça e que tem um puta blog legal (http://paradiseduluoz.blogspot.com/), era um dos que, invariavelmente, se fazia presente. Quando a gente decidia, finalmente, ir embora já não tinha mais ônibus, nem metrô. Eu adorava: sacava meu diskman e saia andando rumo a Pinheiros, onde ainda moro. Às vezes, voltava conversando com a minha amiga Mari, que morava perto de mim, e o diskman não era necessário. Mas era raro. O normal era voltar embalado pelo rock. Aquela época ouvia muito britpop, madchester. Era Oasis, blur, Radiohead, James, Inspiral Carpets, Charlatans, Stone Roses, Happy Mondays, Ride, vai por aí. Passei os quatro anos da faculdade assim. Isso se repetiu quando virei correspondente em Paris e, depois, nos dois anos que passei em Tóquio. Minha rotina era andar, andar pelas ruas desconhecidas, muitas vezes escuras e desertas, raramente perigosas (embora misteriosas), com uma cerveja na mão e sons furiosos saindo dos fones de ouvido. De uma certa forma, a música que eu ouvia refletia o que eu sentia - Oasis ou blur na euforia, Radiohead ou Verve nas horas tristes. Aí, na virada do século surgiu o MP3. Quando comprei meu iPod, demorei a compreender a possibilidade de andar com toda (toda mesmo) minha discografia a tiracolo. Demorei uns dois meses para baixar todos os meus quase 2 mil CDs para aquela caixinha branca que cabia no meu bolso. Eram dias e dias de música concentrados num único dispositivo, à minha inteira disposição.
Desculpem, eu devia ter avisado antes: este é um daqueles posts enormes, que blogueiros costumam escrever quando não têm sono, como é o meu caso agora. Continuando, o MP3 resolveu um grande problema que havia antes de sua existência, que era escolher o cassete ou o CD a colocar antes de sair de casa. Não havia mais o quê escolher - era toda uma parede de CDs para ouvir quando eu quisesse. Mas eu falava de solidão e agora me veio na cabeça um conto do Caio Fernando Abreu, o mais lindo de todos os que eu já li dele. Chama-se "Além do Ponto" e é do livro "Morangos Mofados". Fala de andar bêbado por ruas desertas, sob a chuva, à procura de algo que já se sabe que não vai encontrar. É com um trecho desse conto que eu acrescento alguma beleza neste post sem pé nem cabeça.

"Chovia sempre e eu custei para conseguir me levantar daquela poça de lama, chegava num ponto, eu voltava ao ponto, em que era necessário um esforço muito grande, era preciso um esforço tão terrível que precisei sorrir mais sozinho e inventar mais um pouco, aquecendo meu segredo, e dei alguns passos, mas como se faz? me perguntei, como se faz isso de colocar um pé após o outro, equilibrando a cabeça sobre os ombros, mantendo ereta a coluna vertebral, desaprendia, não era quase nada, eu, mantido apenas por aquele fio invisível ligado à minha cabeça, agora tão próximo que se quisesse eu poderia imaginar alguma coisa como um zumbido eletrônico saindo da cabeça dele até chegar na minha, mas como se faz? eu reaprendia e inventava sempre, sempre em direção a ele, para chegar inteiro, os pedaços de mim todos misturados que ele disporia sem pressa, como quem brinca com um quebra-cabeça para formar que castelo, que bosque, que verme ou deus, eu não sabia, mas ia indo pela chuva porque esse era meu único sentido, meu único destino: bater naquela porta escura onde eu batia agora. E bati, e bati outra vez, e tornei a bater, e continuei batendo sem me importar que as pessoas na rua parassem para olhar, eu quis chamá-lo, mas tinha esquecido seu nome, se é que alguma vez o soube, se é que ele teve um dia, talvez eu tivesse febre, tudo ficara muito confuso, idéias misturadas, tremores, água de chuva e lama e conhaque no meu corpo sujo gasto exausto batendo feito louco naquela porta que não abria, era tudo um engano, eu continuava batendo e continuava chovendo sem parar, mas eu não ia mais indo por dentro da chuva, pelo meio da cidade, eu só estava parado naquela porta fazia muito tempo, depois do ponto, tão escuro agora que eu não conseguiria nunca mais encontrar o caminho de volta, nem tentar outra coisa, outra ação, outro gesto além de continuar batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo nesta porta que não abre nunca."

terça-feira, 20 de outubro de 2009

SATYRIANAS COM SAUNA

Minha peça "Sudatorium" foi selecionada para a Satyrianas 2009. Para quem ainda não conhece, a Satyrianas é uma grande festa de teatro, com 78 horas ininterruptas (de 30/10 a 02/11) de peças, minicenas e performances, que acontece na Praça Roosevelt e arredores, com apoio da Secretaria Municipal de Cultura. "Sudatorium", mais conhecida como "a peça da sauna", foi escrita no começo deste ano. Quero aproveitar e agradecer a Roberto Alvim, que acompanhou todo o processo de escritura, e deu toques pertinentes e esclarecedores. Em maio, o texto recebeu uma leitura encenada, no Club Noir, e repercutiu muito bem. Eu mesmo dirigi e convidei atores amigos meus, que tiraram as palavras do papel e as lançaram no palco. Também agradeço a eles - em especial ao meu brother Fabio Takeo, que, com seu talento e dedicação extraordinários, deu ao personagem Aldo uma dimensão que ele não tinha. Mas agora, para a apresentação na Satyrianas, tudo mudou. Primeiro, decidi passar a direção para mãos mais experientes e competentes que as minhas - chamei meu velho parceiro Edu Brisa. E, por conta de compromissos de trabalho dos atores que fizeram a leitura, tive que mudar todo o elenco. Pelo que conheço dos novos atores - Adriano Merlini, Carlos Sobrinho e Edson Aranha -, a peça tem tudo para dar certo, mais uma vez. Adriano é meu companheiro de cena na peça ("Destinos") que estamos ensaiando com o Grupo XIX. Trabalha também com o Folias, já o vi em cena em "Querô" e gosto muito do seu trabalho. Carlão também está comigo no XIX, sei o quanto o cara é disciplinado e curte o que faz - e faz bem. O Edson também fez "Querô" e me foi apresentado pelo Adriano. Gostei muito da sua atuação na peça do Folias. Então, o que quero dizer é que estou tranquilo quanto à trupe que vai levantar "Sudatorium". E, antes mesmo do primeiro ensaio, que é amanhã, já agradeço a todos os que estão no barco. Tenho certeza que será um processo muito bacana, apesar de curto. É, porque a peça tem que estar de pé em duas semanas (!), já que a apresentação é na virada do domingo 1 para a segunda 2 de novembro, à 0h30. Feriado? Bobagem. Quero ver todo mundo lá! Será no Teatro do Ator, na Praça Roosevelt, 172. Na semana que vem, falo de novo da peça, de como estão os ensaios, e coloco aqui um flyer bem bacana, com os créditos, o local, o horário e tudo mais que todo mundo quer saber. Abaixo, um pedacinho do texto de descrição da peça, que foi encaminhado à comissão de seleção da Satyrianas:

Três amigos de muito tempo estão relaxando, suando em bicas e jogando conversa fora. Papo vem, papo vai, e a temperatura começa a subir. Em todos os sentidos. Antigas rusgas reaparecem em meio ao calor. Pequenas frustrações emergem do suadouro. Quarentões, percebem que chegaram à metade de suas vidas. E, de uma hora para outra, querem passar tudo isso a limpo. No meio de uma sauna.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

