segunda-feira, 12 de outubro de 2009
ANTÍGONA E O DIREITO NATURAL
Sófocles (496 a.C. - 406 a.C) é, para mim, o maior tragediógrafo grego. Durante sua longa vida, escreveu 123 peças teatrais e conquistou 24 vitórias nos concursos trágicos - na primeira delas, quando derrotou o grande Ésquilo, tinha apenas 28 anos de idade. "Édipo Rei" já bastaria para colocá-lo no olimpo dos poetas clássicos. Acredito que, ao lado de "Hamlet", de Shakespeare, não há nada no gênero com igual estatura. Mas Sófocles escreveu, ainda, "Antígona". Salvo engano, foi a primeira vez que o teatro cuidou, ao menos explicitamente, do tema do Direito Natural - que, muito depois, a ciência jurídica passou a tratar como Jusnaturalismo. A história é bem conhecida: Etéocles e Polinices, os dois filhos varões de Édipo, matam-se um pela mão do outro numa sangrenta batalha pelo trono de Tebas, que ficara vago deste a morte do pai. Quem assume, então, é o parente mais próximo, Creonte, irmão de Jocasta, mulher de Édipo. O primeiro ato do novo rei, ao assumir o poder, é ordenar o sepultamento de Etéocles , que lutara por Tebas, com pompas de herói. Já Polinices, que combatera pela rival Argos, pelo decreto de Creonte não poderia ser enterrado - seu corpo deveria ser deixado para o banquete das hienas e dos abutres. É quando entra em ação Antígona, filha de Édipo, irmã de Etéocles e Polinices. Revoltada com a decisão de Creonte, ela enterra o irmão, em franca desobediência ao edital do tirano. A defesa de Antígona é uma das mais belas peças de Direito já elaboradas - que deveria ser estudada em todas as escolas de ciências humanas, e emparedada nas salas de advogados, promotores e juízes, ao lado de seus diplomas. Dizia a heroína a Creonte: "A tua lei não é a lei dos deuses; apenas o capricho ocasional de um homem. Não acredito que tua proclamação tenha tal força que possa substituir as leis não escritas dos costumes e os estatutos infalíveis dos deuses. Porque essas não são leis de hoje, nem de ontem, mas de todos os tempos: ninguém sabe quando apareceram. Não, eu não iria arriscar o castigo dos deuses para satisfazer o orgulho de um pobre rei. Eu sei que vou morrer, não vou? Mesmo sem teu decreto. E se morrer antes do tempo, aceito isso como uma vantagem. Quando se vive como eu, em meio a tantas adversidades, a morte prematura é um grande prêmio. Morrer mais cedo não é uma amargura; amargura seria deixar abandonado o corpo de um irmão. E se disseres que ajo como louca, eu te respondo que só sou louca na razão de um louco". Eis o tema principal da peça: o choque do direito natural, defendido por Antígona, com o direito positivo (ou seja, legislado), representado por Creonte. A heroína arrisca a vida - e, no final, morre por isso - por estar convicta da existência de um direito anterior, que não se sabe de onde provém, que garante aos mortos - a todos e a qualquer um - um sepultamento digno. É o que se aprende em Direito como sendo a oposição entre o justo e o legal. O primeiro, umbilicalmente ligado à etica, deveria prevalecer sempre sobre o segundo, porque anterior a ele e emanado de uma esfera superior, natural, universal. Há 2.500 anos, Sófocles já mostrava que nenhum governante poderia estar acima da lei.
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
COM DEUS NÃO SE BRINCA?
