sexta-feira, 30 de outubro de 2009

ANIVERSÁRIO + SAUNA


Meus queridos e minhas queridas, hoje é meu aniversário. Nos e-mails que disparei pra galera, escrevi que completo 24 primeveras. Não colou. Fui alvo de chacota. Devia ter arriscado uns 33, 34. Agora, estou dizendo que foi erro de digitação: inverti os dois números. Mas o fato é que tenho um duplo convite para fazer a todos vocês, caríssimos. Hoje à noite, vou receber os amigos e as amigas no Finnegan's Pub (Rua Cristiano Vianna, 358, Pinheiros - esquina com a Rua Artur de Azevedo), a partir das 22h. O bar estará em clima de Halloween, com música ao vivo (pop, rock, indie, glam), gente de preto, etc. Reservei uma mesa grande, no andar de cima, onde é mais tranquilo e dá pra conversar. Portanto, é para gregos e troianos: agito embaixo, chill out em cima. Não paga nada pra entrar, mas paga pra sair. (He he, desculpem, não resisti.) Homem $13; mulher $10. Gostaria muito de ver quem não vejo faz tempo e rever quem está comigo no dia-a-dia. Segundo, minha peça "Sudatorium", a da sauna, foi selecionada para as Satyrianas 2009. Será apresentada no Teatro do Ator (Praça Roosevelt, 172, Centro), no dia 02/11, à 0h30 (virada do domingo para a segunda, feriado). Estão todos convidados. No último post, disse que era de graça. Desculpem, errei. Ou quase: na verdade custa $2 (dois reais). É o valor mínimo. Quem quiser paga mais. É o sistema adotado nas Satyrianas deste ano. O flyer de "Sudatorium" está, mais uma vez, aí em cima. Gosto muito desta foto. Ela é soturna, como é o clima da peça. Espero que seja o começo de uma bela carreira para essa sauna.

Três amigos de muito tempo estão relaxando, suando em bicas e jogando conversa fora. Papo vem, papo vai, e a temperatura começa a subir. Em todos os sentidos. Antigas rusgas reaparecem em meio ao calor. Pequenas frustrações emergem do suadouro. Quarentões, percebem que chegaram à metade de suas vidas. E, de uma hora para outra, querem passar tudo isso a limpo. No meio de uma sauna.

"Sudatorium", de Paulo Cunha
Direção: Edu Brisa
Com Adriano Merlini, Carlos Sobrinho e Edson Aranha
Segunda 02/11, 0h30, virada do domingo para segunda - Nas Satyrianas 2009
Teatro do Ator - Praça Roosevelt, 172, Centro.
R$ 2,00 (valor mínimo). Quem quiser, paga mais.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

SUDATORIUM NAS SATYRIANAS 2009


Três amigos de muito tempo estão relaxando, suando em bicas e jogando conversa fora. Papo vem, papo vai, e a temperatura começa a subir. Em todos os sentidos. Antigas rusgas reaparecem em meio ao calor. Pequenas frustrações emergem do suadouro. Quarentões, percebem que chegaram à metade de suas vidas. E, de uma hora para outra, querem passar tudo isso a limpo. No meio de uma sauna.

Sudatorium, de Paulo Cunha
Direção: Edu Brisa
Com Adriano Merlini, Carlos Sobrinho e Edson Aranha
Segunda 02/11, 0h30, virada do domingo para segunda - Nas Satyrianas 2009
Teatro do Ator - Praça Roosevelt, 172, Centro.
Grátis.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