ANTÍGONA E O DIREITO NATURAL

Sófocles (496 a.C. - 406 a.C) é, para mim, o maior tragediógrafo grego. Durante sua longa vida, escreveu 123 peças teatrais e conquistou 24 vitórias nos concursos trágicos - na primeira delas, quando derrotou o grande Ésquilo, tinha apenas 28 anos de idade. "Édipo Rei" já bastaria para colocá-lo no olimpo dos poetas clássicos. Acredito que, ao lado de "Hamlet", de Shakespeare, não há nada no gênero com igual estatura. Mas Sófocles escreveu, ainda, "Antígona". Salvo engano, foi a primeira vez que o teatro cuidou, ao menos explicitamente, do tema do Direito Natural - que, muito depois, a ciência jurídica passou a tratar como Jusnaturalismo. A história é bem conhecida: Etéocles e Polinices, os dois filhos varões de Édipo, matam-se um pela mão do outro numa sangrenta batalha pelo trono de Tebas, que ficara vago deste a morte do pai. Quem assume, então, é o parente mais próximo, Creonte, irmão de Jocasta, mulher de Édipo. O primeiro ato do novo rei, ao assumir o poder, é ordenar o sepultamento de Etéocles , que lutara por Tebas, com pompas de herói. Já Polinices, que combatera pela rival Argos, pelo decreto de Creonte não poderia ser enterrado - seu corpo deveria ser deixado para o banquete das hienas e dos abutres. É quando entra em ação Antígona, filha de Édipo, irmã de Etéocles e Polinices. Revoltada com a decisão de Creonte, ela enterra o irmão, em franca desobediência ao edital do tirano. A defesa de Antígona é uma das mais belas peças de Direito já elaboradas - que deveria ser estudada em todas as escolas de ciências humanas, e emparedada nas salas de advogados, promotores e juízes, ao lado de seus diplomas. Dizia a heroína a Creonte: "A tua lei não é a lei dos deuses; apenas o capricho ocasional de um homem. Não acredito que tua proclamação tenha tal força que possa substituir as leis não escritas dos costumes e os estatutos infalíveis dos deuses. Porque essas não são leis de hoje, nem de ontem, mas de todos os tempos: ninguém sabe quando apareceram. Não, eu não iria arriscar o castigo dos deuses para satisfazer o orgulho de um pobre rei. Eu sei que vou morrer, não vou? Mesmo sem teu decreto. E se morrer antes do tempo, aceito isso como uma vantagem. Quando se vive como eu, em meio a tantas adversidades, a morte prematura é um grande prêmio. Morrer mais cedo não é uma amargura; amargura seria deixar abandonado o corpo de um irmão. E se disseres que ajo como louca, eu te respondo que só sou louca na razão de um louco". Eis o tema principal da peça: o choque do direito natural, defendido por Antígona, com o direito positivo (ou seja, legislado), representado por Creonte. A heroína arrisca a vida - e, no final, morre por isso - por estar convicta da existência de um direito anterior, que não se sabe de onde provém, que garante aos mortos - a todos e a qualquer um - um sepultamento digno. É o que se aprende em Direito como sendo a oposição entre o justo e o legal. O primeiro, umbilicalmente ligado à etica, deveria prevalecer sempre sobre o segundo, porque anterior a ele e emanado de uma esfera superior, natural, universal. Há 2.500 anos, Sófocles já mostrava que nenhum governante poderia estar acima da lei.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

COM DEUS NÃO SE BRINCA?

Hoje à tarde recebi um e-mail de um ex-colega de teatro do Senac, que trazia um link para o You Tube em que ele mostrava - não só para mim, mas para um monte de gente - uma locução que acabara de realizar. Esse meu ex-colega faz uns bicos de locutor. Gostei do trabalho dele e respondi, parabenizando-o. Mas, prestando atenção no texto, que ele me disse depois não ser de sua autoria, não consegui deixar passar. E critiquei violentamente o que se pretendia dizer com aquilo. Era um texto com cunho religioso, bem do tipo que padres e pastores (estes, principalmente) adoram discursar do alto de seus púlpitos dourados. O texto chamava-se "Com Deus Não Se Brinca". É o tipo de ameaça que as religiões cristãs adoram fazer, e que eu detesto e abomino. Essa idiotice de "temer a deus". Ora, se eu fosse religioso, eu procuraria amar deus e não temê-lo. Embora eu ache mais importante o amor entre os homens do que o amor a deus. Mas, como disse, não sou religioso. Em tom ora ameaçador, ora professoral, o texto associava as mortes de John Lennon, Tancredo Neves, Cazuza, Marilyn Monroe, e vários outros famosos, a frases que eles disseram em algum momento de suas vidas em tom de blasfêmia ou meramente jocoso. Como se uma coisa levasse à outra. É muita ingenuidade pensar assim, eu disse ao meu colega. Ora, morrer faz parte da vida. Tancredo Neves, por exemplo, morreu porque era velho e estava muito doente. As pessoas morrem, principalmente se forem velhas e estiverem doentes. É assim que funciona. Em 1966, John Lennon disse que os Beatles eram mais populares que Jesus Cristo. E, naquele momento, no auge da beatlemania, eram mesmo. Aí, no texto, meu colega diz que ele levou cinco tiros de um fã, logo depois. Como assim? Ele foi assassinado por um maníaco (não um fã) em 1980 - portanto, quase 15 anos depois! Fui dizendo ao meu colega, se a gente levar a sério esse jeito de pensar as fatalidades da vida, como se explicaria a morte de Ayrton Senna, por exemplo? Quem lembra dele, sabe que ele era um sujeito religioso, católico, que usava a palavra "deus" o tempo todo, fazia caridade, era querido por todos, etc. Ora, ele morreu num trágico acidente, "logo depois", como todos nós sabemos. De novo: as pessoas morrem, sejam elas boas ou más. Que nós possamos nos amar e respeitar um pouco mais, em vez de perder nosso tempo "temendo a deus" ou seguindo lógicas equivocadas como a desse texto que meu colega narrou.

domingo, 4 de outubro de 2009

FUCK YOU, YOKO ONO

A tarde de hoje foi inteiramente dedicada a uma matéria que eu precisava terminar. Quando é assim, dependendo do que tenho que escrever ou editar, gosto de trabalhar ouvindo música. Deu vontade de ouvir John Lennon, fase pós-Beatles. Adotei o estilo do meu amigo Mário, de Floripa, que costuma ouvir seus discos em ordem cronológica de lançamento. No caso dele, parece que é TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo), já que ele só consegue apreciar desse jeito as centenas de CDs de sua bela discografia de rock nacional. No meu, acho que não, foi frescura mesmo. Ao contrário do Paul McCartney, a carreira-solo do John é curta, por conta de sua morte prematura, aos 40 anos. Tirando as inúmeras coletâneas, os discos ao vivo e os três trabalhos experimentais, absolutamente xaropes, chatérrimos, que ele fez ainda durante os tempos de Beatles, sua discografia de estúdio é assim: "Plastic Ono Band" (1970), "Imagine" (1971), "Some Time in New York City" (1972), "Mind Games" (1973), "Walls and Bridges" (1974), "Rock’n’Roll" (1975), "Double Fantasy" (1980) e "Milk and Honey", lançado postumamente, em 1984. Foi ouvindo os discos assim, em sequência, que pude perceber duas coisas: apesar de curta, é uma carreira brilhante, com duas obras-primas, os dois primeiros, e mais um punhado de grandes canções, espalhadas por todos os outros álbuns. Não há como resistir ao encanto de "Mother", "Working Class Hero", "Love", "God" (para mim, a grande canção de John Lennon, a maior de todas), "Imagine", "Crippled Inside", "Jealous Guy", "Gimme Some Truth", "How?". Tudo isso aí é só dos dois primeiros. E, dos outros, tem ainda: "John Sinclair", "Mind Games", "Whatever Gets You Thru The Night", "#9 Dream", "Nobody Loves You (When You're Down And Out)", "Stand By Me", "(Just Like) Starting Over","Beautiful Boy", "Watching The Wheels", "Woman", "I'm Stepping Out", "Nobody Told Me" e "Borrowed Time".
A outra coisa que notei é que, a partir de 1972, os discos deixaram de ser espetaculares. Continuam tendo bons, ótimos momentos, mas no todo são irregulares. A razão disso tem nome: Yoko Ono. Devo dizer que este nome é impronunciável para muitos beatlemaníacos. O mestre Beto Iannicelli nunca fala o nome dela. Diz que faz mal à saúde. Não sei, mas posso garantir que ouvir a voz de Yoko, o seu "canto", isso sim, faz muito mal à saúde. A acidez no estômago começa já nas suas primeiras intervenções e chega ao ápice quando ela grita, berra, se esgoela, naquela idiotice que os anos 70 conheceram como "grito primal" (primal scream). Yoko consegue destruir pelo menos 1/3 da carreira-solo do John. As canções interpretadas por ela, ou cuja autoria é creditada a ela (pessoalmente, eu duvido que ela tenha composto qualquer coisa; o John compunha e dava para ela cagar em cima), dividem-se em três grupos: ruins, muito ruins ou medonhas. Simplesmente não consigo ouvir a voz dessa mulher. No DVD "Gimme Some Truth", espécie de bastidores das gravações do "Imagine", John está no estúdio com um monte de craques, incluindo George Harrison, e a Yoko lá, metendo o bedelho, falando merda. Dá vontade de vomitar. Considero Yoko Ono, artisticamente, nula, um nada, uma fraude construída sobre a imagem do marido. E o mundo inteiro engoliu. Dia desses, conversando com o meu amigo e bandmate André Santana, ele me lembrou que no livro "Lembranças de Lennon", uma longa entrevista que o John deu para a revista Rolling Stone, a Yoko não parava de dar pitacos - sem noção, como sempre -na conversa dele com o jornalista. Até que, numa certa hora, John não resistiu e mandou um sonoro "fuck you, Yoko". Acho que naquele momento ele falou por muitos de seus admiradores. Por mim, com certeza.