Hoje à tarde recebi um e-mail de um ex-colega de teatro do Senac, que trazia um link para o You Tube em que ele mostrava - não só para mim, mas para um monte de gente - uma locução que acabara de realizar. Esse meu ex-colega faz uns bicos de locutor. Gostei do trabalho dele e respondi, parabenizando-o. Mas, prestando atenção no texto, que ele me disse depois não ser de sua autoria, não consegui deixar passar. E critiquei violentamente o que se pretendia dizer com aquilo. Era um texto com cunho religioso, bem do tipo que padres e pastores (estes, principalmente) adoram discursar do alto de seus púlpitos dourados. O texto chamava-se "Com Deus Não Se Brinca". É o tipo de ameaça que as religiões cristãs adoram fazer, e que eu detesto e abomino. Essa idiotice de "temer a deus". Ora, se eu fosse religioso, eu procuraria amar deus e não temê-lo. Embora eu ache mais importante o amor entre os homens do que o amor a deus. Mas, como disse, não sou religioso. Em tom ora ameaçador, ora professoral, o texto associava as mortes de John Lennon, Tancredo Neves, Cazuza, Marilyn Monroe, e vários outros famosos, a frases que eles disseram em algum momento de suas vidas em tom de blasfêmia ou meramente jocoso. Como se uma coisa levasse à outra. É muita ingenuidade pensar assim, eu disse ao meu colega. Ora, morrer faz parte da vida. Tancredo Neves, por exemplo, morreu porque era velho e estava muito doente. As pessoas morrem, principalmente se forem velhas e estiverem doentes. É assim que funciona. Em 1966, John Lennon disse que os Beatles eram mais populares que Jesus Cristo. E, naquele momento, no auge da beatlemania, eram mesmo. Aí, no texto, meu colega diz que ele levou cinco tiros de um fã, logo depois. Como assim? Ele foi assassinado por um maníaco (não um fã) em 1980 - portanto, quase 15 anos depois! Fui dizendo ao meu colega, se a gente levar a sério esse jeito de pensar as fatalidades da vida, como se explicaria a morte de Ayrton Senna, por exemplo? Quem lembra dele, sabe que ele era um sujeito religioso, católico, que usava a palavra "deus" o tempo todo, fazia caridade, era querido por todos, etc. Ora, ele morreu num trágico acidente, "logo depois", como todos nós sabemos. De novo: as pessoas morrem, sejam elas boas ou más. Que nós possamos nos amar e respeitar um pouco mais, em vez de perder nosso tempo "temendo a deus" ou seguindo lógicas equivocadas como a desse texto que meu colega narrou.
domingo, 4 de outubro de 2009
FUCK YOU, YOKO ONO
A tarde de hoje foi inteiramente dedicada a uma matéria que eu precisava terminar. Quando é assim, dependendo do que tenho que escrever ou editar, gosto de trabalhar ouvindo música. Deu vontade de ouvir John Lennon, fase pós-Beatles. Adotei o estilo do meu amigo Mário, de Floripa, que costuma ouvir seus discos em ordem cronológica de lançamento. No caso dele, parece que é TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo), já que ele só consegue apreciar desse jeito as centenas de CDs de sua bela discografia de rock nacional. No meu, acho que não, foi frescura mesmo. Ao contrário do Paul McCartney, a carreira-solo do John é curta, por conta de sua morte prematura, aos 40 anos. Tirando as inúmeras coletâneas, os discos ao vivo e os três trabalhos experimentais, absolutamente xaropes, chatérrimos, que ele fez ainda durante os tempos de Beatles, sua discografia de estúdio é assim: "Plastic Ono Band" (1970), "Imagine" (1971), "Some Time in New York City" (1972), "Mind Games" (1973), "Walls and Bridges" (1974), "Rock’n’Roll" (1975), "Double Fantasy" (1980) e "Milk and Honey", lançado postumamente, em 1984. Foi ouvindo os discos assim, em sequência, que pude perceber duas coisas: apesar de curta, é uma carreira brilhante, com duas obras-primas, os dois primeiros, e mais um punhado de grandes canções, espalhadas por todos os outros álbuns. Não há como resistir ao encanto de "Mother", "Working Class Hero", "Love", "God" (para mim, a grande canção de John Lennon, a maior de todas), "Imagine", "Crippled Inside", "Jealous Guy", "Gimme Some Truth", "How?". Tudo isso aí é só dos dois primeiros. E, dos outros, tem ainda: "John Sinclair", "Mind Games", "Whatever Gets You Thru The Night", "#9 Dream", "Nobody Loves You (When You're Down And Out)", "Stand By Me", "(Just Like) Starting Over","Beautiful Boy", "Watching The Wheels", "Woman", "I'm Stepping Out", "Nobody Told Me" e "Borrowed Time".
A outra coisa que notei é que, a partir de 1972, os discos deixaram de ser espetaculares. Continuam tendo bons, ótimos momentos, mas no todo são irregulares. A razão disso tem nome: Yoko Ono. Devo dizer que este nome é impronunciável para muitos beatlemaníacos. O mestre Beto Iannicelli nunca fala o nome dela. Diz que faz mal à saúde. Não sei, mas posso garantir que ouvir a voz de Yoko, o seu "canto", isso sim, faz muito mal à saúde. A acidez no estômago começa já nas suas primeiras intervenções e chega ao ápice quando ela grita, berra, se esgoela, naquela idiotice que os anos 70 conheceram como "grito primal" (primal scream). Yoko consegue destruir pelo menos 1/3 da carreira-solo do John. As canções interpretadas por ela, ou cuja autoria é creditada a ela (pessoalmente, eu duvido que ela tenha composto qualquer coisa; o John compunha e dava para ela cagar em cima), dividem-se em três grupos: ruins, muito ruins ou medonhas. Simplesmente não consigo ouvir a voz dessa mulher. No DVD "Gimme Some Truth", espécie de bastidores das gravações do "Imagine", John está no estúdio com um monte de craques, incluindo George Harrison, e a Yoko lá, metendo o bedelho, falando merda. Dá vontade de vomitar. Considero Yoko Ono, artisticamente, nula, um nada, uma fraude construída sobre a imagem do marido. E o mundo inteiro engoliu. Dia desses, conversando com o meu amigo e bandmate André Santana, ele me lembrou que no livro "Lembranças de Lennon", uma longa entrevista que o John deu para a revista Rolling Stone, a Yoko não parava de dar pitacos - sem noção, como sempre -na conversa dele com o jornalista. Até que, numa certa hora, John não resistiu e mandou um sonoro "fuck you, Yoko". Acho que naquele momento ele falou por muitos de seus admiradores. Por mim, com certeza.