SOBRE BORTOLOTTO, IPODS, CAMINHADAS, CAIO FERNANDO E UM POUCO DE SOLIDÃO

Costumo ler o blog do Mario Bortolotto (http://atirenodramaturgo.zip.net/). Não o conheço pessoalmente, não sou seu amigo, nunca tomamos umas juntos. Já assisti a umas dez peças dele e devo ter lido umas outras dez. Quando eu estudava teatro no Senac, na turma da noite, a gente costumava matar a aula da sexta-feira para assistir a alguma peça. Fomos a umas três ou quatro do Bortolotto. Lembro que minhas amigas, e minha namorada na época, detestavam. Achavam o texto machista, as atuações fracas, a direção ruim e por aí vai. Concordo em parte. Sempre enxerguei alguma poesia na obra do Bortolotto, em alguns textos mais, em outros menos. E havia ali, pelo menos, uma grande atriz: Fernanda D'Umbra. Mas não era bem disso que eu queria falar. Dizia eu que leio o blog do Bortolotto quase sempre. Tem umas coisas que ele escreve, não tudo, de que eu gosto pra caralho. Talvez porque me identifique com elas. Há algum tempo ele vem escrevendo, quase em todo post, que um de seus prazeres é sentar numa mesa de fundo de bar, e ficar ouvindo um blues no seu mp3. Só ele, a música e uma dose de uísque. Mais ninguém. Pouca gente sabe, acho, mas sou um pouco assim. Sou uma pessoa bastante sociável, mas gosto também de curtir uns momentos sozinhos. Tinha uma época, há uns 20 anos, que eu e minha turma de amigos viajávamos para o Nordeste todo verão. Era sempre lá pelo meio de janeiro, início de fevereiro. Eu sempre dava um jeito de sair uma semana antes, sozinho, e me encontrava com eles depois. Gostava de passar um tempo sozinho. Nessas horas, minhas duas únicas companhias eram o rock e a cerveja. Adorava caminhar pelas praias, com uma latinha na mão e o walkman no bolso do calção. Andava quilômetros. Antes de sair de São Paulo, passava no supermercado e comprava um monte de pilhas alcalinas, que custavam bem mais que as comuns, mas valiam o investimento. Meu walkman era aquele tijolo amarelo, da Sony, que podia entrar na água - era o que diziam, eu nunca testei. Anos depois, numa viagem à praia, na casa do meu grande brother Calabró, o xarope do Cesinha voltou totalmente bêbado da balada e vomitou em cima do walkman. Foi o fim dele. E, por coincidência, era o início da era do CD. Tanto que, semanas depois, comprei meu primeiro diskman, também da Sony. Isso foi por volta de 1991, 92. Dois anos depois, entrei na faculdade de jornalismo, na Cásper Líbero, e esse diskman se tornou o meu companheiro de andarilhagem. Era comum, nesta época, a gente ficar tomando umas na "prainha" da Paulista até fechar o último bar. Era bacana: os bares iam fechando e a gente ia pulando para o do lado, que ainda estava aberto. Meu amigo Paulo Sales, que costuma ler esta bagaça e que tem um puta blog legal (http://paradiseduluoz.blogspot.com/), era um dos que, invariavelmente, se fazia presente. Quando a gente decidia, finalmente, ir embora já não tinha mais ônibus, nem metrô. Eu adorava: sacava meu diskman e saia andando rumo a Pinheiros, onde ainda moro. Às vezes, voltava conversando com a minha amiga Mari, que morava perto de mim, e o diskman não era necessário. Mas era raro. O normal era voltar embalado pelo rock. Aquela época ouvia muito britpop, madchester. Era Oasis, blur, Radiohead, James, Inspiral Carpets, Charlatans, Stone Roses, Happy Mondays, Ride, vai por aí. Passei os quatro anos da faculdade assim. Isso se repetiu quando virei correspondente em Paris e, depois, nos dois anos que passei em Tóquio. Minha rotina era andar, andar pelas ruas desconhecidas, muitas vezes escuras e desertas, raramente perigosas (embora misteriosas), com uma cerveja na mão e sons furiosos saindo dos fones de ouvido. De uma certa forma, a música que eu ouvia refletia o que eu sentia - Oasis ou blur na euforia, Radiohead ou Verve nas horas tristes. Aí, na virada do século surgiu o MP3. Quando comprei meu iPod, demorei a compreender a possibilidade de andar com toda (toda mesmo) minha discografia a tiracolo. Demorei uns dois meses para baixar todos os meus quase 2 mil CDs para aquela caixinha branca que cabia no meu bolso. Eram dias e dias de música concentrados num único dispositivo, à minha inteira disposição.
Desculpem, eu devia ter avisado antes: este é um daqueles posts enormes, que blogueiros costumam escrever quando não têm sono, como é o meu caso agora. Continuando, o MP3 resolveu um grande problema que havia antes de sua existência, que era escolher o cassete ou o CD a colocar antes de sair de casa. Não havia mais o quê escolher - era toda uma parede de CDs para ouvir quando eu quisesse. Mas eu falava de solidão e agora me veio na cabeça um conto do Caio Fernando Abreu, o mais lindo de todos os que eu já li dele. Chama-se "Além do Ponto" e é do livro "Morangos Mofados". Fala de andar bêbado por ruas desertas, sob a chuva, à procura de algo que já se sabe que não vai encontrar. É com um trecho desse conto que eu acrescento alguma beleza neste post sem pé nem cabeça.