sábado, 3 de outubro de 2009

AGORA SAI


(Cenário de uma pequena casa, em estilo japonês. Há apenas dois cômodos: a cozinha e o quarto, ambos apertados, separados por uma porta de correr. Manhã cedo. É inverno e faz muito frio. As janelas da casa estão fechadas. A atmosfera é escura, cinzenta, claustrofóbica. Inácio e Clara acabaram de acordar, e tiraram o dia para arrumar a casa, pois começam a trabalhar no dia seguinte. Ao longo de toda a cena, enquanto conversam, eles estarão abrindo caixas, desempacotando, colocando roupas no armário, etc.)

Eis a rubrica inicial de "Sakurá", minha nova peça. Quer dizer, nova em termos. Ela começou a ser escrita em 2005, ficou engavetada e só no começo deste ano, voltei a ela. Só que aí, em maio, escrevi "Sudatorium" de um fôlego só, apresentei-a numa leitura dramática e, agora, a "peça da sauna", como meus amigos a chamam, deve ser montada no fim do ano. Mas este post é sobre "Sakurá", minha nova (velha) peça. Já falei um pouco dela aqui, num dos primeiros textos que postei aqui nesta bagaça. Gosto muito da história, que trata de um casal de jornalistas que vai morar e trabalhar em Tóquio. "Pouco autobiográfica", diriam, com ironia, meus amigos mais próximos, que sabem da minha experiência japonesa. Nem tanto. Claro, a idéia geral tem tudo a ver, o fato de ser um casal também, mas para por aí. O que acontece na peça não tem uma conexão necessária com a realidade - é ficção. Agora, "ganhei" um prazo para finalizá-la: primeira semana de dezembro. É quando deve ocorrer sua leitura encenada. Uma vez mais, convocarei meus colegas atores para dar vida ao texto, para tirá-lo da folha de papel. Tenho certeza, agora sai.

sábado, 26 de setembro de 2009

“ENDLESS CYCLE”

Adão – Vamos?
Eva – Melhor não.
Adão – Anda.
Eva – Hoje não. Estou com dor de cabeça.
Mulher na rua 1 – Ele morreu ontem.
Mulher na rua 2 – Eu soube. Definhou.
Adão – Quer se fazer de difícil...
Eva – Tudo começou aqui, com essa inocente maçã.
Adão – Começou muito antes.
Eva – Hã?
Adão – Com a minha costela.
Eva – Quê?
Música – “The bias of the father runs on through the son/ and leaves him bothered and bewildered/ the drugs in his veins only cause him to spit/ at the face staring back in the mirror”.
Homem negro – Não consigo esquecer as traições dela.
Padre – Esquece isso, meu filho.
Adão – Você é a minha costela. Você vive por minha causa. Ou por minha culpa.
Eva – Você vai me cobrar isso até quando? Até o fim do mundo?
Homem negro (perturbado) – Ontem entrei no quarto e ela me traía com cem homens.
Padre – Está louco, meu filho. Ouça a palavra de Deus.
Música – “You got to live/ you got to love/ you got to be somebody/ you got to shove/but it’s so hard/ it’s really hard/ sometimes I feel like going down”.
Homem negro – Tenho tido pensamentos estranhos. Uma voz dentro de mim, que me dá ordens. Manda eu pegar a faca. Eu já escondi todas as que tenho em casa. Estou com medo, padre.
Padre – Sua mulher é uma santinha. Ela faz tudo por você, sempre fez. Por você e por seus filhos. Você precisa tirar essas coisas da sua cabeça.
Adão – Você não faz outra coisa a não ser me cobrar.
Eva – Lá vem você de novo com a história da maçã. Eu já esqueci.
Repórter sensacionalista – O que foi, doutor? Estamos ao vivo.
Delegado – Ao que parece, esganadura.
Repórter sensacionalista – Só?
Mulher – Já chegou, meu amor?
Homem negro – Vagabunda!
Música – “I was dreaming of the past/ and my heart was beating fast/ I began to lose control/ I began to lose control/ I didn't mean to hurt you/ I'm sorry that I made you cry/ I didn't want to hurt you/ I'm just a jealous guy.”
Mulher – Você está louco!
Homem negro – Onde estão eles?
Mulher – Eles?
Música – “J'ai fait la saison dans cette boite crânienne/ tes pensées, je les faisais miennes”.
Delegado – Pode colocar aí que, depois de enforcar, ele mutilou o cadáver. Na cabeça.
Repórter sensacionalista – Opa! Vai dar um bom caldo.
Música – “I'm sick and tired of hearing things/ from uptight-short sighted/-narrow minded hypocritics/all I want is the truth/ just give me some truth”.
Filho (descontrolado) – Desgraçado!
Pai – Por que você está assim, meu filho?
Mulher na rua 1 – Foi câncer ou Aids?
Mulher na rua 2 – Desgosto.
Filho – Não me chame assim, seu filho da puta!
Pai – Você pra mim é como um filho!
Mulher na rua 1 – Nunca perdoou o pai.
Mulher na rua 2 – Por não ter contado a verdade.
Filho – Por que você não me contou?
Pai – Eu não queria magoar você!
Mulher na rua 1 – Ele não podia contar.
Mulher na rua 2 – A verdade era dura demais.
Filho – Desgraçado! Eu acabo com você!
Pai – Meu filho, onde você vai?
Música – “How can he tell a good act from the bad/ he can't even remember his name/ how can he do what needs to be done/ when he's a follower not a leader”.
Mulher na rua 1 – O pai legítimo matou a mãe.
Mulher na rua 2 – E depois se matou na cadeia.
Adão – Você, talvez. Mas e os outros? Vão se lembrar disso durante muito tempo, todos os dias de suas miseráveis vidas.
Eva – Esquece isso.
Música – “God is a concept/ by which we measure our pain/ I was the dreamweaver/ but now I’m reborn/ I was a walrus/ but now I’m John/ the dream is over”.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