A outra coisa que notei é que, a partir de 1972, os discos deixaram de ser espetaculares. Continuam tendo bons, ótimos momentos, mas no todo são irregulares. A razão disso tem nome: Yoko Ono. Devo dizer que este nome é impronunciável para muitos beatlemaníacos. O mestre Beto Iannicelli nunca fala o nome dela. Diz que faz mal à saúde. Não sei, mas posso garantir que ouvir a voz de Yoko, o seu "canto", isso sim, faz muito mal à saúde. A acidez no estômago começa já nas suas primeiras intervenções e chega ao ápice quando ela grita, berra, se esgoela, naquela idiotice que os anos 70 conheceram como "grito primal" (primal scream). Yoko consegue destruir pelo menos 1/3 da carreira-solo do John. As canções interpretadas por ela, ou cuja autoria é creditada a ela (pessoalmente, eu duvido que ela tenha composto qualquer coisa; o John compunha e dava para ela cagar em cima), dividem-se em três grupos: ruins, muito ruins ou medonhas. Simplesmente não consigo ouvir a voz dessa mulher. No DVD "Gimme Some Truth", espécie de bastidores das gravações do "Imagine", John está no estúdio com um monte de craques, incluindo George Harrison, e a Yoko lá, metendo o bedelho, falando merda. Dá vontade de vomitar. Considero Yoko Ono, artisticamente, nula, um nada, uma fraude construída sobre a imagem do marido. E o mundo inteiro engoliu. Dia desses, conversando com o meu amigo e bandmate André Santana, ele me lembrou que no livro "Lembranças de Lennon", uma longa entrevista que o John deu para a revista Rolling Stone, a Yoko não parava de dar pitacos - sem noção, como sempre -na conversa dele com o jornalista. Até que, numa certa hora, John não resistiu e mandou um sonoro "fuck you, Yoko". Acho que naquele momento ele falou por muitos de seus admiradores. Por mim, com certeza.
sábado, 3 de outubro de 2009
AGORA SAI

(Cenário de uma pequena casa, em estilo japonês. Há apenas dois cômodos: a cozinha e o quarto, ambos apertados, separados por uma porta de correr. Manhã cedo. É inverno e faz muito frio. As janelas da casa estão fechadas. A atmosfera é escura, cinzenta, claustrofóbica. Inácio e Clara acabaram de acordar, e tiraram o dia para arrumar a casa, pois começam a trabalhar no dia seguinte. Ao longo de toda a cena, enquanto conversam, eles estarão abrindo caixas, desempacotando, colocando roupas no armário, etc.)
Eis a rubrica inicial de "Sakurá", minha nova peça. Quer dizer, nova em termos. Ela começou a ser escrita em 2005, ficou engavetada e só no começo deste ano, voltei a ela. Só que aí, em maio, escrevi "Sudatorium" de um fôlego só, apresentei-a numa leitura dramática e, agora, a "peça da sauna", como meus amigos a chamam, deve ser montada no fim do ano. Mas este post é sobre "Sakurá", minha nova (velha) peça. Já falei um pouco dela aqui, num dos primeiros textos que postei aqui nesta bagaça. Gosto muito da história, que trata de um casal de jornalistas que vai morar e trabalhar em Tóquio. "Pouco autobiográfica", diriam, com ironia, meus amigos mais próximos, que sabem da minha experiência japonesa. Nem tanto. Claro, a idéia geral tem tudo a ver, o fato de ser um casal também, mas para por aí. O que acontece na peça não tem uma conexão necessária com a realidade - é ficção. Agora, "ganhei" um prazo para finalizá-la: primeira semana de dezembro. É quando deve ocorrer sua leitura encenada. Uma vez mais, convocarei meus colegas atores para dar vida ao texto, para tirá-lo da folha de papel. Tenho certeza, agora sai.