"Chovia sempre e eu custei para conseguir me levantar daquela poça de lama, chegava num ponto, eu voltava ao ponto, em que era necessário um esforço muito grande, era preciso um esforço tão terrível que precisei sorrir mais sozinho e inventar mais um pouco, aquecendo meu segredo, e dei alguns passos, mas como se faz? me perguntei, como se faz isso de colocar um pé após o outro, equilibrando a cabeça sobre os ombros, mantendo ereta a coluna vertebral, desaprendia, não era quase nada, eu, mantido apenas por aquele fio invisível ligado à minha cabeça, agora tão próximo que se quisesse eu poderia imaginar alguma coisa como um zumbido eletrônico saindo da cabeça dele até chegar na minha, mas como se faz? eu reaprendia e inventava sempre, sempre em direção a ele, para chegar inteiro, os pedaços de mim todos misturados que ele disporia sem pressa, como quem brinca com um quebra-cabeça para formar que castelo, que bosque, que verme ou deus, eu não sabia, mas ia indo pela chuva porque esse era meu único sentido, meu único destino: bater naquela porta escura onde eu batia agora. E bati, e bati outra vez, e tornei a bater, e continuei batendo sem me importar que as pessoas na rua parassem para olhar, eu quis chamá-lo, mas tinha esquecido seu nome, se é que alguma vez o soube, se é que ele teve um dia, talvez eu tivesse febre, tudo ficara muito confuso, idéias misturadas, tremores, água de chuva e lama e conhaque no meu corpo sujo gasto exausto batendo feito louco naquela porta que não abria, era tudo um engano, eu continuava batendo e continuava chovendo sem parar, mas eu não ia mais indo por dentro da chuva, pelo meio da cidade, eu só estava parado naquela porta fazia muito tempo, depois do ponto, tão escuro agora que eu não conseguiria nunca mais encontrar o caminho de volta, nem tentar outra coisa, outra ação, outro gesto além de continuar batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo nesta porta que não abre nunca."

terça-feira, 20 de outubro de 2009

SATYRIANAS COM SAUNA

Minha peça "Sudatorium" foi selecionada para a Satyrianas 2009. Para quem ainda não conhece, a Satyrianas é uma grande festa de teatro, com 78 horas ininterruptas (de 30/10 a 02/11) de peças, minicenas e performances, que acontece na Praça Roosevelt e arredores, com apoio da Secretaria Municipal de Cultura. "Sudatorium", mais conhecida como "a peça da sauna", foi escrita no começo deste ano. Quero aproveitar e agradecer a Roberto Alvim, que acompanhou todo o processo de escritura, e deu toques pertinentes e esclarecedores. Em maio, o texto recebeu uma leitura encenada, no Club Noir, e repercutiu muito bem. Eu mesmo dirigi e convidei atores amigos meus, que tiraram as palavras do papel e as lançaram no palco. Também agradeço a eles - em especial ao meu brother Fabio Takeo, que, com seu talento e dedicação extraordinários, deu ao personagem Aldo uma dimensão que ele não tinha. Mas agora, para a apresentação na Satyrianas, tudo mudou. Primeiro, decidi passar a direção para mãos mais experientes e competentes que as minhas - chamei meu velho parceiro Edu Brisa. E, por conta de compromissos de trabalho dos atores que fizeram a leitura, tive que mudar todo o elenco. Pelo que conheço dos novos atores - Adriano Merlini, Carlos Sobrinho e Edson Aranha -, a peça tem tudo para dar certo, mais uma vez. Adriano é meu companheiro de cena na peça ("Destinos") que estamos ensaiando com o Grupo XIX. Trabalha também com o Folias, já o vi em cena em "Querô" e gosto muito do seu trabalho. Carlão também está comigo no XIX, sei o quanto o cara é disciplinado e curte o que faz - e faz bem. O Edson também fez "Querô" e me foi apresentado pelo Adriano. Gostei muito da sua atuação na peça do Folias. Então, o que quero dizer é que estou tranquilo quanto à trupe que vai levantar "Sudatorium". E, antes mesmo do primeiro ensaio, que é amanhã, já agradeço a todos os que estão no barco. Tenho certeza que será um processo muito bacana, apesar de curto. É, porque a peça tem que estar de pé em duas semanas (!), já que a apresentação é na virada do domingo 1 para a segunda 2 de novembro, à 0h30. Feriado? Bobagem. Quero ver todo mundo lá! Será no Teatro do Ator, na Praça Roosevelt, 172. Na semana que vem, falo de novo da peça, de como estão os ensaios, e coloco aqui um flyer bem bacana, com os créditos, o local, o horário e tudo mais que todo mundo quer saber. Abaixo, um pedacinho do texto de descrição da peça, que foi encaminhado à comissão de seleção da Satyrianas:

