sexta-feira, 15 de maio de 2009

O SEGUNDO DIA

Ontem foi a segunda apresentação de "Carícias" (todas as quintas, às 21h, no Club Noir, até 25/06). Há um mito no teatro sobre o segundo dia: dizem que é o mais perigoso. Isso porque, passada a tensão da estreia, é comum que o elenco afrouxe um pouco o cinto e a peça perca o ritmo. Não acho que isso aconteceu. Até porque, como a gente se apresenta só uma vez por semana, toda quinta parece uma nova estreia. Resumindo, o espetáculo de ontem foi melhor que o primeiro. As pessoas que assistiram aos dois disseram isso. E nós, do elenco, também sentimos a mesma coisa. Portanto, continuamos felizes. É sempre bom continuar feliz. Dado ao incontestável fato de que estar feliz é algo passageiro, continuar feliz é uma vitória. Agora, uma coisa aconteceu na minha cena, mais especificamente comigo. Acho que a cena, como um todo, foi muito boa. A Fernanda, minha parceira, estava ótima. E isso me fez bem também. Só que, a uma certa altura, digamos no último terço da cena, rolou um branco. Pouca gente notou, só quem conhece bem o texto. Alguns me perguntaram se foi uma nova intenção dada ao personagem, parte da construção. Que nada. Foi branco mesmo. De alguns segundos apenas, que na minha cabeça pareceram um dia inteiro. Respirei fundo, me concentrei, veio o texto e a cena seguiu até o fim, palavra por palavra, intenção por intenção. Daí até o final, algo se operou em mim. Era o momento em que meu personagem, um velho pai diante de uma filha que o despreza, atinge um alto grau de emoção. Fui buscar elementos na minha memória emotiva. Veio um turbilhão de coisas na cabeça. Lembrei do meu pai, morto no ano passado, de outras perdas igualmente importantes, da minha família, dos meus amigos e por aí vai. Tudo desordenado, tudo em uma fração de segundo. Deu um nó na minha garganta e minhas últimas falas saíram com a voz embargada. Meu semblante era verdadeiramente triste, e meus olhos estavam marejados. Qual a explicação para isso, o branco, toda a emoção seguinte, não dá para saber. Eu tenho uma suspeita. Minha mãe estava na platéia.

7 comentários:

A.C. disse...

\o/
Que bom que a segunda apresentação foi melhor que a primeira.
x))
Parabéns =)

bjim

Paulo Cunha disse...

Obrigado, Andressa. Apareça sempre. Um beijo.

Paulo Sales disse...

Gostaria de estar aí em SP para conferir essa performance. Parabéns, Paulão.

Paulo Cunha disse...

Quem sabe um dia a gente leva a peça para a Bahia de Todos os Santos. Tenho lido todos os textos do seu blog. Se me permite, são de uma qualidade impressionante. Não só no aspecto linguístico, mas quanto aos temas e a forma como você os aborda. Eu é que lhe dou parabéns! Qualquer dia, quando você menos esperar, vou baixar aí pra gente tomar umas e relembrar os bons tempos de faculdade. Um grande abraço, meu velho.

Paulo Sales disse...

Valeu, Paulão. Valeu mesmo. Também curto muito o seu blog. Precisamos tomar umas brejas e botar a conversa em dia. Até hoje sinto falta do Puppy.
abração,

Adelita Ahmad disse...

Paulo, que bonita a sua análise da peça,
o teatro é realmente mágico,
e nós, abençoados!

um beijo, até quarta,
Adelita

Paulo Cunha disse...

Obrigado, querida. Um beijo.