Eis a rubrica inicial de "Sakurá", minha nova peça. Quer dizer, nova em termos. Ela começou a ser escrita em 2005, ficou engavetada e só no começo deste ano, voltei a ela. Só que aí, em maio, escrevi "Sudatorium" de um fôlego só, apresentei-a numa leitura dramática e, agora, a "peça da sauna", como meus amigos a chamam, deve ser montada no fim do ano. Mas este post é sobre "Sakurá", minha nova (velha) peça. Já falei um pouco dela aqui, num dos primeiros textos que postei aqui nesta bagaça. Gosto muito da história, que trata de um casal de jornalistas que vai morar e trabalhar em Tóquio. "Pouco autobiográfica", diriam, com ironia, meus amigos mais próximos, que sabem da minha experiência japonesa. Nem tanto. Claro, a idéia geral tem tudo a ver, o fato de ser um casal também, mas para por aí. O que acontece na peça não tem uma conexão necessária com a realidade - é ficção. Agora, "ganhei" um prazo para finalizá-la: primeira semana de dezembro. É quando deve ocorrer sua leitura encenada. Uma vez mais, convocarei meus colegas atores para dar vida ao texto, para tirá-lo da folha de papel. Tenho certeza, agora sai.
sábado, 26 de setembro de 2009
“ENDLESS CYCLE”
Adão – Vamos?
Eva – Melhor não.
Adão – Anda.
Eva – Hoje não. Estou com dor de cabeça.
Mulher na rua 1 – Ele morreu ontem.
Mulher na rua 2 – Eu soube. Definhou.
Adão – Quer se fazer de difícil...
Eva – Tudo começou aqui, com essa inocente maçã.
Adão – Começou muito antes.
Eva – Hã?
Adão – Com a minha costela.
Eva – Quê?
Música – “The bias of the father runs on through the son/ and leaves him bothered and bewildered/ the drugs in his veins only cause him to spit/ at the face staring back in the mirror”.
Homem negro – Não consigo esquecer as traições dela.
Padre – Esquece isso, meu filho.
Adão – Você é a minha costela. Você vive por minha causa. Ou por minha culpa.
Eva – Você vai me cobrar isso até quando? Até o fim do mundo?
Homem negro (perturbado) – Ontem entrei no quarto e ela me traía com cem homens.
Padre – Está louco, meu filho. Ouça a palavra de Deus.
Música – “You got to live/ you got to love/ you got to be somebody/ you got to shove/but it’s so hard/ it’s really hard/ sometimes I feel like going down”.
Homem negro – Tenho tido pensamentos estranhos. Uma voz dentro de mim, que me dá ordens. Manda eu pegar a faca. Eu já escondi todas as que tenho em casa. Estou com medo, padre.
Padre – Sua mulher é uma santinha. Ela faz tudo por você, sempre fez. Por você e por seus filhos. Você precisa tirar essas coisas da sua cabeça.
Adão – Você não faz outra coisa a não ser me cobrar.
Eva – Lá vem você de novo com a história da maçã. Eu já esqueci.
Repórter sensacionalista – O que foi, doutor? Estamos ao vivo.
Delegado – Ao que parece, esganadura.
Repórter sensacionalista – Só?
Mulher – Já chegou, meu amor?
Homem negro – Vagabunda!
Música – “I was dreaming of the past/ and my heart was beating fast/ I began to lose control/ I began to lose control/ I didn't mean to hurt you/ I'm sorry that I made you cry/ I didn't want to hurt you/ I'm just a jealous guy.”
Mulher – Você está louco!
Homem negro – Onde estão eles?
Mulher – Eles?
Música – “J'ai fait la saison dans cette boite crânienne/ tes pensées, je les faisais miennes”.
Delegado – Pode colocar aí que, depois de enforcar, ele mutilou o cadáver. Na cabeça.
Repórter sensacionalista – Opa! Vai dar um bom caldo.
Música – “I'm sick and tired of hearing things/ from uptight-short sighted/-narrow minded hypocritics/all I want is the truth/ just give me some truth”.
Filho (descontrolado) – Desgraçado!
Pai – Por que você está assim, meu filho?
Mulher na rua 1 – Foi câncer ou Aids?
Mulher na rua 2 – Desgosto.
Filho – Não me chame assim, seu filho da puta!
Pai – Você pra mim é como um filho!
Mulher na rua 1 – Nunca perdoou o pai.
Mulher na rua 2 – Por não ter contado a verdade.
Filho – Por que você não me contou?
Pai – Eu não queria magoar você!
Mulher na rua 1 – Ele não podia contar.
Mulher na rua 2 – A verdade era dura demais.
Filho – Desgraçado! Eu acabo com você!
Pai – Meu filho, onde você vai?
Música – “How can he tell a good act from the bad/ he can't even remember his name/ how can he do what needs to be done/ when he's a follower not a leader”.
Mulher na rua 1 – O pai legítimo matou a mãe.
Mulher na rua 2 – E depois se matou na cadeia.
Adão – Você, talvez. Mas e os outros? Vão se lembrar disso durante muito tempo, todos os dias de suas miseráveis vidas.
Eva – Esquece isso.