Três amigos de muito tempo estão relaxando, suando em bicas e jogando conversa fora. Papo vem, papo vai, e a temperatura começa a subir. Em todos os sentidos. Antigas rusgas reaparecem em meio ao calor. Pequenas frustrações emergem do suadouro. Quarentões, percebem que chegaram à metade de suas vidas. E, de uma hora para outra, querem passar tudo isso a limpo. No meio de uma sauna.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

ANTÍGONA E O DIREITO NATURAL

Sófocles (496 a.C. - 406 a.C) é, para mim, o maior tragediógrafo grego. Durante sua longa vida, escreveu 123 peças teatrais e conquistou 24 vitórias nos concursos trágicos - na primeira delas, quando derrotou o grande Ésquilo, tinha apenas 28 anos de idade. "Édipo Rei" já bastaria para colocá-lo no olimpo dos poetas clássicos. Acredito que, ao lado de "Hamlet", de Shakespeare, não há nada no gênero com igual estatura. Mas Sófocles escreveu, ainda, "Antígona". Salvo engano, foi a primeira vez que o teatro cuidou, ao menos explicitamente, do tema do Direito Natural - que, muito depois, a ciência jurídica passou a tratar como Jusnaturalismo. A história é bem conhecida: Etéocles e Polinices, os dois filhos varões de Édipo, matam-se um pela mão do outro numa sangrenta batalha pelo trono de Tebas, que ficara vago deste a morte do pai. Quem assume, então, é o parente mais próximo, Creonte, irmão de Jocasta, mulher de Édipo. O primeiro ato do novo rei, ao assumir o poder, é ordenar o sepultamento de Etéocles , que lutara por Tebas, com pompas de herói. Já Polinices, que combatera pela rival Argos, pelo decreto de Creonte não poderia ser enterrado - seu corpo deveria ser deixado para o banquete das hienas e dos abutres. É quando entra em ação Antígona, filha de Édipo, irmã de Etéocles e Polinices. Revoltada com a decisão de Creonte, ela enterra o irmão, em franca desobediência ao edital do tirano. A defesa de Antígona é uma das mais belas peças de Direito já elaboradas - que deveria ser estudada em todas as escolas de ciências humanas, e emparedada nas salas de advogados, promotores e juízes, ao lado de seus diplomas. Dizia a heroína a Creonte: "A tua lei não é a lei dos deuses; apenas o capricho ocasional de um homem. Não acredito que tua proclamação tenha tal força que possa substituir as leis não escritas dos costumes e os estatutos infalíveis dos deuses. Porque essas não são leis de hoje, nem de ontem, mas de todos os tempos: ninguém sabe quando apareceram. Não, eu não iria arriscar o castigo dos deuses para satisfazer o orgulho de um pobre rei. Eu sei que vou morrer, não vou? Mesmo sem teu decreto. E se morrer antes do tempo, aceito isso como uma vantagem. Quando se vive como eu, em meio a tantas adversidades, a morte prematura é um grande prêmio. Morrer mais cedo não é uma amargura; amargura seria deixar abandonado o corpo de um irmão. E se disseres que ajo como louca, eu te respondo que só sou louca na razão de um louco". Eis o tema principal da peça: o choque do direito natural, defendido por Antígona, com o direito positivo (ou seja, legislado), representado por Creonte. A heroína arrisca a vida - e, no final, morre por isso - por estar convicta da existência de um direito anterior, que não se sabe de onde provém, que garante aos mortos - a todos e a qualquer um - um sepultamento digno. É o que se aprende em Direito como sendo a oposição entre o justo e o legal. O primeiro, umbilicalmente ligado à etica, deveria prevalecer sempre sobre o segundo, porque anterior a ele e emanado de uma esfera superior, natural, universal. Há 2.500 anos, Sófocles já mostrava que nenhum governante poderia estar acima da lei.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

COM DEUS NÃO SE BRINCA?