UMA ROTINA DIFERENTE

Esses dias de molho têm me imposto uma rotina bem diferente da que eu levava antes do acidente. Nas duas primeiras semanas, tinha que ficar deitado com o pé para cima, sobre um almofadão. Só fiz ler e ver TV. De uma certa forma, foi produtivo, porque finalmente dei cabo de alguns livros que se acumulavam na estante, pedindo a vez, e assisti a uns dez ou doze bons filmes. Sou sócio de uma locadora em que a dona é cinéfila. Ela tem um belo acervo de clássicos e filmes de arte, todos muito bem catalogados e com fichinhas que ela própria confecciona e acrescenta ao encarte do DVD. Meus dias - e, principalmente, noites - de ócio foram preenchidos com as obras monumentais de Bergman, Antonioni, Visconti, Kurosawa e Eastwood. Depois, veio uma semana de trabalho intenso, ainda na cama, mas sentado, com o notebook no colo. Nem preciso dizer que passou voando. Agora, entro na minha quarta semana de recuperação. As novidades são a fisioterapia e a volta aos ensaios - sentado ou de muletas. As duas peças que estou fazendo já têm estreia marcada: uma em novembro, outra em dezembro. Falarei delas mais para frente. Agora digo apenas que estou feliz por estar de volta a uma atividade de que gosto muito e da qual senti uma falta imensa nesses dias em que fiquei parado. O pé está melhorando a cada dia. Com os exercícios da fisioterapia, os movimentos estão voltando, ainda que com alguma dor (o que é normal). Só saio de casa para ir a três lugares: ensaios, hospital (para os retornos) e fisioterapia. Essa reclusão forçada me fez pensar em como não damos muito valor a certas coisas que, de tão naturais, são quase desprezadas. Refiro-me ao ato de andar. O que há um mês era algo em que eu não pensava, agora é o que eu mais desejo. Simplesmente por os pés (os dois, vejam bem) no chão e sair por aí. Sempre gostei de andar. Passei a gostar ainda mais quando morei no Japão. Foi um hábito que não perdi na volta ao Brasil - já disse, num post antigo, que eu aprendi a contemplar no Japão, mas isso infelizmente ficou por lá. Sei que ainda tenho algumas semanas pela frente nesta situação. Até que está passando rápido, para falar a verdade. Mas tem horas que a vontade é simplesmente pular da cama e sair andando.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

MINHA BOTA ROBOCOP

Hoje à tarde, tirei os pontos e o gesso. Estou usando aquela bota que parece o pé do Robocop. O médico disse que a fratura colou bem e os dois cortes fecharam. Tudo perfeito. Portanto, o pior passou. Essas duas primeiras semanas não foram bolinho. A primeira, por causa da dor. A última, mais pela limitação do movimento, pelo fato de estar em casa o tempo todo, sem poder por o nariz pra fora. Agora, com um pouco de paciência, tudo vai voltando ao normal. Mas já deu para tirar algumas lições disso tudo. A primeira é sobre o tempo, como se relacionar com ele. Já falei sobre isso num post passado. Uma outra é sobre como entrar em cena. Quebrei o pé num ensaio. Foi um dia confuso, com atividades importantes nos três períodos, de manhã, de tarde e à noite. Praticamente sem intervalos entre elas. Cheguei atrasado ao ensaio da tarde e, numa vã tentativa de compensar isso, já fui entrando em cena, sem me aquecer, sem me concentrar, sem abandonar a energia "da rua" e trocar pela energia da cena, do teatro. Foi a primeira e a última vez que agi assim. Nunca mais faço isso. É claro que não foi especificamente isso que me fez quebrar o pé, mas com certeza contou. Estou certo disso. Foi uma lição. Estamos sempre aprendendo, não importa a idade. Hoje à noite, voltei ao ensaio de "Os Gigantes da Montanha", após duas semanas. Já dá pra enxergar uma peça ali. Agora preciso correr atrás. Com a bota Robocop, minha nova companheira.

domingo, 13 de setembro de 2009

LUDOPÉDIO

Não costumo falar muito sobre futebol aqui neste espaço. Acho que, desde quando comecei com esta bagaça, falei só uma vez, sobre o Kaká. E nem foi, na verdade, sobre futebol. Naquela ocasião, eu cobrava do grande craque brasileiro uma postura mais responsável quando se manifestava sobre a Igreja Renascer, gangue da qual faz parte, de uma forma ou de outra. Mas não é sobre isso que vou falar hoje. Nesses dias de molho, por causa do meu pé quebrado, entre dois fechamentos corridos (trabalho sentado na cama, com o notebook no colo), algumas leituras e uma dezena de filmes (reassisti aos espetaculares "Os Imperdoáveis" e "Morangos Silvestres"), encontrei tempo para o futebol. Mais especificamente para a seleção brasileira, na reta final de preparação rumo à Copa do Mundo. Sempre gostei muito de futebol e jogava relativamente bem, até me aposentar - na verdade, a modéstia me impede de dizer mais, de como eu tratava a bola com fineza, habilidade, intimidade, um verdadeiro estilista. Na infância e na primeira parte da adolescência, era um fanático. Jogava futebol todos os dias, sem falhar um. Era na escola, no clube, na rua (naquela época, anos 70, isso era perfeitamente possível numa rua de Pinheiros, bairro onde moro até hoje), na igreja em frente ao meu prédio (era de mórmons e eu tinha que me segurar para não falar uns sonoros palavrões, o que era proibido). Depois, fui pegando birra de algumas coisas no futebol. Paradoxalmente, a primeira delas é o fanatismo. Abomino torcidas organizadas. O nome, na realidade, é um eufemismo. Trata-se de hordas de animais, vândalos, bandidos que se juntam para praticar crimes. Há uns 10 anos, mais ou menos, na saída de um estádio, assisti a uma cena deplorável: cinco ou seis "torcedores" uniformizados cercaram um senhor de meia idade e o fizeram, debaixo de porrada, tirar a camisa de seu time. Tudo isso na frente do filho, que via tudo aterrorizado. Desde esse dia, prometi que nunca mais pisaria num estádio. Pelo menos até o dia em que não restasse mais nenhuma torcida organizada neste país. Portanto, ir a jogos de futebol é algo que está fora das minhas opções de lazer já há algum tempo. Prefiro a versão amigos + cerveja, na casa de alguém ou num boteco com TV. (Mas não curto esses bares temáticos com telão, acho muito mauricinho e não me simpatizo com a frequência.) Tudo isso pra dizer que me ocupei, nesses dias de estaleiro, a pensar na seleção brasileira. E como todo brasileiro é um técnico, e eu sou brasileiro, logo... Se o Dunga for esperto (e, embora arrogante, acho que ele é), o escrete que vai à Copa é o seguinte:
Goleiros: Júlio César (The Wall), Doni e Qualquer Um - O terceiro é absolutamente irrelevante.
Zagueiros: Lúcio, Luisão, Miranda (craque) e Juan (se tiver perna).
Alas: Daniel Alves, André Santos, Maicon e Kléber.
Meio-campistas: Gilberto Silva, Felipe Melo, Elano, Kaká (O Maestro), Julio Baptista, Hernanes (craque). Ainda sobra uma vaga, para um primeiro-volante, mais defensivo.
Atacantes: Robinho (é uma fraude, mas ainda não descobriram), Luis Fabiano (o dono da 9), Adriano (se fizer merda fora de campo, como costuma fazer, pode perder a vaga para o Ronaldo Gordo) e Nilmar (outro craque, como há muito venho dizendo). Reparem que enganadores como Ronaldinho Gaúcho e Alexandre Pato não têm lugar aqui.
O time titular:
1 - Júlio César
2 - Daniel Alves (Maicon)
3 - Lúcio
4 - Luisão
6 - André Santos
5 - Gilberto Silva
8 - Felipe Melo
7 - Elano (Daniel Alves - gostei desse formato)
10 - Kaká
9 - Luis Fabiano
11 - Robinho (não sei se consegue enganar até a Copa, deve perder a posição para o Nilmar que, repito, come a bola).
Não é a oitava maravilha, mas dá pra trazer o caneco. É isso.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