Música – “God is a concept/ by which we measure our pain/ I was the dreamweaver/ but now I’m reborn/ I was a walrus/ but now I’m John/ the dream is over”.
Eva – Melhor não.
Adão – Anda.
Eva – Hoje não. Estou com dor de cabeça.
Mulher na rua 1 – Ele morreu ontem.
Mulher na rua 2 – Eu soube. Definhou.
Adão – Quer se fazer de difícil...
Eva – Tudo começou aqui, com essa inocente maçã.
Adão – Começou muito antes.
Eva – Hã?
Adão – Com a minha costela.
Eva – Quê?
Música – “The bias of the father runs on through the son/ and leaves him bothered and bewildered/ the drugs in his veins only cause him to spit/ at the face staring back in the mirror”.
Homem negro – Não consigo esquecer as traições dela.
Padre – Esquece isso, meu filho.
Adão – Você é a minha costela. Você vive por minha causa. Ou por minha culpa.
Eva – Você vai me cobrar isso até quando? Até o fim do mundo?
Homem negro (perturbado) – Ontem entrei no quarto e ela me traía com cem homens.
Padre – Está louco, meu filho. Ouça a palavra de Deus.
Música – “You got to live/ you got to love/ you got to be somebody/ you got to shove/but it’s so hard/ it’s really hard/ sometimes I feel like going down”.
Homem negro – Tenho tido pensamentos estranhos. Uma voz dentro de mim, que me dá ordens. Manda eu pegar a faca. Eu já escondi todas as que tenho em casa. Estou com medo, padre.
Padre – Sua mulher é uma santinha. Ela faz tudo por você, sempre fez. Por você e por seus filhos. Você precisa tirar essas coisas da sua cabeça.
Adão – Você não faz outra coisa a não ser me cobrar.
Eva – Lá vem você de novo com a história da maçã. Eu já esqueci.
Repórter sensacionalista – O que foi, doutor? Estamos ao vivo.
Delegado – Ao que parece, esganadura.
Repórter sensacionalista – Só?
Mulher – Já chegou, meu amor?
Homem negro – Vagabunda!
Música – “I was dreaming of the past/ and my heart was beating fast/ I began to lose control/ I began to lose control/ I didn't mean to hurt you/ I'm sorry that I made you cry/ I didn't want to hurt you/ I'm just a jealous guy.”
Mulher – Você está louco!
Homem negro – Onde estão eles?
Mulher – Eles?
Música – “J'ai fait la saison dans cette boite crânienne/ tes pensées, je les faisais miennes”.
Delegado – Pode colocar aí que, depois de enforcar, ele mutilou o cadáver. Na cabeça.
Repórter sensacionalista – Opa! Vai dar um bom caldo.
Música – “I'm sick and tired of hearing things/ from uptight-short sighted/-narrow minded hypocritics/all I want is the truth/ just give me some truth”.
Filho (descontrolado) – Desgraçado!
Pai – Por que você está assim, meu filho?
Mulher na rua 1 – Foi câncer ou Aids?
Mulher na rua 2 – Desgosto.
Filho – Não me chame assim, seu filho da puta!
Pai – Você pra mim é como um filho!
Mulher na rua 1 – Nunca perdoou o pai.
Mulher na rua 2 – Por não ter contado a verdade.
Filho – Por que você não me contou?
Pai – Eu não queria magoar você!
Mulher na rua 1 – Ele não podia contar.
Mulher na rua 2 – A verdade era dura demais.
Filho – Desgraçado! Eu acabo com você!
Pai – Meu filho, onde você vai?
Música – “How can he tell a good act from the bad/ he can't even remember his name/ how can he do what needs to be done/ when he's a follower not a leader”.
Mulher na rua 1 – O pai legítimo matou a mãe.
Mulher na rua 2 – E depois se matou na cadeia.
Adão – Você, talvez. Mas e os outros? Vão se lembrar disso durante muito tempo, todos os dias de suas miseráveis vidas.
Eva – Esquece isso.
