sábado, 7 de fevereiro de 2009

UMA CENA

Um quarto sombrio. O Velho está sentado na cama. Além dela, há um armário. São os únicos móveis do quarto.

- Mais um dia. Isso não acaba nunca.

O Velho se levanta e vai até o armário. Pega o único terno que possui.

- Isso aqui foi minha ferramenta quando eu era jovem. Quando eu era vivo. Sete horas e meu café ainda não chegou. Onde está a mulher?

A porta se abre e a Mulher entra no quarto. Ela é um pouco mais jovem que o Velho, mas já demonstra o passar dos anos.

- Chegou o seu café. Fiz umas torradas também. Você precisa se alimentar.
- Trinta anos neste quarto.
- Você precisa se alimentar. Está muito fraco.
- Trinta anos é uma vida.
- Precisa comer. Saco vazio não para em pé.
- Eu costumava dançar.
- É.
- Eu dançava bem.
- Isso foi há muito tempo.
- Quando esse prédio ainda tinha vida. Agora está abandonado.
- Não pensa nisso.
- As pessoas vinham de longe para me ver dançar. O salão aqui em cima ficava lotado.
- Para com isso.
- Aqui era o meu camarim. Eu dava entrevistas.
- Que martírio.
- Agora é apenas um quarto. Um depósito.
- Eu preciso ir.
- Depósito de ossos.
- Vou embora.
- Eu sei.
- Você vem hoje?
- Você sabe que eu nunca vou.
- Eu sei.

A Mulher sai. O Velho senta-se na cama e fica olhando para o terno no armário.

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