sexta-feira, 24 de abril de 2009

TOCANDO AS NUVENS


Sete horas da manhã de 7 de agosto de 1974, uma prosaica quarta-feira. Um homem decide "fazer algo realmente bonito". Enquanto Nova York acordava, o francês Philippe Petit equilibrava-se num cabo de aço, ligado às torres do World Trade Center. Todo vestido de preto, carregava uma vara de contrapeso - e nada mais. Não tinha nenhuma corda amarrada em sua cintura, não havia nenhuma rede de proteção ou coisa parecida para impedir sua queda, nada. Aos olhos de qualquer um, era um passo rumo à morte certa. Anos antes, Petit estava no dentista e, enquanto aguardava sua consulta, folheava uma revista. Ao ver uma foto do projeto das Torres Gêmeas, ficou chapado. Jovem equilibrista autodidata, "sonhava em conquistar nem tanto o universo, mas, como um poeta, os belos palcos", como costumava dizer. E lá estava o WCT, o mais belo entre todos os palcos. O curioso é que ele já tinha um sonho, uma meta, e o objeto desse sonho não havia ainda se materializado. A idéia virou uma obsessão. Enquanto o WCT era construído, Petit começou a praticar intensamente, já simulando a empreitada. Nesse meio tempo, atravessou as torres da catedral de Notre-Dame, em Paris, e a Ponte de Sydney - como treino, um ensaio para o que estava por vir. Nada se comparava à travessia do WCT. Era uma altura de 440 metros, em queda livre. E Petit atravessou. Não uma vez, mas oito - foi e voltou oito vezes. Ficou lá em cima, sozinho, durante 45 minutos. Com exceção dos dois primeiros passos na corda, tensos, esteve todo o tempo com um sorriso no rosto. Era como se experimentasse um transe. Caminhava concentrado, mas com semblante tranqüilo. Às vezes, parava e deitava (!) no cabo. Num momento belíssimo, ajoelhou-se e agradeceu. Embaixo, na rua, as pessoas não acreditavam no que viam. Aplaudiam, gritavam, fotografavam, filmavam e se emocionavam - choravam de verdade. A história toda está no espetacular documentário "O Equilibrista", em cartaz em São Paulo. E, agora, lembrando das cenas do filme, sentado confortavelmente na frente do computador, na segurança (?) do meu quarto, eu penso se ainda é possível tocar as nuvens sem tirar os pés do chão.

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