Música – “God is a concept/ by which we measure our pain/ I was the dreamweaver/ but now I’m reborn/ I was a walrus/ but now I’m John/ the dream is over”.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
UMA ROTINA DIFERENTE
Esses dias de molho têm me imposto uma rotina bem diferente da que eu levava antes do acidente. Nas duas primeiras semanas, tinha que ficar deitado com o pé para cima, sobre um almofadão. Só fiz ler e ver TV. De uma certa forma, foi produtivo, porque finalmente dei cabo de alguns livros que se acumulavam na estante, pedindo a vez, e assisti a uns dez ou doze bons filmes. Sou sócio de uma locadora em que a dona é cinéfila. Ela tem um belo acervo de clássicos e filmes de arte, todos muito bem catalogados e com fichinhas que ela própria confecciona e acrescenta ao encarte do DVD. Meus dias - e, principalmente, noites - de ócio foram preenchidos com as obras monumentais de Bergman, Antonioni, Visconti, Kurosawa e Eastwood. Depois, veio uma semana de trabalho intenso, ainda na cama, mas sentado, com o notebook no colo. Nem preciso dizer que passou voando. Agora, entro na minha quarta semana de recuperação. As novidades são a fisioterapia e a volta aos ensaios - sentado ou de muletas. As duas peças que estou fazendo já têm estreia marcada: uma em novembro, outra em dezembro. Falarei delas mais para frente. Agora digo apenas que estou feliz por estar de volta a uma atividade de que gosto muito e da qual senti uma falta imensa nesses dias em que fiquei parado. O pé está melhorando a cada dia. Com os exercícios da fisioterapia, os movimentos estão voltando, ainda que com alguma dor (o que é normal). Só saio de casa para ir a três lugares: ensaios, hospital (para os retornos) e fisioterapia. Essa reclusão forçada me fez pensar em como não damos muito valor a certas coisas que, de tão naturais, são quase desprezadas. Refiro-me ao ato de andar. O que há um mês era algo em que eu não pensava, agora é o que eu mais desejo. Simplesmente por os pés (os dois, vejam bem) no chão e sair por aí. Sempre gostei de andar. Passei a gostar ainda mais quando morei no Japão. Foi um hábito que não perdi na volta ao Brasil - já disse, num post antigo, que eu aprendi a contemplar no Japão, mas isso infelizmente ficou por lá. Sei que ainda tenho algumas semanas pela frente nesta situação. Até que está passando rápido, para falar a verdade. Mas tem horas que a vontade é simplesmente pular da cama e sair andando.
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
MINHA BOTA ROBOCOP
Hoje à tarde, tirei os pontos e o gesso. Estou usando aquela bota que parece o pé do Robocop. O médico disse que a fratura colou bem e os dois cortes fecharam. Tudo perfeito. Portanto, o pior passou. Essas duas primeiras semanas não foram bolinho. A primeira, por causa da dor. A última, mais pela limitação do movimento, pelo fato de estar em casa o tempo todo, sem poder por o nariz pra fora. Agora, com um pouco de paciência, tudo vai voltando ao normal. Mas já deu para tirar algumas lições disso tudo. A primeira é sobre o tempo, como se relacionar com ele. Já falei sobre isso num post passado. Uma outra é sobre como entrar em cena. Quebrei o pé num ensaio. Foi um dia confuso, com atividades importantes nos três períodos, de manhã, de tarde e à noite. Praticamente sem intervalos entre elas. Cheguei atrasado ao ensaio da tarde e, numa vã tentativa de compensar isso, já fui entrando em cena, sem me aquecer, sem me concentrar, sem abandonar a energia "da rua" e trocar pela energia da cena, do teatro. Foi a primeira e a última vez que agi assim. Nunca mais faço isso. É claro que não foi especificamente isso que me fez quebrar o pé, mas com certeza contou. Estou certo disso. Foi uma lição. Estamos sempre aprendendo, não importa a idade. Hoje à noite, voltei ao ensaio de "Os Gigantes da Montanha", após duas semanas. Já dá pra enxergar uma peça ali. Agora preciso correr atrás. Com a bota Robocop, minha nova companheira.
domingo, 13 de setembro de 2009
LUDOPÉDIO