SOBRE O TEMPO

Continuo aqui, direto do quarto (opa!), de molho, com o pé pra cima. Na segunda, completam duas semanas da fratura. Está bem melhor, desinchou, dói menos. Os pinos, metidos, às vezes insistem em se fazer notar. E eu sinto na pele - ou embaixo dela. Agora, o que pega mesmo é essa limitação de movimento. Coisas banais, como comer ou tomar banho, merecem toda uma logística. E o dobro do tempo. Engraçada, essa coisa do tempo. Faz alguns anos que eu venho tirando o pé do acelerador. Planejando menos, fazendo menos coisas num mesmo espaço de tempo, reduzindo metas, eliminando outras. Quando se tem 20 anos, a ideia é fazer, fazer, cada vez mais. Acho que, depois, na virada dos 40, importa menos a quantidade, e mais a qualidade do que se faz. Menos é mais. Lembro de um filme que assisti, em que o personagem vivido pelo extraordinário Micheal Caine, um velho escritor, ganhador do Pulitzer, acometido de um câncer terminal, dizia para o filho de meia-idade (Nicholas Cage), que vivia a vida no estilo "tudoaomesmotempoagora", que a uma certa altura da vida o negócio é começar a tirar projetos da frente, desistir de algumas coisas, priorizar outras. O filme não tem nada de mais, mas esta cena nunca mais saiu da minha cabeça, pai e filho conversando dentro do carro, e uma tempestade caindo do lado de fora. Concordo totalmente. Desde meus 17, 18 anos, venho listando coisas para fazer, dos mais variados gêneros. Realizei, de fato, uma boa parte delas. Mas uma outra (boa) parte da lista restou intocada. E essas coisas não realizadas ficavam na minha cabeça, gerando algum desconforto, algo como "ei, estou aqui, tá?". Mais ou menos na época do filme, já pensava: "por que ainda tenho que fazer isso? Não tenho que fazer isso porra nenhuma, oras". E fui desistindo de um monte de coisas, que hoje não me fazem nenhuma falta. Tenho uma certa pena de gente já idosa que ainda corre atrás do tempo. Tá certo que é difícil ter uma velhice tranquila num país de merda como o Brasil, em que a aposentadoria pública é uma piada. Quem não tem um plano complementar, privado, raramente consegue se aposentar sem ter que continuar trabalhando, mesmo que seja (e normalmente é) no mercado informal. Quando morei no Japão vi o que é uma velhice suave, leve. Não é à toa que lá se chega fácil aos 100 anos. Na época, eu brincava (?) com meus amigos que iria morrer no Japão. Quando chegasse a uns 70 anos me mudaria para uma cidade como Kyoto e passaria lá os meus derradeiros momentos de vida. É que lá essa coisa do tempo é ainda mais maluca. Você está no centro de Tóquio e a imagem futurista é aquela loucura que todo mundo conhece, milhares de pessoas correndo de um lado para outro feito formigas (para onde vão?), luzes por todos os lados, etc. etc. Aí você pega o trem ou o metrô, anda duas ou três estações e cai num bairro como o que eu morava, que parece uma cidade do interior. Eu, na verdade, até destoava dos moradores de lá, na maioria jovens casais com filhos pequenos, sempre no carrinho, ou soltos pela rua, brincando nos inúmeros parques, ou velhinhos e velhinhas passeando, nunca de mãos dadas (é Japão), ou então, costas curvadas, cuidando do jardim. Para eles, o tempo é outro. Não corre. Não passa. E, por isso, eles vivem (não apenas sobrevivem). E duram.

domingo, 6 de setembro de 2009

A HORA DA PACIÊNCIA

Estou de molho, na cama, com o meu recém-adquirido notebook no colo, digitando este post depois de alguns dias sem dar as caras por aqui. Há uma semana, mais exatamente na segunda 31/08, quebrei o pé. Foi de um jeito bobo, como costumam ser esses acidentes. Estava ensaiando a peça "Destinos", na antiga Escola das Meninas, uma casa abandonada, em ruínas, na Vila Maria Zélia. Pisei em falso, escorreguei, meu corpo todo foi para um lado e o pé ficou. Resultado: três fraturas. Ganhei de presente nove pinos e uma placa de aço, que fazem questão de serem sentidos a cada minuto. Nos primeiros dias, as dores eram atrozes. Agora diminuíram um pouco. Os meus amigos do Grupo XIX, com quem ensaio a peça, foram de um carinho e preocupação absurdos. Ficaram comigo no hospital, ligaram, mandaram e-mails. O Victor disse que eu levei muito a sério aquela história de "quebre uma perna", que se costuma dizer antes de entrar em cena. E o Fabião mandou uma mensagem que me emocionou. Um texto do Rilke, que diz que o tempo do artista é outro, que não pode ser visto como mera unidade de medida. Nas próximas semanas ou meses, a noção de tempo vai mudar para mim. Tudo agora é feito lentamente. Meu pé, por enquanto, não pode encostar no chão. Atos banais, como tomar banho ou escovar os dentes, merecem agora toda uma logística. Tenho muito trabalho pela frente e uma série de compromissos a cumprir. Vou cumpri-los, mas talvez de um jeito diferente do que estava previsto. As duas peças que estou ensaiando, "Destinos" e "Os Gigantes da Montanha", têm estreia marcada para novembro. Até lá espero estar totalmente recuperado, pisando direitinho. A palavra agora é uma só: "paciência".

terça-feira, 25 de agosto de 2009

É TEATRO, SIM!

Os últimos dias foram uma louca correria. Frenética. Passei o fim de semana no Rio. Antes, a tempestade da quinta havia "matado" meu computador. O técnico precisou de quatro dias para ressuscitá-lo. Só hoje voltei ao universo virtual. E com um monte de trabalho para entregar. Então, só agora posso contar e mostrar (ver link abaixo) minha "miniemcena" no Teatro para Alguém. Desde o início do mês, estava umbilicalmente envolvido com ela. Já falei aqui sobre o TPA, projeto sensacional do casal Renata Jesion e Nelson Kao, dois queridos. Desde o fim do ano passado, eles se dedicam, ao lado de uma equipe afiada, a produzir e apresentar peças teatrais pela internet. Teatro para os nossos lares. A home do site do TPA (http://www.teatroparaalguem.com.br/) mostra uma casa dividida em cômodos, onde as atrações têm lugar. No sótão entram as estreias, na sala maior rola a espetacular minissérie "Corpo Estranho", do Lourenço Mutarelli. E para quem ainda insiste em negar, por ignorância ou rabugice, eu afirmo: é teatro, sim! Posso afirmar, porque estive lá, senti na pele. Antes de entrar em cena, o que vem é o mesmo frio na barriga de uma estreia em qualquer teatro convencional. Quem assistiu ao vivo, na noite da sexta passada, deve ter sentido o que sente o público de uma estreia. Depois, o que ficou gravado entra no porão, o arquivo do site, e fica lá à disposição de quem quiser assistir. Fiz "Ter Fogo é Fogo", cena da minha amiga Loreana Valentini, dramaturga de mão cheia. Chamei o Edu Brisa para dirigir. Mas é melhor eu parar de falar, para que vocês possam assistir. É só clicar aqui: http://www.youtube.com/watch?v=T642uHyppiM. Depois vocês me contam.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A INTANGÍVEL BELEZA DO SOM


Embora saiba, de antemão, que não vou conseguir, tentarei contar aqui o que senti há algumas semanas, quando ouvi pela primeira vez a Sinfonia nº 3, Opus 36, do polonês Henryk Górecki. Fui arrebatado pela sequência de sons mais impressionantemente bela que jamais havia ouvido. Senti dores pelo corpo. Um nó na garganta. Um aperto no peito. No estômago, um certo ardor. Em algumas passagens, queria que a música se materializasse, para poder abraçá-la. Mas, como tudo na vida, ela se esvaía. A sinfonia, de três movimentos, foi composta em 1976, no auge do comunismo na Polônia. Górecki, talvez pensando na tirania daqueles dias, lançou mão de outro momento histórico, para criticar ambos. De um certo viés, é uma obra sobre o holocausto. O segundo movimento é o mais famoso, tem vários vídeos no You Tube. Na parte cantada, por uma voz soprano, os versos são inspirados nos escritos deixados por uma jovem prisioneira nas paredes de sua cela, em algum campo de concentração polonês. É triste e lindo, com o perdão do pleonasmo. Mas, para mim, não há nada igual ao primeiro movimento, de 22 minutos. O tom grave dos primeiros acordes remetem a um paradoxo: é o nascimento e, ao mesmo tempo, a morte. Há um minimalismo harmônico que transforma esse primeiro movimento num mantra. Um "loop" de dor e sofrimento, um vai e vem, uma alternância de delírio e lucidez, que lembra a agonia dos últimos momentos de vida. Vejo alguém puxando pelo ar rarefeito, indo e voltando, boca aberta, olhos arregalados, rosto crispado, a própria face do medo. Uma batalha, a derradeira, que dura exatos 22 minutos. Algo que penetra na gente e fica impregnado para sempre. Nunca mais essa sensação sairá de mim, tenho certeza. E, ao mesmo tempo, quase não consigo compreendê-la. Tento tocá-la e não consigo, é inatingível. A intangível beleza do som. E a única realidade possível, sem filtros, a morte. Tenho escutado bastante essa sinfonia ultimamente, também conhecida por "Symphony of Sorrowful Songs". Ela sempre me causa impacto, a cada audição - mas nunca como daquela primeira vez. E tudo isso para dizer o que, na verdade, podia dizer em uma linha: ao ouvi-la, eu pensava o tempo todo em meu pai.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

