sexta-feira, 27 de março de 2009

ELIANA TRANCHESI

Estou no meio de um interessante debate no Facebook. Tudo começou quando uma amiga minha postou: “Free Eliana Tranchesi”. Fiquei surpreso não só com o post, mas também (e principalmente) pela reação imediata. Umas 15 pessoas “curtiram isso” – termo usado no Facebook para demonstrar concordância. Mais umas 10 comentaram, achando um absurdo a prisão. Continuei estranhando e resolvi postar: “Free? Por que?” A partir daí começou o debate (de ideias, em alto nível, pelo menos até agora). Quero reproduzir aqui o que já foi escrito lá. Vou omitir os nomes dos debatedores. Chamarei apenas de “Debatedor 1”, “Debatedor 2” e assim por diante.
Debatedor 1 – “Free sim! Por que (sic) essa prisão é encenação de fundo político, assim como as dos diretores da Camargo Correa. É tudo uma disputa interna da Justiça. E dessa vez, são os empresários os bodes expiatórios. Esse é um caso jurídico que pode muito bem ser resolvido com multas e reparações. A prisão visa atrair holofotes e turvar a opinião pública. Caso clássico (e triste) de manipulação do povo. Não caia nessa.”
Eu – "São casos diferentes. A prisão dos diretores da Camargo Correa é preventiva, porque ainda não houve julgamento. Eles ainda estão sendo investigados. Tiveram a prisão decretada para evitar que fujam – o que é comum nesses casos. Basta os advogados entregarem seus passaportes que eles serão soltos na hora. O caso da Eliana é outro. Ela foi julgada e condenada em primeira instância. A única discussão jurídica possível aqui é se ela deve ou não esperar o julgamento do seu recurso em liberdade. Já há uma enxurrada de habeas corpus pedindo sua liberação. Concordo que esse tipo de crime – que é patrimonial e não envolve violência – não deve ser tratado com cadeia. Até porque ela não resolve. Deveria haver um meio de a Justiça invadir o patrimônio do condenado e devolver aos cofres públicos exatamente o valor que foi surrupiado. Isso num mundo ideal. No Brasil atual, a pena para sonegação fiscal (um dos crimes praticados por Eliana) é cadeia. Não cumpri-la é eternizar a sensação de impunidade que toma conta do país."
Debatedor 2 – “com cancer ha q ter misericordia. tem muita coisa pior, mais dificil, eu sei. mas a vida eh como eh. e nesse caso isso eh fato. nao eh facil. qq um seria mandado p um hospital. ja viveu isso? uma metastase eh fim de vida. pense nisso... carandiru dois dias apos quimio eh muito. para qq ser humano. de qq parte da piramide. juro q acho.” (sic geral)
Eu – "A lei prevê que, em caso de doença grave, é possível aguardar o julgamento cumprindo pena domiciliar, em casa. É provável que isso aconteça com a Eliana. Eu até acho justo. Engraçado, quando penso em misericórdia, me vem à cabeça a imagem de uma legião de gente presa, amontoada, num esgoto (que chamam de cadeia). Gente pobre, feia, malcheirosa, doente (Aids, sífilis, tuberculose), sem dinheiro para pagar advogado. Gente esquecida. Por todos. Eliana e os caras da Camargo Correa – assim como Maluf, Naji Nahas, Collor, anões do Orçamento, etc. etc. – são um tipo de bandido que seduz. São bem vestidos, perfumados, comem bem e bebem os melhores vinhos. Estão sempre na alta roda. Seu estilo de vida atrai. Mas são escória. Gente da pior espécie. Eliana e sua gangue sonegaram 1 bilhão de reais em impostos. Dinheiro que poderia financiar escolas e hospitais. Dinheiro que poderia salvar vidas de gente, olha só, com câncer – mas que morre em hospitais públicos. Dessa gente eu tenho misericórdia."
Por enquanto, está nesse pé.

6 comentários:

Fernanda disse...

Muito interessante os comentários. Assuntos polêmicos devem ser pensados, debatidos e postados. Também fiz minha crítica ao Folhateen de segunda-feira passada (23/3)sobre a substituição da digitação pela escrita manual. Sairá na segunda-feira,dia 30. Esses são os meios pelos quais nos manifestarmos.
Bj.
Fernanda

Anônimo disse...

'Não represento perigo para a sociedade', argumentou a Tranchesi, digna representante de uma elite cínica que não está nem aí para as desigualdades sociais. Prisão é só para assassinos, estupradores e sequestradores? Roubar e sonegar não merecem prisão? Que ela e seus comparsas acertem contas com a Justiça. E que seus patrimônios, construídos ilicitamente, sejam reduzidos a zero.

casacollectsp.blogspot.com.br disse...

Pois é...eu realmente acho que a justiça, ou melhor, que o conjunto de regras, leis, serve para organizar o caos, ajustar e reparar.Este mês levei meu filho ao médico e a pergunta da scretária, após passar em consulta foi:

A senhora precisa de recibo?
ou seja;
Posso sonegar?

Ouvi de uma médica outro dia, "somos os maiores sonegadores".

Eu mesma passo por isso as vezes, quando meu cliente abre mão da nota fiscal, eu aceito.
É muito difícil ser correta em tudo, é cansativo, é complicado, é caro.
Roubar dinheiro público é como matar muitas pessoas,acho gravíssimo sim.Quando o dinheiro chega aos cofres públicos eles mesmos, os políticos, tratam de sumir com ele, ou usálo de forma inadequada.
Ser ou não ser?

Palavra Criada disse...

Tranchesi trancada. Tratada e très-chic, trocava travellers. Triste e travada, troca tormentos.

Unknown disse...

Minha posição está representada neste Editorial
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090328/not_imp346145,0.php

Paulo Cunha disse...

A todos, obrigado pela visita.

Fernanda, vou ler sua crítica no Folhateen.

Mané, há quanto tempo! Sua presença aqui é uma satisfação pra mim. Mas minha posição é diametralmente oposta ao editorial que você postou.

Abraços, beijos,
PC