Não costumo falar muito sobre futebol aqui neste espaço. Acho que, desde quando comecei com esta bagaça, falei só uma vez, sobre o Kaká. E nem foi, na verdade, sobre futebol. Naquela ocasião, eu cobrava do grande craque brasileiro uma postura mais responsável quando se manifestava sobre a Igreja Renascer, gangue da qual faz parte, de uma forma ou de outra. Mas não é sobre isso que vou falar hoje. Nesses dias de molho, por causa do meu pé quebrado, entre dois fechamentos corridos (trabalho sentado na cama, com o notebook no colo), algumas leituras e uma dezena de filmes (reassisti aos espetaculares "Os Imperdoáveis" e "Morangos Silvestres"), encontrei tempo para o futebol. Mais especificamente para a seleção brasileira, na reta final de preparação rumo à Copa do Mundo. Sempre gostei muito de futebol e jogava relativamente bem, até me aposentar - na verdade, a modéstia me impede de dizer mais, de como eu tratava a bola com fineza, habilidade, intimidade, um verdadeiro estilista. Na infância e na primeira parte da adolescência, era um fanático. Jogava futebol todos os dias, sem falhar um. Era na escola, no clube, na rua (naquela época, anos 70, isso era perfeitamente possível numa rua de Pinheiros, bairro onde moro até hoje), na igreja em frente ao meu prédio (era de mórmons e eu tinha que me segurar para não falar uns sonoros palavrões, o que era proibido). Depois, fui pegando birra de algumas coisas no futebol. Paradoxalmente, a primeira delas é o fanatismo. Abomino torcidas organizadas. O nome, na realidade, é um eufemismo. Trata-se de hordas de animais, vândalos, bandidos que se juntam para praticar crimes. Há uns 10 anos, mais ou menos, na saída de um estádio, assisti a uma cena deplorável: cinco ou seis "torcedores" uniformizados cercaram um senhor de meia idade e o fizeram, debaixo de porrada, tirar a camisa de seu time. Tudo isso na frente do filho, que via tudo aterrorizado. Desde esse dia, prometi que nunca mais pisaria num estádio. Pelo menos até o dia em que não restasse mais nenhuma torcida organizada neste país. Portanto, ir a jogos de futebol é algo que está fora das minhas opções de lazer já há algum tempo. Prefiro a versão amigos + cerveja, na casa de alguém ou num boteco com TV. (Mas não curto esses bares temáticos com telão, acho muito mauricinho e não me simpatizo com a frequência.) Tudo isso pra dizer que me ocupei, nesses dias de estaleiro, a pensar na seleção brasileira. E como todo brasileiro é um técnico, e eu sou brasileiro, logo... Se o Dunga for esperto (e, embora arrogante, acho que ele é), o escrete que vai à Copa é o seguinte:
Goleiros: Júlio César (The Wall), Doni e Qualquer Um - O terceiro é absolutamente irrelevante.
Zagueiros: Lúcio, Luisão, Miranda (craque) e Juan (se tiver perna).
Alas: Daniel Alves, André Santos, Maicon e Kléber.
Meio-campistas: Gilberto Silva, Felipe Melo, Elano, Kaká (O Maestro), Julio Baptista, Hernanes (craque). Ainda sobra uma vaga, para um primeiro-volante, mais defensivo.
Atacantes: Robinho (é uma fraude, mas ainda não descobriram), Luis Fabiano (o dono da 9), Adriano (se fizer merda fora de campo, como costuma fazer, pode perder a vaga para o Ronaldo Gordo) e Nilmar (outro craque, como há muito venho dizendo). Reparem que enganadores como Ronaldinho Gaúcho e Alexandre Pato não têm lugar aqui.
O time titular:
1 - Júlio César
2 - Daniel Alves (Maicon)
3 - Lúcio
4 - Luisão
6 - André Santos
5 - Gilberto Silva
8 - Felipe Melo
7 - Elano (Daniel Alves - gostei desse formato)
10 - Kaká
9 - Luis Fabiano
11 - Robinho (não sei se consegue enganar até a Copa, deve perder a posição para o Nilmar que, repito, come a bola).
Não é a oitava maravilha, mas dá pra trazer o caneco. É isso.
Goleiros: Júlio César (The Wall), Doni e Qualquer Um - O terceiro é absolutamente irrelevante.
Zagueiros: Lúcio, Luisão, Miranda (craque) e Juan (se tiver perna).
Alas: Daniel Alves, André Santos, Maicon e Kléber.
Meio-campistas: Gilberto Silva, Felipe Melo, Elano, Kaká (O Maestro), Julio Baptista, Hernanes (craque). Ainda sobra uma vaga, para um primeiro-volante, mais defensivo.
Atacantes: Robinho (é uma fraude, mas ainda não descobriram), Luis Fabiano (o dono da 9), Adriano (se fizer merda fora de campo, como costuma fazer, pode perder a vaga para o Ronaldo Gordo) e Nilmar (outro craque, como há muito venho dizendo). Reparem que enganadores como Ronaldinho Gaúcho e Alexandre Pato não têm lugar aqui.
O time titular:
1 - Júlio César
2 - Daniel Alves (Maicon)
3 - Lúcio
4 - Luisão
6 - André Santos
5 - Gilberto Silva
8 - Felipe Melo
7 - Elano (Daniel Alves - gostei desse formato)
10 - Kaká
9 - Luis Fabiano
11 - Robinho (não sei se consegue enganar até a Copa, deve perder a posição para o Nilmar que, repito, come a bola).
Não é a oitava maravilha, mas dá pra trazer o caneco. É isso.