DE NOVO, O JAPÃO


Neste segundo semestre, vou remexer meu baú de fotos, textos e memórias. Voltarei dez anos no tempo. Decidi terminar, a qualquer custo, uma peça que comecei a escrever em 2004. Chama-se "Sakurá", que é o nome dado ao florescer das cerejeiras, fenômeno que anuncia a chegada da primavera no Japão. O país inteiro fica cor-de-rosa. A história, em princípio situada em Tóquio, é sobre um casal que vai morar e trabalhar lá. Vivi uma situação parecida, entre 1999 e 2000, quando me mudei para a capital japonesa, com minha primeira mulher. A peça já está quase totalmente concluída - na minha cabeça. No papel, dos cinco atos que ela deverá ter, só dois estão integralmente escritos, o primeiro e o último. Este foi apresentado numa leitura dramática, no Teatro do Centro da Terra, em 2005. Todas as vezes que tentei terminá-la, não consegui. Faltava um certo distanciamento, algo que só vem com o tempo, com o passar dos anos. Agora chegou o momento, acho. Se não terminar agora, temo esquecê-la dentro de alguma pasta virtual e nunca mais voltar a ela. Por conta desse processo de escritura que ora se inicia, comecei a selecionar algumas obras da literatura japonesa, a fim de impregnar meu espírito com essa atmosfera oriental, bem diferente da que vivo no meu cotidiano urbanóide do ocidente. Separei alguns Watanabe para ler, outros para reler (como a obra-prima "Kyoto"). Idem com Mishima, Tanizaki, Murakami e Oe. Ontem à noite, saquei da estante uma obra que comprei no começo do ano e permanecia intocada, de um autor de quem nunca li nada: Nagai Kafu. Foi só abrir na primeira página, e começar a leitura, para perceber o quanto o Japão e suas coisas ainda me tocam. Basta uma pequena descrição de uma rua, de um bairro, de um aroma, e tudo volta à minha cabeça. As lembranças chegam aos jorros, umas atropelando as outras; revejo a vilazinha onde eu morava, as velhinhas curvadas cuidando do lixo; minha casa, o mapa do Japão pendurado na parede sala, os alfinetes coloridos apontando os lugares que visitamos e os que ainda visitaríamos; o trajeto até o trabalho, que percorríamos de bicicleta, pelas ruazinhas tortuosas, cheirando a peixe e incenso; o enorme e suculento prato de lámen que comíamos no inverno num pequeno restaurante familiar que parecia saído do período Edo, etc. etc. O livro em questão, que despertou em mim todas essas memórias, foi escrito em 1931 e chama-se "Crônica da Estação das Chuvas". Só o título já me tira da realidade e me evoca uma outra lembrança, que sinto agora quase fisicamente: eu me vejo à janela de casa, num domingo qualquer de setembro ou outubro, quando chove cântaros no Japão, olhando o aguaceiro. Adorava fazer isso, quase não via o tempo passar. Foi no Japão que aprendi a contemplar. Com prática, é possível ficar realmente bom nisso. Pena que desaprendi. Agora é só uma lembrança, uma sensação, um halo. Vou voltar a ela e a todas as outras nos próximos dias, ou meses. A viagem ao meu passado recente começa agora.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

AGORA TAMBÉM NO TWITTER

Já fazia algum tempo que o meu amigo Alexandre Suguimoto vinha insistindo para eu entrar no Twitter. Eu resistia heroicamente. Intrépido, o Sugis (como eu o chamo) abriu uma conta para mim. Sem pedir minha autorização, o brother criou conta, login e senha. Aí não teve jeito. Sempre achei o Twitter uma perda de tempo - e continuo achando. Mas agora estou do lado de dentro. E quando se muda de posição, é possível também mudar de opinião. Gosto de mudar de posição e de opinião. Vamos ver, dar tempo ao tempo. O link para minha página está aqui: www.twitter.com/diretodoquarto. É "página" que se diz, nesse caso?

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

LUIGI PIRANDELLO


Sempre, com o luar, tudo aqui na terra passa a ser quimera, como se a vida fosse embora e dela restasse apenas uma sombra melancólica na lembrança. Todos nós falamos, depois, quase sempre percebemos que foi em vão e retornamos, desiludidos, a nós mesmos. Como um cachorro noturno que volta para o seu canto, depois de ter latido para uma sombra.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

VIVA PACO LEAL!

Há umas semanas, fui convidado pela minha nova amiga Loreana Valentini para interpretar um personagem criado por ela. A Loreana é uma jovem e talentosa escritora. No ano passado, ela foi escolhida, entre mais de duzentos candidatos, para compor o seleto time de doze dramaturgos do Sesi-British Council. Passaram um ano estudando e produzindo textos teatrais, sob a coordenação da jornalista e dramaturga Marici Salomão, outra querida. Recentemente, o grupo fechou uma parceria com o Teatro para Alguém, um projeto sensacional pilotado pelo casal Renata Jesion e Nelson Kao. Cada um dos doze dramaturgos teria que criar uma cena curta, de uns dez minutos, para o site do TPA. Pois então, a Loreana veio com essa cena hilária, chamada "Ter Fogo é Fogo!". O protagonista é um tal Paco Leal, fortemente inspirado no Casanova' 70, vivido magistralmente pelo Marcello Mastroianni, no filme do genial Mario Monicelli. A apresentação, ao vivo, será no dia 21, uma sexta, às 22h. A cena vai ao ar, on line, e depois passa a integrar o contéudo do site do TPA - além de "vazar" para o You Tube e outros sítios do mesmo gênero. A Loreana perguntou se eu conhecia algum diretor da minha confiança. E eu já fui logo pensando no meu grande amigo Edu Brisa, um dos mais criativos e competentes que há por aí. Se a idéia é fugir do realismo/naturalismo, chama o Edu. Já disse e repito: ele tem um pé no surrealismo, é uma espécie de Beckett tupiniquim. Ontem fizemos o primeiro ensaio, lá no Teatro Julia Bergmann, onde a companhia do Edu costuma ensaiar. Serão dez ensaios até o dia da apresentação. Começamos a enxergar o personagem, mas ainda há muito trabalho pela frente. Esqueci de dizer: eu faço o Paco Leal. A primeira parte da cena é um monólogo, repleto de acentos e signos. Estamos descobrindo, pouco a pouco, as sutilezas do texto da Loreana. É isso.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

VAMOS QUE VAMOS

Foi um primeiro semestre bem interessante. Vários projetos idealizados, alguns deles realizados, outros bem encaminhados. Participei de duas peças, "Carícias" e "Efêmeros", e me orgulho de ambas. Escrevi "Sudatorium", que foi lida e repercutiu bem. Conheci gente nova e bacana, e pude reencontrar na atividade teatral velhos amigos, como o Edu Brisa e o Maurão Hirdes. Ao que parece, estaremos juntos em alguns projetos também no segundo semestre. Ontem retomamos as atividades com o Grupo XIX. Vamos montar o texto "Destinos", de Paulo Emilio Sales Gomes, em final de outubro. Vou voltar a falar disso mais para frente - e um monte de vezes. Um amigão meu disse, num comentário recente, que eu "ando me repetindo". É verdade. E vou me repetir ainda mais. É uma das vantagens de ter um blog. Repetir-se. Repetir-se. Repetir-se. Mas esse brother pode falar o que quiser, meter o pau quanto quiser - ele tem crédito comigo. Na semana que vem recomeçam também os ensaios no Club Noir. Estou com grande expectativa para o que vamos montar no segundo semestre. A direção será da Juliana Galdino. Então dá para ter boa expectativa. Aliás, a peça dela, "Comunicação a Uma Academia" volta ao cartaz, lá no Club Noir. Ela faz um macaco (!) e é uma das coisas mais impressionantes que já vi. Uma aula de interpretação. Está indicada ao prêmio Shell e não será surpresa se ganhar. Assisti duas vezes e vou assistir pelo menos mais uma. A direção é do Roberto Alvim, que é um craque. Já falei dele por aqui. Com ele, retomo meu estudo de dramaturgia. Devo finalmente terminar "Sakurá", texto que me persegue desde 2004, e produzir um outro que já está esboçado. Desta vez, o assunto é "família". Ou o que resta dela. É isso aí. Estou me divertindo. É o que importa.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

COMÉDIA!