Hoje à tarde recebi um e-mail de um ex-colega de teatro do Senac, que trazia um link para o You Tube em que ele mostrava - não só para mim, mas para um monte de gente - uma locução que acabara de realizar. Esse meu ex-colega faz uns bicos de locutor. Gostei do trabalho dele e respondi, parabenizando-o. Mas, prestando atenção no texto, que ele me disse depois não ser de sua autoria, não consegui deixar passar. E critiquei violentamente o que se pretendia dizer com aquilo. Era um texto com cunho religioso, bem do tipo que padres e pastores (estes, principalmente) adoram discursar do alto de seus púlpitos dourados. O texto chamava-se "Com Deus Não Se Brinca". É o tipo de ameaça que as religiões cristãs adoram fazer, e que eu detesto e abomino. Essa idiotice de "temer a deus". Ora, se eu fosse religioso, eu procuraria amar deus e não temê-lo. Embora eu ache mais importante o amor entre os homens do que o amor a deus. Mas, como disse, não sou religioso. Em tom ora ameaçador, ora professoral, o texto associava as mortes de John Lennon, Tancredo Neves, Cazuza, Marilyn Monroe, e vários outros famosos, a frases que eles disseram em algum momento de suas vidas em tom de blasfêmia ou meramente jocoso. Como se uma coisa levasse à outra. É muita ingenuidade pensar assim, eu disse ao meu colega. Ora, morrer faz parte da vida. Tancredo Neves, por exemplo, morreu porque era velho e estava muito doente. As pessoas morrem, principalmente se forem velhas e estiverem doentes. É assim que funciona. Em 1966, John Lennon disse que os Beatles eram mais populares que Jesus Cristo. E, naquele momento, no auge da beatlemania, eram mesmo. Aí, no texto, meu colega diz que ele levou cinco tiros de um fã, logo depois. Como assim? Ele foi assassinado por um maníaco (não um fã) em 1980 - portanto, quase 15 anos depois! Fui dizendo ao meu colega, se a gente levar a sério esse jeito de pensar as fatalidades da vida, como se explicaria a morte de Ayrton Senna, por exemplo? Quem lembra dele, sabe que ele era um sujeito religioso, católico, que usava a palavra "deus" o tempo todo, fazia caridade, era querido por todos, etc. Ora, ele morreu num trágico acidente, "logo depois", como todos nós sabemos. De novo: as pessoas morrem, sejam elas boas ou más. Que nós possamos nos amar e respeitar um pouco mais, em vez de perder nosso tempo "temendo a deus" ou seguindo lógicas equivocadas como a desse texto que meu colega narrou.