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
SOBRE O TEMPO
Continuo aqui, direto do quarto (opa!), de molho, com o pé pra cima. Na segunda, completam duas semanas da fratura. Está bem melhor, desinchou, dói menos. Os pinos, metidos, às vezes insistem em se fazer notar. E eu sinto na pele - ou embaixo dela. Agora, o que pega mesmo é essa limitação de movimento. Coisas banais, como comer ou tomar banho, merecem toda uma logística. E o dobro do tempo. Engraçada, essa coisa do tempo. Faz alguns anos que eu venho tirando o pé do acelerador. Planejando menos, fazendo menos coisas num mesmo espaço de tempo, reduzindo metas, eliminando outras. Quando se tem 20 anos, a ideia é fazer, fazer, cada vez mais. Acho que, depois, na virada dos 40, importa menos a quantidade, e mais a qualidade do que se faz. Menos é mais. Lembro de um filme que assisti, em que o personagem vivido pelo extraordinário Micheal Caine, um velho escritor, ganhador do Pulitzer, acometido de um câncer terminal, dizia para o filho de meia-idade (Nicholas Cage), que vivia a vida no estilo "tudoaomesmotempoagora", que a uma certa altura da vida o negócio é começar a tirar projetos da frente, desistir de algumas coisas, priorizar outras. O filme não tem nada de mais, mas esta cena nunca mais saiu da minha cabeça, pai e filho conversando dentro do carro, e uma tempestade caindo do lado de fora. Concordo totalmente. Desde meus 17, 18 anos, venho listando coisas para fazer, dos mais variados gêneros. Realizei, de fato, uma boa parte delas. Mas uma outra (boa) parte da lista restou intocada. E essas coisas não realizadas ficavam na minha cabeça, gerando algum desconforto, algo como "ei, estou aqui, tá?". Mais ou menos na época do filme, já pensava: "por que ainda tenho que fazer isso? Não tenho que fazer isso porra nenhuma, oras". E fui desistindo de um monte de coisas, que hoje não me fazem nenhuma falta. Tenho uma certa pena de gente já idosa que ainda corre atrás do tempo. Tá certo que é difícil ter uma velhice tranquila num país de merda como o Brasil, em que a aposentadoria pública é uma piada. Quem não tem um plano complementar, privado, raramente consegue se aposentar sem ter que continuar trabalhando, mesmo que seja (e normalmente é) no mercado informal. Quando morei no Japão vi o que é uma velhice suave, leve. Não é à toa que lá se chega fácil aos 100 anos. Na época, eu brincava (?) com meus amigos que iria morrer no Japão. Quando chegasse a uns 70 anos me mudaria para uma cidade como Kyoto e passaria lá os meus derradeiros momentos de vida. É que lá essa coisa do tempo é ainda mais maluca. Você está no centro de Tóquio e a imagem futurista é aquela loucura que todo mundo conhece, milhares de pessoas correndo de um lado para outro feito formigas (para onde vão?), luzes por todos os lados, etc. etc. Aí você pega o trem ou o metrô, anda duas ou três estações e cai num bairro como o que eu morava, que parece uma cidade do interior. Eu, na verdade, até destoava dos moradores de lá, na maioria jovens casais com filhos pequenos, sempre no carrinho, ou soltos pela rua, brincando nos inúmeros parques, ou velhinhos e velhinhas passeando, nunca de mãos dadas (é Japão), ou então, costas curvadas, cuidando do jardim. Para eles, o tempo é outro. Não corre. Não passa. E, por isso, eles vivem (não apenas sobrevivem). E duram.
domingo, 6 de setembro de 2009
A HORA DA PACIÊNCIA
Estou de molho, na cama, com o meu recém-adquirido notebook no colo, digitando este post depois de alguns dias sem dar as caras por aqui. Há uma semana, mais exatamente na segunda 31/08, quebrei o pé. Foi de um jeito bobo, como costumam ser esses acidentes. Estava ensaiando a peça "Destinos", na antiga Escola das Meninas, uma casa abandonada, em ruínas, na Vila Maria Zélia. Pisei em falso, escorreguei, meu corpo todo foi para um lado e o pé ficou. Resultado: três fraturas. Ganhei de presente nove pinos e uma placa de aço, que fazem questão de serem sentidos a cada minuto. Nos primeiros dias, as dores eram atrozes. Agora diminuíram um pouco. Os meus amigos do Grupo XIX, com quem ensaio a peça, foram de um carinho e preocupação absurdos. Ficaram comigo no hospital, ligaram, mandaram e-mails. O Victor disse que eu levei muito a sério aquela história de "quebre uma perna", que se costuma dizer antes de entrar em cena. E o Fabião mandou uma mensagem que me emocionou. Um texto do Rilke, que diz que o tempo do artista é outro, que não pode ser visto como mera unidade de medida. Nas próximas semanas ou meses, a noção de tempo vai mudar para mim. Tudo agora é feito lentamente. Meu pé, por enquanto, não pode encostar no chão. Atos banais, como tomar banho ou escovar os dentes, merecem agora toda uma logística. Tenho muito trabalho pela frente e uma série de compromissos a cumprir. Vou cumpri-los, mas talvez de um jeito diferente do que estava previsto. As duas peças que estou ensaiando, "Destinos" e "Os Gigantes da Montanha", têm estreia marcada para novembro. Até lá espero estar totalmente recuperado, pisando direitinho. A palavra agora é uma só: "paciência".
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