Semana bem teatral esta que se inicia. E bem corrida também! Segunda inteira dedicada a formatar um trabalho sobre as Comédias Grega e Romana. Aristófanes, Menandro, Terêncio, Plauto e por aí vai. Li muito sobre isso no último mês. Agora é hora de colocar tudo no papel. Amanhã, avanço uns mil anos e passo a dedicar parte dos meus dias a Molière, num projeto similar, só que voltado à "Comédie Française". Além da parte escrita, estou ensaiando com mais dois colegas uma cena de "Médico a Força". Que difícil! E na quarta tem "Efêmeros", no Next. É um conjunto de cinco cenas cômicas, para celebrar os seis anos da Companhia Teatro de Investigação (CTI), do meu grande amigo Edu Brisa. Eu participo da última cena, "A Quase Virgem". Adoro fazê-la! Estou me divertindo. É o que importa.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

RINDO E FAZENDO RIR


Com a Cris Camilo e a Mari Lima (no fundo), em cena de "A Quase Virgem", texto e direção do meu amigo Edu Brisa. É uma comédia escrachada, e está chegando ao fim. Só mais duas apresentações. Nesta quarta é a penúltima. Estou me divertindo. É o que importa.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

QUARTA É DIA DE COMÉDIA


Hoje tem "Efêmeros". É às 21h, no Next. São cinco cenas cômicas, todas muito interessantes. Umas mais performáticas, outras mais escrachadas. Eu estou no elenco de "A Quase Virgem", texto e direção do meu amigo Edu Brisa. Acho que ela é do time das escrachadas. Gosto muito de fazer e me divirto com ela. Na foto acima, com o Guto Tataren e a Cris Camilo. O serviço completo está abaixo. Recomendo.

360 do avesso
Autor: Edu Brisa. Com: André Arruda e Edu Brisa. Figurinos: Ana Cristina Ramos.

A Quase Virgem
Autor: Edu Brisa. Com: Mariane Lima, Augusto Tataren, Cris Camilo, Juliana Crifes e Paulo Cunha.

A Latina
Com: Julia Mariano, Anderson Negreiro e André Zeronian.

Sinal Verde
Autor: Mauro Hirdes. Com: Juliana Crifes, Tininha Mello e Augusto Tataren.

Os K - A Experiência
Autor: Geovane Fermac. Com: Geovane Fermac e Edson Araújo Lima.

Next - Rua Rego Freitas, 454, Vila Buarque. 70 Lugares. R$ 20,00.

domingo, 12 de julho de 2009

Este foi um fim de semana bom para hibernar. E nada mais.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

ACABANDO A TEMPORADA


Está chegando ao fim a temporada de "Carícias". Mas, para quem ainda não assistiu, tem mais duas quintas. Vale a pena. Fiquei muito feliz de fazer parte disso. Foi um grande aprendizado.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

ESTAMOS JUNTOS


Hoje foi a segunda apresentação de "Efêmeros", conjunto de cinco cenas. Acho que foi ainda melhor que a estreia. Eu participo da última, chamada "A Quase Virgem". É uma comédia escrachada. A primeira que eu faço. Sensação gostosa ouvir as gargalhadas da platéia. De alguma forma, isso passa para o palco. O texto é do meu amigo Edu Brisa. Já falei aqui que gosto muito do seu trabalho à frente da CTI (Companhia Teatro da Investigação), que está comemorando seis anos de vida. Vida longa! O Edu sempre diz: "Estamos juntos". Gosto da frase. Na foto acima, todo o elenco de "Efêmeros" ao final da primeira apresentação.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

SERGIO ROVERI

Às vezes, a gente se depara com um texto que parece que foi escrito sob encomenda para nós. Aconteceu isso hoje. Gosto de ler blogs, de sair pela rede fuçando o que existe de novo, de original, de bem escrito. Há os meus preferidos, os que leio quase diariamente. O do Sergio Roveri é um deles. Ele escreve como poucos. É jornalista, foi meu colega de redação no Jornal da Tarde uns 10 anos atrás. Nesta mesma época, tornou-se dramaturgo. É dos melhores da sua geração, basta ver "Encontro das águas", "Andaime" e "Abre as asas sobre nós". Já tem no currículo um Prêmio Shell de dramaturgia. Queria ter escrito o texto abaixo, mas quem escreveu foi o Sergio. É simplesmente lindo. Peço permissão para publicar um trecho aqui. Leiam o blog do Sergio (http://roveriblog.blogspot.com/). Assistam a suas peças. Vale a pena.

"Já revelei aqui que faço terapia há muitos anos e se tivesse de resumir em poucas palavras o que me empurrou para o divã diria que foi justamente a vontade de desaparecer na multidão, de conduzir os meus desejos e anseios na direção das grandes massas, de implodir em mim tudo aquilo que, a princípio, me distanciava da grande conduta social que ensina que crescemos para casar, ter filhos, conservar num emprego fixo, buscar algum tipo de prosperidade e segurança na vida profissional, engolir a rotina em doses diárias e assegurar-se de que a velhice jamais nos encontrará desprevenidos.

Tente fazer de mim uma outra pessoa, talvez eu tenha dito ao meu analista em nosso primeiro encontro. Ou, na medida do possível, faça de mim alguém muito parecido com todo mundo, inclusive na infelicidade. Me enquadre, eu devo ter solicitado. Diante de um pedido tão impositivo, percebo hoje que meu terapeuta precisou de muito tempo e de muito jogo de cintura para me desobedecer sem que eu me desse conta. Precisou de muito tempo para me mostrar que eu só teria algum valor se aprendesse a cultivar tudo aquilo em que eu queria dar fim. Que eu só seria reconhecido como pessoa, principalmente por mim mesmo, se eu percebesse que a diferença que tanto me incomodava era a minha digital neste mundo. Que aquilo que me fazia distinto, e por isso mesmo desconfortável em algumas situações e deslocado na maioria delas, era o que precisava ser cuidadosamente lapidado para se converter em fonte de prazer e alegria. E que se meu desejo às vezes resolvia cortar caminho por algum atalho escuro, que ótimo: era ali que eu seria apresentado à surpresa e ao acaso da vida.

Ser o que somos é algo que vamos aprendendo aos poucos. Não costuma ser fácil e muito menos indolor. Mas a alternativa a isso pode ser ainda pior: é a gente se transformar numa fotografia desfocada e arruinada pelo tempo, cujas feições não serão reconhecidas nem por nós mesmos daqui a pouco."

domingo, 5 de julho de 2009

PESSOA ELE MESMO

Não sou meu dono
Quem sou é quem me ignoro e vive
Através desta névoa que sou eu.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

O ETERNO DESAFIO


"O teatro é sempre um desafio. Tenho muita pena do ator que diz que determinado papel tira de letra, porque isso quer dizer que ele vai se repetir. Qualquer que seja o personagem, você tem que descobrir as características muito específicas dele para que não fique igual ao outro que você fez, porque cada um tem sua característica e sua personalidade." As palavras são do inesquecível Paulo Autran. Vi agora há pouco no blog do meu querido amigo Alberto Guzik. Surrupiei na maior cara-de-pau. Blog tem dessas coisas. É que tem tudo a ver com algumas coisas que venho pensando sobre estar em cena, fazendo um personagem. "Carícias", peça que estamos apresentando todas as quintas, às 21h, no Club Noir (hoje tem!), entrou no seu terceiro mês. Era algo que não esperávamos, pois a ideia inicial era ficar um mês em cartaz. O público gostou. Ficamos mais um mês. O público continuou gostando. E nós fomos ficando. Ultimamente ando relendo Stanislavski, "A Preparação do Ator". É uma espécie de manual do ator. O que ele precisa fazer para representar. Foi escrito há 70 anos, mas, com algumas adaptações, ainda é atualíssimo. Há um trecho que gostaria de destacar: "Os atores, em geral, são criaturas conscienciosas, mas a tensão das temporadas longas, sem supervisão especializada, é um perigo para as suas naturezas emocionais. Os atores confiam no instinto, tanto para criar como para sustentar uma atuação - mas o instinto pode extraviá-los quando a primeira inventividade criadora se amortece pela repetição". Digo isso porque, como contei acima, "Carícias" está entrando em seu terceiro mês de temporada. Estamos em contato com o texto desde fevereiro, portanto há seis meses. O texto é impactante. Mas o é na medida em que nós, do elenco, continuemos lendo-o diariamente, buscando extrair daquelas palavras novas intenções, novas emoções. Só assim não seremos repetitivos na hora de interpretar. Só assim ficaremos imunes ao tal amortecimento da inventividade criadora. Assim falaram Paulo Autran e Constantin Stanislavski. Curioso como as ideias de dois gênios da raça se encontram - mesmo com quase um século de intervalo.