domingo, 4 de outubro de 2009

FUCK YOU, YOKO ONO

A tarde de hoje foi inteiramente dedicada a uma matéria que eu precisava terminar. Quando é assim, dependendo do que tenho que escrever ou editar, gosto de trabalhar ouvindo música. Deu vontade de ouvir John Lennon, fase pós-Beatles. Adotei o estilo do meu amigo Mário, de Floripa, que costuma ouvir seus discos em ordem cronológica de lançamento. No caso dele, parece que é TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo), já que ele só consegue apreciar desse jeito as centenas de CDs de sua bela discografia de rock nacional. No meu, acho que não, foi frescura mesmo. Ao contrário do Paul McCartney, a carreira-solo do John é curta, por conta de sua morte prematura, aos 40 anos. Tirando as inúmeras coletâneas, os discos ao vivo e os três trabalhos experimentais, absolutamente xaropes, chatérrimos, que ele fez ainda durante os tempos de Beatles, sua discografia de estúdio é assim: "Plastic Ono Band" (1970), "Imagine" (1971), "Some Time in New York City" (1972), "Mind Games" (1973), "Walls and Bridges" (1974), "Rock’n’Roll" (1975), "Double Fantasy" (1980) e "Milk and Honey", lançado postumamente, em 1984. Foi ouvindo os discos assim, em sequência, que pude perceber duas coisas: apesar de curta, é uma carreira brilhante, com duas obras-primas, os dois primeiros, e mais um punhado de grandes canções, espalhadas por todos os outros álbuns. Não há como resistir ao encanto de "Mother", "Working Class Hero", "Love", "God" (para mim, a grande canção de John Lennon, a maior de todas), "Imagine", "Crippled Inside", "Jealous Guy", "Gimme Some Truth", "How?". Tudo isso aí é só dos dois primeiros. E, dos outros, tem ainda: "John Sinclair", "Mind Games", "Whatever Gets You Thru The Night", "#9 Dream", "Nobody Loves You (When You're Down And Out)", "Stand By Me", "(Just Like) Starting Over","Beautiful Boy", "Watching The Wheels", "Woman", "I'm Stepping Out", "Nobody Told Me" e "Borrowed Time".
A outra coisa que notei é que, a partir de 1972, os discos deixaram de ser espetaculares. Continuam tendo bons, ótimos momentos, mas no todo são irregulares. A razão disso tem nome: Yoko Ono. Devo dizer que este nome é impronunciável para muitos beatlemaníacos. O mestre Beto Iannicelli nunca fala o nome dela. Diz que faz mal à saúde. Não sei, mas posso garantir que ouvir a voz de Yoko, o seu "canto", isso sim, faz muito mal à saúde. A acidez no estômago começa já nas suas primeiras intervenções e chega ao ápice quando ela grita, berra, se esgoela, naquela idiotice que os anos 70 conheceram como "grito primal" (primal scream). Yoko consegue destruir pelo menos 1/3 da carreira-solo do John. As canções interpretadas por ela, ou cuja autoria é creditada a ela (pessoalmente, eu duvido que ela tenha composto qualquer coisa; o John compunha e dava para ela cagar em cima), dividem-se em três grupos: ruins, muito ruins ou medonhas. Simplesmente não consigo ouvir a voz dessa mulher. No DVD "Gimme Some Truth", espécie de bastidores das gravações do "Imagine", John está no estúdio com um monte de craques, incluindo George Harrison, e a Yoko lá, metendo o bedelho, falando merda. Dá vontade de vomitar. Considero Yoko Ono, artisticamente, nula, um nada, uma fraude construída sobre a imagem do marido. E o mundo inteiro engoliu. Dia desses, conversando com o meu amigo e bandmate André Santana, ele me lembrou que no livro "Lembranças de Lennon", uma longa entrevista que o John deu para a revista Rolling Stone, a Yoko não parava de dar pitacos - sem noção, como sempre -na conversa dele com o jornalista. Até que, numa certa hora, John não resistiu e mandou um sonoro "fuck you, Yoko". Acho que naquele momento ele falou por muitos de seus admiradores. Por mim, com certeza.

sábado, 3 de outubro de 2009

AGORA SAI


(Cenário de uma pequena casa, em estilo japonês. Há apenas dois cômodos: a cozinha e o quarto, ambos apertados, separados por uma porta de correr. Manhã cedo. É inverno e faz muito frio. As janelas da casa estão fechadas. A atmosfera é escura, cinzenta, claustrofóbica. Inácio e Clara acabaram de acordar, e tiraram o dia para arrumar a casa, pois começam a trabalhar no dia seguinte. Ao longo de toda a cena, enquanto conversam, eles estarão abrindo caixas, desempacotando, colocando roupas no armário, etc.)

Eis a rubrica inicial de "Sakurá", minha nova peça. Quer dizer, nova em termos. Ela começou a ser escrita em 2005, ficou engavetada e só no começo deste ano, voltei a ela. Só que aí, em maio, escrevi "Sudatorium" de um fôlego só, apresentei-a numa leitura dramática e, agora, a "peça da sauna", como meus amigos a chamam, deve ser montada no fim do ano. Mas este post é sobre "Sakurá", minha nova (velha) peça. Já falei um pouco dela aqui, num dos primeiros textos que postei aqui nesta bagaça. Gosto muito da história, que trata de um casal de jornalistas que vai morar e trabalhar em Tóquio. "Pouco autobiográfica", diriam, com ironia, meus amigos mais próximos, que sabem da minha experiência japonesa. Nem tanto. Claro, a idéia geral tem tudo a ver, o fato de ser um casal também, mas para por aí. O que acontece na peça não tem uma conexão necessária com a realidade - é ficção. Agora, "ganhei" um prazo para finalizá-la: primeira semana de dezembro. É quando deve ocorrer sua leitura encenada. Uma vez mais, convocarei meus colegas atores para dar vida ao texto, para tirá-lo da folha de papel. Tenho certeza, agora sai.