domingo, 15 de fevereiro de 2009

OVERDOSE DE (BOM) TEATRO

Fui ver 'Hamlet' na sexta, 'Calígula' no sábado e 'A Alma Boa de Setsuan' agora há pouco. Gostei dos três, mas em diferentes níveis e por razões distintas. 'Hamlet' é uma puta montagem, e o Wagner Moura está simplesmente voando no palco. De um lado, as cenas do Hamlet sarcástico, mergulhado na sua fingida loucura, e, de outro, a do homem perturbado, consciente da tragédia de seu destino, mostram um personagem com vários matizes, todos eles presentes na construção de Wagner Moura. Um trabalho impecável. Se tivesse que apontar um senão, seria o tom de alguns personagens, que esbarra no caricato. É o caso de Polônio e do Rei Cláudio, este interpretado pelo Tonico Pereira. Juro que, às vezes, fiquei com medo de que ele soltasse um "Lineuzinho, meu amiguinho" em alguma de suas falas. 'Calígula' foi uma grata surpresa. Nunca tinha visto o Thiago Lacerda no palco. Nada a ver com suas interpretações chapadas das novelas e minisséries da Globo. Ao contrário, deu ao seu Calígula a densidade exigida pelo texto espetacular de Camus. Em dez anos de tevê, sempre fazendo papel de mocinho, nunca vi em seu rosto as expressões que mostrou na peça. Visceral. 'A Alma Boa', se comparada às duas primeiras, é menor. Tem como mérito provar que Brecht pode ser divertido. Mas é teatrão e, confesso, me empolga menos. Pra ser sincero, acho que o maior problema do teatrão é o público de teatrão. E, no Teatro Renaissance, aí a coisa se potencializa. Tiozões com suas peruas falando alto, celulares tocando - e gente atendendo!, e, bem do meu lado, uma velhota de cabelo armado, dormindo e roncando pesado. Lixo puro.

2 comentários:

Paulo Sales disse...

Fala, Paulão
Vim retribuir a visita e me deparei com textos bem interessantes. Parabéns. O melhor de ter um blog é que você acaba seguindo um caminho bem diferente do que imaginava de início. Voltarei mais vezes.
Grande abraço,

Paulo Cunha disse...

Obrigado, meu caro. Um abração.