Então, lembrando:
"CARÍCIAS", de Sergi Belbel. Direção: Roberto Alvim. Quintas, às 21h. Até 30/07. Grátis. Retirar entrada 1h antes na bilheteria. Club Noir - Rua Augusta, 331, Centro (altura da Rua Caio Prado).

Na foto acima, com Fernanda Valencio. Na cena, pai e filha tentam se reconciliar. Mas não tem mais jeito. O estrago está feito. É como na vida.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Estreia é sempre estreia. Essa foi acima das expectativas. Casa cheia (70 lugares). Risadas, muitas risadas. Algumas gargalhadas. Trata-se de uma comédia, oras. Fotos em breve. Estamos felizes. Bem felizes. E como diz o meu amigo Edu Brisa: "Tamo junto".

A QUASE VIRGEM

Hoje estreia "A Quase Virgem", do meu amigo Edu Brisa. Ele me chamou para fazer um personagem. Não vou dizer o nome, porque ele já entrega tudo. Melhor assistir. É uma comédia - o que, para mim, já vale como experiência. "A Quase Virgem", na verdade, é uma cena, de uns 12 minutos, que integra "Efêmeros", um conjunto de cinco cenas. As outras quatro são: "360 do Avesso", "A Latina", "Sinal Verde" e "Os K - A Experiência". O projeto, chamado "CTI Abre as Pernas", comemora os seis anos da companhia (CTI é Companhia Teatro de Investigação) do Edu, ator, diretor e dramaturgo que eu admiro e respeito. Todas as quartas, às 21h, no Next. O serviço completo está abaixo.

360 do avesso
Autor: Edu Brisa. Com: André Arruda e Edu Brisa. Figurinos: Ana Cristina Ramos.

A Quase Virgem
Autor: Edu Brisa. Com: Mariane Lima, Augusto Tataren, Cris Camilo, Juliana Crifes e Paulo Cunha.

A Latina
Com: Julia Mariano, Anderson Negreiro e André Zeronian.

Sinal Verde
Autor: Mauro Hirdes. Com: Juliana Crifes, Tininha Mello e Augusto Tataren.

Os K - A Experiência
Autor: Geovane Fermac. Com: Geovane Fermac e Edson Araújo Lima.

Next - Rua Rego Freitas, 454, Vila Buarque. 70 Lugares. R$ 20,00.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O TRISTE FIM DO REI DO POP


O mundo está atônito com a morte de Michael Jackson. As pessoas parecem ainda não acreditar. Mas o fato é que desapareceu hoje o rei do pop. Vejam bem: do pop, não do rock. Não há como colocá-lo no mesmo time dos Beatles e de Elvis, só para citar os dois maiores gênios do rock. Um ataque cardíaco fulminante, aos 50 anos. As notícias chegam aos poucos, nem sempre precisas. Isso mesmo em tempos de internet, em que a mídia quase antecede ao próprio fato. É que, como tudo na vida de Michael, há megalomania até na hora da morte. O hospital em que o levaram foi isolado. Lá dentro só alguns médicos e os familiares do astro. Que se danem os outros pacientes e seus parentes. Jacko fecha o local. Assim como fechou os hotéis onde passou, mesmo se unicamente para exibir ao mundo, em rede, cenas deploráveis como aquela em que pendurou seu filho pela janela. Hoje as tevês reapresentaram, com algum deleite, a imagem do bebê balançando as perninhas, no alto de um hotel em Berlim.

Assim foram os últimos anos de Michael Jackson. Sua decadência artística andou junto, em paralelo, com a física. Sua carreira-solo se resume em dez álbuns de estúdio, lançados a partir de 1972. Dois são obras-primas: "Off The Wall", de 1979, e o mítico "Thriller, de 1982, o disco mais vendido da história da música, com 109 milhões de cópias. Eu fico imaginando quantos milhões a mais venderá a partir de hoje. Não sou um big fan de Michael Jackson. Conheço sua obra, tenho vários de seus discos, já li sobre sua biografia. Mas reconheço-o como o rei do pop - Madonna é a rainha. Tenho a impressão de que foi também uma das pessoas mais infelizes que já passaram por este mundo.

Micheal nasceu numa família de classe média, o mais novo entre vários irmãos e irmãs talentosos. Aos cinco anos, tornou-se a principal voz do Jackson Five, a banda da família. Surgia um astro infantil de um talento extraordinário e um carisma poucas vezes visto. Tanto que era o nome principal do grupo. Uma criança que já experimentava, em tenra idade, o estrelato que mata implacavelmente muita gente adulta. Em casa, no entanto, era pior. O pai o escravizava. Ele tinha que ensaiar até cair de sono, dia após dia. Caso contrário, a cinta entrava em ação. Michael era surrado pelo pai, o que não é novidade para ninguém. Li recentemente, numa dessas pesquisas sobre abuso infantil, que crianças que sofrem esse tipo de violência na infância tendem a desenvolver complicações na parte sexual. Saltemos, então, alguns anos na vida do astro morto para chegar ao momento em que sofreu a primeira acusação de abuso sexual contra uma criança que ele, Michael, havia convidado para ir à sua casa. O caso foi encerrado com um acordo do tipo "cala-boca". Ou seja, em nenhum momento foi provada a inocência do astro. E nem foi o único caso. Não é difícil imaginar o que acontecia por trás dos muros da Terra do Nunca, a estranhíssima propriedade do astro morto.

Depois de "Thriller", MJ não fez mais nada realmente interessante. Um ou outro momento isolado em "Bad" e a canção "Black or White", do álbum "Dangerous". MJ alcançou o megaestrelato aos 24 anos - ou seja, no meio de sua vida. Daí para a frente, só desceu a ladeira. A cada lançamento, mais frustração. Vendas medíocres para alguém do seu tamanho. E a cabeça do astro ia cada dia pior. Primeiro, a fixação quanto à cor da pele. A vontade de ser branco. E tudo que ele tinha de bom, o suingue, o ritmo, o requebrado, eram características marcantes da raça negra, da qual ele deveria se orgulhar, não renegar. Seguiram-se cirurgias plásticas, que faziam dele cada vez mais uma aberração. Há muito Michael já não exibia forma humana. Era uma máscara.

Michael Jackson morreu sozinho, que é como todos nós morreremos, ainda que cercados pela família e pelos amigos, no nosso leito de morte. Não há hora mais solitária que a da morte, já dizia Nelson Rodrigues. Eu acredito piamente nisso. Mas quanto a isso não há alternativa. O que é realmente triste é a solidão em vida. E, ao meu ver, Michael esteve só a vida toda. Esteve só na infância, na adolescência e na vida "adulta", se é possível dizer que teve uma. Quando tornou-se um astro passou a ser idolatrado pelos fãs. Mas acredito que nunca tenha sido amado. Refiro-me ao amor cotidiano, entre dois mortais. Entre mãe e filho, filho e pai, entre irmãos, amigos, marido e mulher. Um amor comum, cotidiano, de andar de mãos dadas, de assistir tevê junto numa tarde de domingo comendo pipoca, de fazer planos, de viajar. Insisto: amor entre mortais. O que um fã tem pelo ídolo nunca pode ser amor. É idolatria. A um passo da doença, da insanidade.