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quinta-feira, 18 de junho de 2009

HOJE TEM CARÍCIAS


Numa estação de trem vazia, um jovem casal discute sobre odores suspeitos. E sobre desgraça e separação. Numa praça igualmente vazia, mãe e filha perguntam-se por que não deram certo. Um asilo seria a opção? Próximos dali, uma velha e um mendigo conversam sobre as migalhas de suas vidas. Sardinhas, frango frito, uma doença fatal, um passado em comum. Na cozinha de casa, papai faz uma salada para a filha que vem visitá-lo. E um peixe insosso. Melhor nem ter vindo. E por aí vai.
Relações humanas incompletas, destroçadas, que nunca foram e nunca serão: eis a matéria prima de "Carícias", do dramaturgo espanhol Sergi Belbel. Por meio de cenas aparentemente sem nexo, o autor trata da precariedade das nossas relações. Os personagens não têm nome. Não precisam. Podemos dar os nomes que quisermos. Podemos dar nossos próprios nomes - porque esses personagens somos nós. É da precariedade das NOSSAS relações que o texto trata. Por mais que isso incomode. E, podem apostar, incomoda. Os diálogos são excepcionais (trata-se de um mestre), de uma aparente banalidade. Só que há uma estranheza no ar, por trás de cada frase, de cada intenção. De uma certa forma, os diálogos são dois monólogos, porque raramente se ouve o que o outro está falando. O que importa é que falemos. Os personagens querem falar, querem ser ouvidos - e não ouvir. Alguma semelhança com nossa realidade, na família, no trabalho, entre amigos?
A direção é do Roberto Alvim. É um craque. Quem conhece seus trabalhos anteriores ("Anátema", "Homem Sem Rumo", "O Quarto", "Comunicação a Uma Academia") certamente não perderá essa. Sua linguagem é minimalista e ao mesmo tempo repleta de signos. Algo entre David Lynch e a novíssima vanguarda do teatro novaiorquino. Na foto acima, ele conversa com o elenco, no saguão do Club Noir. Uma coisa legal do Roberto é saber ouvir. Sua direção é precisa, ele sabe o que quer, a decisão final é sua (afinal, ele é o diretor, oras). Mas sempre escuta. Em tempos como os de hoje, é mais que uma qualidade. É uma marca de caráter.

"CARÍCIAS", de Sergi Belbel. Direção: Roberto Alvim. Quintas, às 21h. De 14/05 a 25/06. Grátis. Retirar entrada 1h antes na bilheteria. Club Noir - Rua Augusta, 331, Centro (altura da Rua Caio Prado).

domingo, 7 de junho de 2009

A MELHOR NOITE (SO FAR)


Segundo os comentários, na quinta passada fizemos nossa melhor apresentação de "Carícias". E acho que foi mesmo. Na coxia, antes de entrar em cena (entro mais ou menos na metade da peça), já percebia uma energia diferente, desde a primeira fala. E foi assim até o final. O Roberto Alvim, diretor da montagem, foi ao camarim depois da apresentação e disse ter gostado muito. É um ótimo "feedback", porque ele próprio vinha pedindo mais atenção ao ritmo da peça. Acho que desta vez foi na medida. Estamos todos muito felizes. Na foto acima, Fernanda Valencio e eu, na nossa cena. Gosto muito de contracenar com ela. Acho que estamos adquirindo uma intimidade cênica bem interessante. Somos pai e filha tentando acertar nossas contas. Mas não adianta. O desprezo é mútuo. O que tinha que ser estragado já foi. Não há conserto. Disse e repito: "Carícias" é sobre nós.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

LOGO MAIS


Hoje à noite tem mais uma apresentação de "Carícias". Acho que a peça está ficando melhor a cada semana. As atuações estão mais seguras, as marcações mais firmes e as intenções mais nítidas. Ou seja, os personagens estão ganhando forma. E os personagens de Sergi Belbel, o catalão autor do texto, são de uma força dramatúrgica descomunal. A foto acima, com a linda e talentosa Adelita Ahmad, mostra o nosso aquecimento antes de entrar em cena, na segunda apresentação, salvo engano. A Adelita interpreta uma jovem que nunca se entendeu com a mãe, e agora quer jogá-la num asilo. Mas, por trás disso, há uma vã tentativa mútua de reconciliação. Os personagens de Belbel são assim: como nós.

"CARÍCIAS", de Sergi Belbel. Direção: Roberto Alvim.
Quintas, às 21h. De 14/05 a 25/06. Grátis. Retirar convite 1h antes.
Club Noir - Rua Augusta, 331, Centro (altura da Rua Caio Prado).